Cunha e Silva Filho


                  É bom sonhar, ser utópico, sensível às verdades cristalinas? Sim, é bom e é conveniente em algumas situações de grande risco, de estados sociais absurdos e de desagregação da normalidade necessária à vida dos indivíduos. Quando forças do governo da Síria se debandam e se aliam aos descontentes, os chamados rebeldes comuns contra os atos de crueldade do ditador Basha al-Assad, no governo desde 2000, sucedendo ao pai, Hafez Assad é porque a situação de colapso institucional chegou ao ápice da ingovernabilidade. Definindo-se como República Parlamentar, a Síria, a meu ver, de República só tem o nome. 
               Diariamente, o noticiário internacional tem mostrado o quanto é preocupante o que está ocorrendo nesse país. Até mesmo os agentes de monitoramento da Liga Árabe já desistiram de permanecer neste barril de pólvora. Não se concebe por que a ONU, através do seu Conselho de Segurança, não foi enérgica o suficiente para dar início à derrubada do ditador genocida. São dezenas de mortes (estatisticamaente, mais de cinco mil mortos em poucos meses!) de inocentes vítimas do massacre do ditador. 
           O país – é certo – está dividido, visto que parte da população, provavelmente os apaniguados do ditador, está ainda dando integral apoio a ele, o que é lastimável . Como um povo pode se dividir em favor da matança de inocentes, incluindo crianças, jovens e adultos civis, e virar as constas para a oposição que não sucumbiu à selvageria instalada no governo de um criminoso, digno de ir para os tribunais internacional a fim de ser julgado e condenado pelo genocídio que está dizimando o povo sírio. Não só a ONU tem que intervir, mas todos os povos do mundo que respeitam as liberdades democráticas e o destino livre das nações.
            Não é possível que a História se repita nos países que ainda se dividem em guerra civil quando a consciência da sua voz interior e profunda dos espíritos lhes acena para a única ação de justiça, que é a união entre irmãos da mesma pátria. Um a das guerras mais cruéis é a civil, na qual a própria nação, sua identidade, sua unidade territorial, rompem-se ao meio, num conflito inconcebível de derramamento de sangue entre cidadãos do mesmo berço,da mesma língua, dos mesmos costumes, da mesma cultura. Assim foi nos Estados Unidos com a Guerra da Secessão, na China comunista, na Rússia czarista, na Guerra Civil espanhola de Franco.
          O Brasil não tem dado nenhum sinal de apoio aos oposicionistas que estão sendo assassinados em Damasco e nas outras regiões do país. Aqui se faz, aqui se paga.  "Não há mal que sempre dure". O ditador tem seus dias contados. Não há impunidade perene para os malvados e os criminosos. 
         Os organismos internacionais não podem cruzar os braços e demonstrar indiferença pelos destino da Síria. Sua população que aspira à paz e à liberdade pede socorro ao mundo democrático. Se os países poderosos econômica e belicamente não se unirem em defesa dos sírios diariamente assassinados por tropas do governo autoritário, não sei o que será desse país. A “Primavera Árabe” não foi um insurreição autoritária e com intenções golpistas. Ela nasceu de uma profunda necessidade de rebelião de fracos contra a prepotência, de fracos contra a ausência da liberdade, os direitos humanos e civis, a vontade de um povo de tomar o seu caminho em direção à paz e à dignidade individual.
       Todos os autocratas têm seu tempo de isolamento, ostracismo e muitas vezes execração pública, punição legal em tribunais internacionais ou senão vítimas de assasínios numa espécie de punição com as próprias mãos. 
       Os ditadores se tornam cegos diante das justas indignações do povo e por isso dão as costas para os graves problemas da nação, para os sofrimentos do seu povo. Cegos ficam por ambição desmedida de eternizar-se no poder, nas regalias, nas riquezas, na fruição que sente pelos afagos dos áulicos palacianos que aceitam todas as sua vontades e caprichos, mesmo os de natureza mais abominável. Por esta razão deixam de auscultar os gritos dos oprimidos e humilhados.

       Os ditadores têm sempre uma desculpa esfarrapada para despistar as reais reivindicações das massas. Se sentem acima do bem e do mal, consideram-se reis, monarcas por escolha divina. Perdem, assim, sua noção de justiça, de amor, de fraternidade. Viram déspotas, terroristas públicos, covardes e insensíveis à dor alheia. Seu único alvo: a manutenção do poder que não quer dividir com ninguém. É mais do que hora de desapear o carrasco do fausto e do poder ilegítimo. Que prevaleça a vontade soberana do povo sírio. É o que espero de todos os homens de bem no mundo.