De Vila Real, em Trás-os-Montes e Alto Douro para o vale do rio Piauí: gênese da família Miranda

       Reginaldo Miranda[1]

 

  1. Vila Real: formação histórica e social da cidade

A Península Ibérica foi habitada desde o período paleolítico, conforme revelam alguns indícios, sendo os iberos considerados originários da região, onde miscigenaram a partir do século X a.C., com os invasores celtas, formando os celtiberos. Dentre esses últimos se destacaram os lusitanos, habitando a região ocidental da península, basicamente o atual território de Portugal, formando assim a identidade cultural e principal matriz étnica da nação. Por volta do ano 194 a.C., a região foi dominada pelos romanos, depois de vencerem os lusitanos sob a liderança do destemido herói Viriato, impondo a religião cristã e o idioma[2]. No norte do atual território de Portugal, os romanos construíram o Santuário Rupestre de Panóias, entre o final do século II e início do século III da era cristã. No entanto, ruiu o Império Romano por volta dos séculos IV e V, com a invasão dos povos germânicos: suevos, alamanos, vândalos e visigodos[3]. No ano 711, a região foi dominada pelos mouros, que permaneceram até o final do século XI, quando houve a reconquista e formação da nação portuguesa. Grosso modo, pode-se dizer que o português traz na massa do sangue a contribuição genética de todos esses povos; e nós brasileiros, descendentes dos primeiros conquistadores do sertão, trazemos a contribuição de todos esses povos, acrescida de muitos outros da América e dos trazidos da costa africana, num caldeamento genético muito variado.

Pois bem, a primeira tentativa de organização administrativa da Terra de Panóias, no norte de Portugal, data do ano 1096, com o foral de Constantim de Panóias, outorgado pelo conde D. Henrique[4] e sede na povoação de Constantim, nos arredores de Panóias, onde existia uma animada feira.

No entanto, não prosperou esta localidade sendo fundada nas margens do rio Corgo, afluente do Douro, em 4 de janeiro de 1289, por foral de D. Dinis, a pobra de Vila Real de Panóias, sendo este o marco inicial de fundação do lugar[5]. A denominação deriva da explícita proteção d’el rei, acrescida do nome da velha Panóias, depois preponderando apenas a homenagem real. Assim, nascia a nova povoação com a missão de agregar a população dispersa da Terra de Panóias, entre a serra do Marão e o rio Tua, e ser cabeça administrativa daquele distrito. Este rei passou nova carta foral em 24 de fevereiro de 1293, alterando substancialmente a anterior e, por fim, o rei D. Manuel[6] outorgou-lhe novo foral em 1512, como fizera ao restante dos concelhos portugueses. Desde seu princípio os moradores do concelho elegiam dois juízes ordinários entre os homens-bons do lugar, com jurisdição em toda a Terra de Panóias, nos lugares onde a exercia o rei. Foram esses substituídos a partir do século XVII, por um juiz de fora nomeado diretamente pelo rei. Continuaram a serem eleitos pelo povo os vereadores e o procurador do concelho, “mas a eleição era de tal modo controlada (‘limpa’, assim se dizia na linguagem setecentista), que apenas servia para formalmente sancionar a eternização de algumas famílias nobres na governança local. Por outro lado, embora os forais dionisíacos estabelecessem que os ricos-homens não podiam instalar-se na vila e seu termo, a verdade é que, desde o século XIV, na sequência, por ventura, da nomeação do primeiro alcaide, ‘pessoas grandes e poderosas’, receberam diplomas régios para se acolherem com suas gentes a Vila Real. E, logo nos inícios do século XV, Vila Real foi concedida a D. Pedro de Meneses[7], que terá sido o primeiro conde[8] deste burgo. O número dos fidalgos, nobres ou enobrecidos não deixou, com o tempo, de aumentar, sobretudo a partir do século XVIII com o desenvolvimento da cultura da vinha e do comércio do vinho do Porto. Certamente que se trata de uma nobreza regional, provinciana, de origens humildes, cuja notoriedade, forçoso é confessá-lo, salvo num ou noutro caso, nunca ultrapassou as faldas do Marão”[9].

O conceito acima foi emitido pelo vila-realense Fernando Sousa, em conferência comemorativa dos setecentos anos de fundação de sua terra, acrescentando que “a maior parte dos fidalgos de Vila Real não passavam de modestos morgados, vivendo em solares que, salvo uma ou outra exceção, caso fossem desprovidos dos seus brasões, ficariam reduzidos às proporções de casas modestas”. Arremata o conferencista: “Seja como for, Vila Real, que desde as suas origens sentiu a influência de famílias poderosas, e que, no século XV se transformou num domínio senhorial, reflete bem, nos séculos XVII e XVIII, quer ao nível da organização político-administrativa, quer ao nível social, uma poderosa matriz aristocrática. A fraqueza da sua burguesia, por um lado, a reduzida mobilidade social que se fazia sentir num concelho profundamente rural, por outro lado, contribuíram poderosamente para que a nobreza, grupo relativamente homogêneo, cujos membros se encontravam ligados entre si por fortes laços de parentesco, dominasse, incontestavelmente, a sociedade vila-realense. Domínio que essa nobreza avarenta preservava, chamando a si, por direito próprio, os cargos mais importantes da vida pública, em geral, transmitidos hereditariamente”.

Portanto, percebe-se que os cargos públicos em Vila Real eram exercidos por uma casta nobre ou enobrecida, cujos recursos advinham da cultura dos vinhedos e do fabrico do vinho, além das benesses do poder; que dadas as poucas famílias existentes no pequeno burgo, com baixa mobilidade geográfica, existiam muitas relações matrimoniais endogâmicas, assim estabelecendo e reforçando os laços de parentesco entre as mesmas e poucas famílias consideradas nobres, que monopolizavam as eleições e a ocupação dos cargos públicos eletivos ou de nomeação real.

Foi fundado o burgo de Vila Real num pequeno planalto[10] entre dois vales profundos onde confluem dois cursos d’água, os rios Corgo e Cabril, possuindo assim posição estratégica do ponto de vista de defesa militar. Porém, desde cedo salientou-se sob o ponto de vista comercial como ponto de contato entre a litorânea cidade do Porto e as vilas de Chaves, Mirandela e Bragança, no interior trasmontano. No início do século XIV, foi construída a pequena igreja de S. Dinis, que com o tempo tornou-se exígua. O mosteiro de S. Domingos, nos arrabaldes da vila, teve sua construção iniciada em 1424. A igreja de São Pedro foi construída em 1528, localizada numa das extremidades da vila, a qual deu nome à nova freguesia então criada[11]. Nesse mesmo ano foi iniciada a construção da igreja e Casa da Misericórdia, assim como levantou-se o cruzeiro de pedra com os respectivos degraus, no largo do Cabo da Vila. Por esse tempo ainda era pequena a população do lugar, apenas 478 habitantes contabilizados em 1530. “Ainda no século XVI, foram construídas, no Monte Calvário, a via sacra e as capelas de S. Sebastião (1528) e Santo Antônio (1535), o palácio dos marqueses de Vila Real, no Campo do Tabolado, a nova casa do alcaide-mor da vila, até então localizada sobre as portas principais da vila velha, o pelourinho do município, levantado na rua da Praça, o convento de S. Francisco, numa das extremidades da vila, e um monumental cruzeiro lançado no Campo do Tabolado. Nos inícios do século XVII, Vila Real foi dotada com uma nova casa religiosa, o convento de Santa Clara, localizado no Campo do Tabolado, com a igreja de S. Paulo, e com a capela do Bom Jesus, no Monte Calvário”[12].

Com essas construções, ressalta o citado escritor, estavam erguidos “todos os elementos que se vão transformar nos símbolos de referência do burgo, do seu tempo histórico, e determinar os itinerários tradicionais das cerimônias religiosas e laicas, que em rituais imutáveis celebram os acontecimentos mais importantes da vida nacional e da comunidade – a igreja de S. Dinis, de onde saíam as procissões da vila, o pelourinho da rua da Praça, a cruz do Cabo da Vila e o cruzeiro do Campo do Tabolado (monumentos onde sempre tinham lugar a aclamação dos príncipes, quando subiam ao trono, e a quebra dos escudos, por sua morte), a igreja de S. Pedro e a capela do Bom Jesus, no Monte Calvário, onde, respectivamente, começava e terminava a Via Sacra, e, finalmente, a igreja de S. Paulo e a Sé de Vila Real, o templo da liturgia e do culto divino por excelência. Por outro lado, Vila Real, após a construção dos mosteiros de S. Francisco e de Santa Clara, localizados nos seus confins, apresenta definido, também, o quadro urbano que a irá caracterizar nos séculos XVII e XVIII”[13].

“A maioria esmagadora dos seus habitantes era formada por comerciantes, artistas mecânicos, gente de serviços, proprietários e nobres, que conferiam uma fisionomia própria ao burgo, o qual, não deixava de refletir, na orgânica espacial, a própria sociedade de ordens, hierarquizada, do antigo Regime.

‘Assim, no centro do burgo, formado pela Praça Velha e o Campo do Tabolado, encerrando a área de prestígio e do poder, com a mesma determinação com que zelam pelas suas posições e pela integridade dos seus privilégios, nobreza.

‘Em seu redor, concentrados nos largos da rua da Praça e do Cabo da Vila, e na Rua Direita, ou dispersos por outras ruas, os comerciantes e os oficiais de justiça.

‘Finalmente, no arrabalde, vivendo em bairros, o grupo social mais humilde, constituído pelos artistas mecânicos e pelos escassos lavradores que fazem parte da vila – junto dos quais, aliás, desde o século XVI, se instalaram os franciscanos, ou seja, os membros da ordem religiosa tradicionalmente mais ligada ao povo.

‘Na vila, coexistem, pois, homens de todas as ordens e categorias sociais. Se não há segregação, também não existe intimidade e, muito menos, promiscuidade na repartição espacial dos seus habitantes”[14]

Arremata o esforçado estudioso da história de Vila Real, que “à estratificação vertical da sociedade correspondia assim uma estratificação horizontal do espaço... como se a elaboração mental da vila mais não fosse que uma emanação da harmonia e da ordem que informavam a sociedade”[15].

No período que cumpre ressaltar, que são os quatro séculos iniciais de existência do lugar, informamos que a vila possuía apenas 478 moradores em 1530 e 3.500 em 1723. Esse relativo aumento de população no espaço de quase duzentos anos adveio da prosperidade fomentada pelo cultivo dos olivais, dos vinhedos e, sobretudo, pela fabricação e comércio do vinho do porto, que animaram a sua economia passando a ser conhecida por “Corte de Trás-os-Montes”. Foi elevada à categoria de diocese por ato de 20 de abril de 1922 e de cidade em 20 de julho de 1925. É, pois, cidade, sede de distrito e de concelho de mesmo nome, sendo capital da província tradicional de Trás-os-Montes e Alto Douro. A cidade de Vila Real dista 115 km do Porto e 435 km de Lisboa, localizando-se na região Norte, no Douro. Possui atualmente cerca de trinta mil habitantes e encontra-se dividida em três freguesias: Nossa Senhora da Conceição, São Dinis e São Pedro. Por sua vez o concelho de Vila Real registrou 50.297 habitantes em 2005, possuindo área de 378 km² e encontra-se dividido em 30 freguesias[16]. O distrito é composto por 14 concelhos, a saber: AlijóBoticasChavesMesão FrioMondim de BastoMontalegreMurçaPeso da RéguaRibeira de Pena[17]SabrosaSanta Marta de PenaguiãoValpaçosVila Pouca de Aguiar[18] e Vila Real. É um dos dois distritos que constituem a província tradicional de Trás-os-Montes e Alto Douro, limitando-se ao norte com a Espanha, ao sul com Viseu, do qual é separado pelo rio Douro, a leste com Bragança e a oeste com os distritos de Braga e Porto.

 

  1. A alcaidaria-mor: os Botelho

Segundo o notável genealogista Manuel José da Costa Felgueiras Gayo, por volta de 1435, no reinado de D. Duarte[19], Afonso Botelho, o velho, foi nomeado 1º alcaide-mor de Vila Real. Seria filho de outro de igual nome e de sua mulher D. Mécia Vasques de Azevedo, bisneto de Pedro Martins Botelho.

Afonso Botelho casou-se em 1440, com Thereza Correia, filha de Ayres Correia, Cavaleiro da Ordem de Malta. Em 1464, acompanhou o rei D. Afonso V [20], na jornada que fez à África, falecendo em combate contra os mouros, juntamente com D. Duarte de Menezes (Conde de Viana).

Foi sucedido no cargo de alcaide-mor de Vila Real, pelo filho Pedro Botelho, Senhor do Prazo de Escariz e Paredes, casado com Catarina Alves Taveira; em seguida por Pedro Borges, natural de Bragança, em face do casamento com Izabel Pereira, neta do antecedente, por ser filha de Afonso Botelho (este Afonso neto do 1º alcaide-mor); esse Pedro Borges seria neto materno de Pedro Borges Botelho, também alcaide-mor de Vila Real. Foram ainda alcaides-mores da mesma Vila Real, Afonso Botelho Borges, senhor da Quinta de Passos e Morgado de Escariz,  filho de Izabel Pereira e casado com Leonor de Vasconcelos de Lamego; e Matheus Pereira de Sampaio, último alcaide-mor de Vila Real, segundo Felgueiras Gayo.

 

  1. Jacinto Botelho de Miranda e sua descendência

Na obra de Felgueiras Gayo não vimos referência a Jacinto Botelho de Miranda, que nossas lentes perquiridoras o alcançaram como sendo neto do alcaide-mor de Vila Real, em cujo burgo vivia durante o primeiro quartel do século XVII. No monumental Nobiliário de famílias de Portugal, de Gayo, não encontramos referência ao seu nome na leitura feita no título dos Botelho nem dos Miranda. Alguma informação talvez exista em Fidalgos e morgados de Vila Real e seu termo, de Júlio Antônio Teixeira, dedicando em sua obra um capítulo de 67 páginas aos Botelho, além de 60 páginas ao Relatório de Afonso Botelho de S. Payo e Souza e tabuadas referentes aos Botelho, alcaides-mores e especificamente aos Botelho de Miranda, na página 228. Infelizmente, embora conhecendo o índice da interessante obra ainda não tivemos acesso ao seu conteúdo. Nosso interesse nessa figura, reside no fato de dois de seus netos terem vindo para a Bahia. Posteriormente, arrendado terras no vale do rio Piauí, onde fundaram fazendas. Mas, enfim, quem era Jacinto Botelho de Miranda? Seus genitores? Idade e naturalidade?

No momento as informações de que dispomos para responder às indagações biográficas e genealógicas desse trasmontano seiscentista, foram todas colhidas em processo do Santo Ofício, para Familiar de um neto, o médico João de Miranda Ferraz, concluído em 9 de dezembro de 1732, data de concessão do pleito. Foram inquiridas diversas testemunhas e extraídas algumas certidões nas secretarias paroquiais, faltando a de Jacinto Botelho. Contudo, em sintonia com as certidões dos avós paternos[21] do habilitando, teria o materno nascido cerca de 1578. Segundo os depoimentos testemunhais, era natural e morador na Rua do Campo, certamente o Campo do Tabolado, região em que residiam os nobres da vila, sendo neto do alcaide-mor de Vila Real. Era senhor de algumas vinhas e olivais. Sendo solteiro, teve uma filha por nome Maria de Miranda, havida com uma moça por nome Clara Guedes, lavandeira, natural e moradora na Rua do Carvalho, da mesma Vila Real. Depois de nascida a filha em 1622, foi à Quinta dos Torneiros[22], casar-se com a mãe da menor e, assim, legitimar a filha que passou a ser o mimo do velho e nobre quarentão. Clara Guedes[23], embora modesta, era legítima lusitana, de limpo sangue e cristã velha, como se dizia na linguagem do Santo Ofício. A referida filha foi batizada em 15 de junho de 1622, na matriz de S. Pedro, pelo padre Francisco Fernandes, recebendo por padrinhos Manoel Rodrigues e Antônia Francisca, todos moradores da mesma freguesia. Segundo o termo, foi batizada “Maria, filha de Clara Guedes, solteira, deu por pai Jacinto Botelho de Miranda”[24].

Jacinto Botelho de Miranda, “era homem honrado, sem ofício, e aparentado com as melhores famílias da terra”, assim resumiu em relatório o comissário do Santo Ofício e abade de Santa Maria de Adoufe, Manoel de Azevedo Dias, depois de ouvir quatro dos mais conceituados moradores de Vila Real[25].  “Era homem principal nesta vila”[26]; “natural e morador que foi nesta vila, donde foi para a Quinta dos Torneiros, o qual era homem principal, de geração ilustríssima”[27]; “homem principal desta vila, donde era natural e morador na Rua do Campo, donde foi casar à Quinta dos Torneiros”[28]; “foi homem  principal nesta vila, das melhores famílias dela, morador na Rua do Campo, em umas casas que hoje possui Bernardo Pereira, e que delas foi casar à Quinta dos Torneiros”[29]; “era natural desta Vila Real, morador na Rua do Campo, desta freguesia, e que era pessoa principal e dos Alcaides Maiores desta vila e que fora casar na Quinta dos Torneiros”[30]; “foi natural desta vila, das principais famílias dela, morador na Rua do Campo e depois casou na Quinta dos Torneiros, onde tem um neto clérigo e foi pároco na comarca de Chaves”[31]; “era pessoa muito principal e repúblico, que casou na Quinta dos Torneiros, onde ele testemunha lhe conhece netos e um deles clérigo e primos do habilitando”[32]; “era neto do alcaide-mor desta vila, pessoa muito grave”[33]; “era pessoa principal, natural da Rua do Campo, da freguesia de São Pedro desta Vila Real, donde foi casar nos Torneiros, onde hoje tem netos e um deles clérigo, e que sendo o dito Jacinto Botelho, solteiro, teve nesta vila por moça Clara Guedes, solteira, da Rua do Carvalho, desta vila, e que dela teve uma filha que é a dita Maria de Miranda, mãe do habilitando, o qual o dito seu pai casou e lhe deu em dote fazendas, que hoje possui o mesmo habilitando”[34].

  1. Maria de Miranda e Pedro Rodrigues, o Mondino, escrivão da alfândega de Ruínas de Monte Alegre

D. Maria de Miranda, filha de Jacinto Botelho de Miranda e Clara Guedes, somente se casou em 10 de abril de 1657, com 35 anos de idade, o que é fora do padrão para hoje, e também o era para a época. No entanto, o casamento tardio não a impediu de gerar muitos filhos e deixar grande geração. O enlace matrimonial foi celebrado pelo padre João Baptista, por licença do abade, na igreja matriz de São Pedro, em Vila Real, sendo o consorte Pedro Rodrigues, o moço, natural da mesma vila e freguesia, onde descendia de geração modesta, mas por varonia antiguíssima no lugar. No início da vida foi sapateiro, depois, certamente, por conta do matrimônio em família nobre, assumiu o cargo de escrivão da Alfândega de Ruínas de Monte Alegre[35], no distrito de Vila Real. Fora batizado em 3 de junho de 1619, três anos antes da esposa, a cerimônia ocorrendo em casa, pelo padre coadjutor da matriz de São Pedro. Recebeu por padrinhos o padre Francisco Fernandes e Ana Rodrigues, provavelmente sua tia, mulher de Domingos Pires. Era filho de Pedro Rodrigues, o velho, oficial de sapateiro em Vila Real e de sua mulher, Maria Martins, a moça, ambos naturais e moradores na Rua de Baixo de Santa Margarida, freguesia de São Pedro, em Vila Real.

Pois bem, para os rigorosos comissários do Santo Ofício, nenhuma dúvida recaía sobre a limpeza de sangue e costumes das famílias Botelho, Miranda, Guedes e Rodrigues, porém, existiam rumores de que a família de Maria Martins, a moça, com origem no vizinho concelho de Mondim de Bastos, poderia ser cristã nova. Investigando esses fatos para saber se um neto poderia integrar seu quadro de familiares, extraíram certidão de batizado da referida Maria Martins, a moça, onde consta ter sido batizada[36] em 22 de outubro de 1582, na referida freguesia de São Pedro, de Vila Real, de onde era natural e moradora, sendo seus genitores o vila-realense Gonçalo Dias, sombreireiro e carpinteiro, e sua mulher Maria Martins, a velha, natural de Mondim de Bastos[37], daí ser conhecida por “a Mondina”. Por essa razão, foram investigar[38] em Mondim de Bastos, onde descobriram que ali existiam três casas de Martins, todas de limpo sangue. Segundo a maioria das testemunhas seria pertencente à casa dos Martins do bairro do Souto, legítimos cristãos velhos, na época assinando muitos de seus membros com o nome Rebelo, inclusive tendo membros clérigos e familiares do Santo Ofício, a exemplo de Francisco Borges de Azevedo e Frutuoso Borges[39]. Depois de criteriosa investigação foi declarado que a velha Maria Martins, “a Mondina”, também era cristã velha, sendo injustos os rumores que circulavam em Vila Real[40]. Aliás, essa alcunha foi transmitida à filha e ao neto, “os Mondinos”. Teria nascido à volta de 1550, em Mondim de Bastos, onde sua família vivia desde priscas eras, na juventude tendo se mudado para a vizinha Vila Real, a fim de morar com umas freiras. Mais tarde, ali casou-se e fixou domicílio na “Rua de Santa Margarida, adonde não vivem nem nunca viveram senão homens oficiais, como são sombreiros, tanoeiros, pichileiros e moleiros, gente toda ordinariamente de pouco entendimento e muita loquacidade, o qual bairro é arrabalde da dita Vila Real[41]”.

Conforme se disse, casados em 10 de abril de 1657, Pedro Rodrigues, o moço, e D. Maria de Miranda, permaneceram residindo em Vila Real, na Rua de Baixo de Santa Margarida, onde geraram grande descendência. Pedro Rodrigues, o moço ou “o Mondino”, como era conhecido, faleceu em 18 de dezembro de 1691, com testamento em que legou bens “às suas três filhas e aos dois filhos mais novos, a saber: João e José, e falecendo qualquer deles fique deles aos outros, e deixou a sua vinha de Barbodela nomeada a seu filho Pedro, por morte de sua mulher, que em sua vida será comissária dos frutos e se ele morrer com herdeiros legítimos ficará as mais, ....  e deixou a sua mulher por inteira testamenteira”. Consta nos livros de registros eclesiásticos[42] da freguesia de São Pedro, oito filhos do casal, a saber:

F.1. Polônia, batizada em 4.2.1663.

F.2. Antônio, batizado em 4.2.1663[43].

F.3. Domingos de Miranda Ferraz, batizado em 16.11.1664; padrinhos: Antônio Monteiro e sua mulher Luiza de Mesquita.

F.4. Pedro, data do batizado ilegível

F.5. Isabel, batizada em 25.11.1668, pelo padre Boaventura Dias, cura da igreja de S. Pedro; padrinhos: Antônio Francisco e Isabel Rodrigues, mulher de Domingos.

F.6. Francisca, batizada em 4.10.1672.

F.7. Dr. João de Miranda Ferraz, batizado em 27.5.1675, pelo padre Manoel de Figueiredo Novais, coadjutor da igreja de São Pedro; padrinhos:

F.8. José, batizado em 13.6.1678, pelo padre Gregório Fernandes, cura da igreja de S. Pedro, em Vila Real; padrinhos: Manoel Rodrigues, estanqueiro e Helena Rodrigues, mulher de José Fonseca.

e) Dr. João de Miranda Ferraz, médico do partido de Vila Real

Os filhos do casal foram todos bem encaminhados na vida, sendo ao menos dois médicos, tendo de um deles encontrado registro na Universidade de Coimbra, Dr. João de Miranda Ferraz. O outro pode ter feito o curso de cirurgião no Hospital de Todos-os-Santos, da cidade de Lisboa, o que era comum na época. Dois atravessaram o oceano e se estabeleceram na Bahia por volta de 1685, inclusive este último médico. Em 1727, clinicava em Salvador, inclusive assistindo a um irmão do arcebispo, também eles naturais de Trás-os-Montes.

João de Miranda Ferraz, nasceu em Vila Real, onde fez seus estudos iniciais, depois matriculando-se na Universidade de Coimbra. Nesta septasecular instituição de ensino bacharelou-se em Artes em 13 de março de 1701, posteriormente alcançando os graus de licenciado e mestre, respectivamente, em 2 de junho de 1703 e 4 de outubro de 1721[44]. Concomitantemente, matriculou-se na Faculdade de Medicina da mesma Universidade de Coimbra, em 1º de outubro de 1701, formando-se médico em 9 de junho de 1706, com 30 anos de idade[45]. Depois de formado retorna à terra natal empregando-se no cargo de médico do partido de Vila Real. Eram assim chamados os médicos contratados pela municipalidade para atender gratuitamente os pobres, expostos, presos e crianças desvalidas ou abandonadas, mediante contrato com remuneração mensal fixa. Estabeleceu seu domicílio na Rua da Cruz do Cabo da Vila, dedicando-se às artes e a medicina, suas duas grandes paixões. Em 9 de dezembro de 1732, depois de uma tentativa frustrada e de vasta inquirição, obteve a carta de Familiar do Santo Ofício. Os autos desses processos, arquivados na Torre do Tombo, em Lisboa, nos permitiram conhecer essas informações genealógicas e estabelecer o liame perdido entre os Miranda que se estabeleceram no centro-sul do Piauí e os Botelho, de Vila Real.

  1. Antônio e Domingos de Miranda Ferraz, assistentes na Bahia com contratos de arrendamento e fazendas no vale do rio Piauí

Segundo uma carta enviada em 18 de agosto de 1727, ao Dr. João de Miranda Ferraz, por seu conterrâneo o arcebispo da Bahia, D. Luís Álvares de Figueiredo[46], em resposta a uma de 26 de março, possuía aquele dois irmãos residentes na cidade da Bahia, tendo um falecido por aqueles dias e ou outro também sendo médico da casa do mesmo arcebispo e demais moradores daquela cidade. Ele chegara a pedir àquela autoridade eclesiástica que persuadisse o irmão enfermo para que fosse ao reino tratar-se, porém os achaques que o incomodavam não lhe permitiram enfrentar a longa viagem de mar. Sobre o assunto, assim anotou o arcebispo:

“O irmão que V. M.cê me recomendou persuadisse a ir para a nossa pátria, foi para a  comum dos viventes que foi Deus servido levá-lo para ir daquele seu achaque que o impossibilitava para a viagem de mar; Tenha-lhe Deus a sua alma no céu, e console a V. M.cê neste golpe em que é tão natural o sentimento”.

Sobre o irmão sobrevivente informa o arcebispo que o mesmo era médico na Bahia e em sua casa, cuidando desveladamente de um seu irmão. Acrescenta que um sobrinho estava sendo ordenado padre por aqueles dias, assim deixando evidente que esses dois irmãos trasmontanos estavam desde muitos anos radicados na Bahia, onde tinham famílias constituídas:

“O outro seu irmão aqui é o médico da minha casa especialmente de meu irmão[47] que quase sempre lhe está nas mãos; eu o estimo muito, e a seu sobrinho hei de conferir as mais ordens com muito gosto, e não tem V. M.ce, que agradecer-me nesse particular, porque a razão de natural a mais me obriga; e se destas partes tiver algum préstimo no seu serviço me tem pronto para lhe dar gosto em tudo. Deus dê a V. M.cê muito anos. Bahia, 18 de agosto de 1727. Servidor a serviço de V. M.cê. Arcebispo da Bahia.) Sr. Dr. João de Miranda Ferraz”[48].

O comissário do Santo Ofício, Manoel de Azevedo Dias, que anexou a carta ao processo, informa que “o sobrinho do Doutor João de Miranda, é natural do Brasil e morador no Arcebispado da Bahia; e neste mês de dezembro vi uma carta do Arcebispo da Bahia, cujo sinal eu conheço por o dito senhor ser Visitador no tempo, digo Visitador nesta comarca e ter sido Provisor, e ter sido Vice-Reitor no Seminário; e na carta lhe diz ao dito doutor que lhe ordenara ao sobrinho, lá na Bahia”[49].

Infelizmente, a correspondência não declina o nome dos irmãos nem do sobrinho clérigo do Dr. João de Miranda, que moravam na Bahia. No entanto, o testamento do genitor exclui apenas os dois filhos mais velhos, Antônio[50] e Domingos, indicando assim que foram esses o que se ausentaram do reino, não sendo agraciados com legados. No entanto, um termo de batizado lavrado na freguesia de Nossa Senhora da Vitória da Vila da Mocha, no Piauí, traz o nome de um desses irmãos, Domingos de Miranda Ferraz[51]. Em 5 de abril de 1729, no Piahuy, Fazenda Grande, o Rev. Pe. José Lopes Pereira, batizou solenemente e pôs os santos óleos de licença minha a inocente Maria, filha de Maria de Miranda, escrava de Domingos de Miranda Ferraz; deu por pai Antônio Pereira da Silva. Padrinhos, Maria de Miranda, casada e Antônio de Lemos, solteiro, em verdade de que mandei fazer este assento em que me assino. Thomé de Carvalho e Silva”.

Posterior termo de batizado lavrado na mesma freguesia de Nossa Senhora da Vitória da Vila da Mocha, no Piauí, traz o nome desse irmão e de um sobrinho, que não era o vigário. Em 1º de novembro de 1734, na Fazenda Grande, foi batizada “solenemente a Felipa, filha de Maria, escrava de Domingos de Miranda, assistente na Bahia; foi padrinho “Cosme de Miranda, solteiro”. Da mesma forma que a correspondência do comissário junta à carta supra do arcebispo, em Portugal, reduz o nome do Dr. João de Miranda Ferraz, para apenas João de Miranda, aqui também o vigário da Mocha, Thomé de Carvalho e Silva, reduz o nome desses dois, o senhor da escrava e o padrinho, para apenas Domingos de Miranda e Cosme de Miranda, respectivamente. Contudo, consta em batizado realizado anteriormente, em 11 de maio de 1730, no Riacho Fundo, pelo padre Domingos Gomes, da inocente Maria, sendo padrinho “Cosme de Miranda Ferraz, solteiro, morador na fazenda Piripiri”; mais tarde, em 4 de outubro daquele ano, batizou “o Pe. Joseph das Neves, e pôs os santos óleos a Francisca, filha do sargento-mor Manoel da Mata Pereira e de sua mulher Maria de Miranda Guedes. Padrinho Cosme de Miranda Ferraz, solteiro, morador no Buriti”.

Portanto, temos aí Cosme de Miranda Ferraz residindo na fazenda Piriripi e sendo padrinho no Riacho Fundo, em 1730. Cinco meses depois aparece morando na fazenda Buriti, da mesma ribeira. Neste segundo registro é padrinho de uma filha de Maria de Miranda Guedes, que residia na Fazenda Grande. E Domingos de Miranda, aparece com escravos no Piauí, mas assistente na Bahia, em 1734. Vejam que se repetem no Piauí os nomes Miranda Ferraz e Guedes, de Vila Real. Domingos de Miranda Ferraz seria o médico assistente na Bahia, irmão do outro médico de Vila Real, João de Miranda Ferraz; Cosme de Miranda Ferraz e Maria de Miranda Guedes, seriam sobrinhos nascidos na Bahia, filhos de um dos dois irmãos. A fazenda Buriti fica localizada no vale do Riacho do Brejo, afluente do Riacho Fundo, que entra no rio Piauí. Para demonstrar os laços com uma família comprovadamente fundadora da fazenda Buriti, segue mais um registro eclesiástico:

“Em 25 de maio de 1721, no Piaguí, fazenda do Buriti, batizei solenemente e pus os santos óleos à inocente Maria, filha legítima de Domingos de Abreu Valadares e de Francisca de Miranda[52]. Madrinha, Catherina de Vasconcelos, sua avó, de que mandei fazer este assento em que me assino. Mês, dia e era supra. Thomé Carvalho e Silva, vigário”.

  1. Conclusão

Portanto, a fazenda Buriti é o destino dos Miranda Ferraz, de Vila Real; e princípio dos Miranda, que iniciam nova geração no Piauí e vão povoar os vales dos rios Piauí, Itaueira e Gurgueia. Foi fundada por João Rodrigues de Miranda[53], no vale do Riacho de Brejo, formador do Riacho Fundo, que entra no rio Piauí, conforme anotou o conselheiro Francisco Marcelino de Gouveia, em sua Relação de todos os possuidores de terras desta capitania de São José do Piauhy, concluída em 15 de novembro 1762. Sobre João Rodrigues de Miranda, reconstitui sua descendência no livro Memória dos ancestrais (Teresina: APL, 2017). Mas falta estabelecer a devida ligação genealógica. Afinal, quem seria o genitor de João Rodrigues de Miranda? E o que fazia Cosme de Miranda Ferraz, na fazenda Buriti? Estariam todos eles ligados por laços de família ao rendeiro Domingos de Miranda Ferraz? Seria D. Catherina de Vasconcelos, casada com um dos dois irmãos que se radicaram na Bahia, tendo mudado com os filhos seu domicílio para o vale do rio Piauí? Afinal, que histórias uma fazenda pode contar? Desde a ocupação do solo, fundação dos currais e amanho das boiadas? Voltaremos ao assunto.

 

 


[1] Advogado e escritor. Membro da Academia Piauiense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

[2] Os romanos dominaram a região depois de vencerem violentamente os lusitanos, que lutaram sob a liderança de Viriato, grande líder militar e herói da nação. Passaram, então, a integrar o Império Romano, anexados com o nome de província da Hispania (Portugal e Espanha atual). Daí decorre a dominação cultural, inclusive religiosa e linguística, de que resultou na religião cristã e no idioma português derivado do latim vulgar, isto é, falado pelos legionários e comerciantes romanos. Por essa razão, pode-se concluir que a religião e o idioma são as duas maiores contribuições da dominação romana para a formação da nação portuguesa.

[3] São uma das ramificações dos povos godos, significando “godos do oeste”, em contraposição aos ostorgodos, ou godos do leste. São originários das regiões meridionais da Escandinávia, permanecendo por muitos anos confederados ao Império Romano, onde eram conhecidos como um dos povos germânicos ou bárbaros. Foram para a Península Ibérica aliados aos romanos para manter a dominação, mais tarde estabelecendo reino independente na região. Os suevos também estabeleceram reino na península.

[4] D. Henrique de Borgonha, também conhecido por Conde D. Henrique, foi conde de Portucale desde 1096 até à sua morte, em 24.4.1112. Era 4º filho de Henrique de Borgonha e foi figura central na formação da nação portuguesa.

 

[5] Existe polêmica acadêmica sobre o marco inicial de fundação de Vila Real, alguns acreditando que já existia na época de outorga de um primeiro foral, pelo rei D. Afonso III, em 7 de dezembro de 1272, que parece mandava criar o lugar.

[6] D. Manuel I, O Venturoso, governou de 1495 até sua morte em 1521.

[7] D. Pedro de Meneses foi o 1º Conde de Vila Real (c. 1370 – Ceuta, 22.9.1437), militar, era primo da rainha D. Leonor Teles de Meneses.

[8] A Casa dos condes, marqueses e duques de Vila Real, foi extinta em 1641.

[9] SOUSA, Fernando. Vila Real – a memória de uma cidade. Porto: Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Vol. VI. Ano 1989. Pag. 271-286.

[10] Altitude média de 460 metros.

[11] SOUSA, Fernando. Op. cit.

[12] SOUSA, Fernando. Op. cit.

[13] SOUSA, Fernando. Op. cit.

[14] SOUSA, Fernando. Op. cit.

[15] SOUSA, Fernando. Op. cit.

[16] Abaças, Adoufe, Andrães, Arrois, Borbela, Campeã, Constatim, Ermida, Folhadela, Guiães, Justes, Lamares, Lamas de Olo, Lordelo, Mateus, Mondrões, Mouçós, Nogueira, Nossa Senhora da Conceição, Parada de Cunhos, Pena, Quintã, São Dinis, São Pedro, São Tomé do Castelo, Torgueda, Vale de Nogueiras, Vila Cova, Vila Marim e Vilarinho de Samardã.

[17] Vila e concelho de onde vieram os padres Miguel de Carvalho e Almeida, Thomé de Carvalho e Silva, André da Silva e diversos outros seus parentes, dando início à geração dos Carvalho de Almeida, do norte do Piauí.

[18] Contíguo a Ribeira de Pena, é a terra natal do mestre-de-campo Bernardo de Carvalho e Aguiar, assim demonstrando que a maioria dos povoadores do Sertão de Dentro vieram do norte de Portugal, muitas famílias entrelaçadas e se conhecendo desde a região natal aqui apenas dando continuidade às relações de amizade, matrimônio e negócios entre eles e continuadas por seus descendentes.

[19] D. Duarte (Viseu, 1391 – Tomar, 1438) era filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, sendo o décimo primeiro rei de Portugal, cognominado “o Eloquente”. Subiu ao trono em 14.8.1433 e governou até à morte, em 9.9.1438, vítima da peste. Em 1428, casou-se com D. Leonor de Aragão.

 

[20] D. Afonso V (Sintra, 1432 – 1481), cognominado “o Africano”, era filho de D. Duarte e de D. Leonor de Aragão. Casou-se em 1447, com a prima D. Isabel, filha do Infante D. Pedro, de quem tem três filhos, dentre eles o futuro rei D. João III. Caracterizou seu reinado pelas vitoriosas campanhas pelo norte da África.

[21] Maria Martins, a moça, avó materna do habilitando João de Miranda Ferraz, foi batizada em 22.10.1582, na freguesia de São Pedro de Vila Real.

[22] Localizada nos arredores de Vila Real.

[23] Existia em Vila Real, uma distinta família Guedes, cuja genealogia foi anotada por Júlio Antônio Teixeira em seu Fidalgos e morgados de Vila Real e seu termo (2º vol. Pág. 493-550).

[24] Freguesia de São Pedro de Vila Real. Livro de Batizados – fl. 147.

[25] Foram ouvidas em 24 de março de 1729, as testemunhas Domingos de Matos, Pe. João da Silva, D. Catarina Botelho de Queiroz, viúva que ficara do desembargador Francisco de Puga e José Botelho da Fonseca, cavaleiro professo do Ordem de Cristo e Familiar do Santo Ofício, todos naturais e moradores de Vila Real (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/12825. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, João, mç. 66, doc. 1237).

[26] Depoimento dado em 20 de julho de 1732, por Jerônimo Teixeira de Lacerda, cavaleiro professo da Ordem de Cristo e Fidalgo da Casa Real, 64 anos de idade, natural e morador de Vila Real, freguesia de São Dionísio (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/12825. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, João, mç. 66, doc. 1237).

 

[27] Depoimento dado em 20 de julho de 1732, por Bernardo Correa de Mesquita, homem nobre e principal de Vila Real, de onde era natural e morador, 83 anos de idade (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/12825. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, João, mç. 66, doc. 1237).

 

[28] Depoimento dado em 20 de julho de 1732, pelo reverendo Manoel Álvares Ribeiro, sacerdote do hábito de São Pedro, morador em Vila Real, 80 anos de idade (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/12825. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, João, mç. 66, doc. 1237).

 

[29] Depoimento dado em 20 de julho de 1732, por Antônio Álvares da Nóbrega, homem nobre, natural e morador em Vila Real, 61 anos de idade (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/12825. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, João, mç. 66, doc. 1237).

 

[30] Depoimento dado em 20 de julho de 1732, pelo reverendo Manoel Rodrigues Montes, sacerdote do hábito de São Pedro, e mestre de Latim do partido nesta Vila Real, de onde é natural e morador na freguesia de São Dionísio, 56 anos de idade (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/12825. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, João, mç. 66, doc. 1237).

 

[31] Depoimento dado em 20 de julho de 1732, por Domingos Pereira Taveira, que vive de suas fazendas, natural e morador na Rua do Cabo da Vila, 63 anos de idade (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/12825. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, João, mç. 66, doc. 1237).

[32]Depoimento dado em 20 de julho de 1732, pelo reverendo Manoel Vieira Pereira, coadjutor na igreja de São Pedro de Vila Real, 57 anos de idade (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/12825. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, João, mç. 66, doc. 1237).

 

[33] Depoimento dado em 20 de julho de 1732, por Antônio da Fonseca de Figueiredo, que vive de sua agência, morador e natural da Rua do Campo, em casas vizinhas à que morara Jacinto Botelho, 70 anos de idade (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/12825. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, João, mç. 66, doc. 1237).

 

[34] Depoimento dado em 20 de julho de 1732, por André Martins, oficial de escultor, natural e morador na vila, 62 anos de idade (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/12825. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, João, mç. 66, doc. 1237).

 

[35] Em outra passagem aparece escrivão da Alfândega de Boivães, termo do município de Ponte da Barca.

[36] Foram padrinhos, Brás Carvalho e Izabel, filha de Gonçalo Nunes Cabral.

[37] Vila e município do distrito de Vila Real.

[38] A segunda diligência foi feita pelo comissário Jerônimo Guedes de Miranda.

[39] Frutuoso Borges de Azevedo, natural de Mondim, mercador de ferro e de outras fazendas, filho de Gonçalo Borges e de Catarina Álvares.

[40] “Consta que é legítima e inteira cristã velha, por ser da família dos Martins, da dita vila, que todos são puros, e que esta dita fama se tinha mostrado falsa na pessoa de um sobrinho do pretendente, filho de uma sua irmã, o qual foi habilitado para ordens; e nestes termos se acha desvanecida a dita fama e o mesmo consta do instrumento de genere que remeteu o dito comissário”; “esta fama estava desvanecida porquanto havendo de se ordenar uma filho de um irmão inteiro do habilitando existente na Bahia, retirara as inquirições” (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/12825. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, João, mç. 66, doc. 1237).

[41] PT/TT/TSO-CG/A/008-002/2705. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações Incompletas, doc. 2705

[42] Esse criterioso levantamento dos filhos do casal foi feito por um jovem interessado e competente pesquisador genealógico, Leonardo Costa, que copiou todas as páginas dos livros e me as apresentou, assim comprovando a existência de cada um dos oitos filhos desse distinto casal trasmontano.

[43] Polônia e Antônio foram batizados no mesmo dia, o que indica a possibilidade de serem gêmeos, vez que geralmente as crianças eram batizadas com pouco tempo de nascidas. Acrescente-se que os genitores moravam numa das principais vilas de Portugal, com diversas igrejas e muitos padres, embora tenham batizado todos os filhos e eles próprios e seus avós na mesma igreja de São Pedro.

 

[44] PT/AUC/ELU/UC-AUC/B/001-001/F/002529.

 

[45] PT/AUC/ELU/UC-AUC/B/001-001/F/002530

 

[46] D. Luís Álvares de Figueiredo, nasceu em 1670, na freguesia de Mateus, município de Vila Real, filho de Manuel Álvares de Carvalho e Figueiredo e Francisca Antunes Coelho de Barros. Ordenado padre em 26 de dezembro de 1698, serviu por alguns anos em sua terra natal, como clérigo, visitador, provisor e Vice-Reitor do Seminário. Foi consagrado em 5 de outubro de 1716, no Mosteiro de Nossa senhora da Graça, Bispo Titular de Uranópolis, na Macedônia Central, norte da Grécia e Auxiliar de Braga. Em 22 de fevereiro de 1725, foi por Bula do papa Bento XIII, elevado a Arcebispo de São Salvador da Bahia, no exercício de cuja cargo faleceu em 27 de agosto de 1735.

[47] Esse irmão do Arcebispo era religioso do hábito de São Francisco e foi testamenteiro do primeiro, quando de seu falecimento em 27.8.1735, juntamente com o Mestre-Escola da Sé, também da mesma família.

[48] PT/TT/TSO-CG/A/008-001/12825. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, João, mç. 66, doc. 1237.

[49] (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/12825. Tribunal do Santo Ofício, Conselho Geral, Habilitações, João, mç. 66, doc. 1237).

[50] Não confundir com o capitão Antônio Rodrigues de Miranda, que lhe foi contemporâneo na cidade da Bahia. Era este natural de Santarém, filho de Salvador Rodrigues, barbeiro; o avô paterno foi almocreve e o materno marinheiro no rio Tejo, fato que não o impediu de ser agraciado em 25.7.1694, com a comenda da Ordem de Santiago, em face dos relevantes serviços militares por eles prestados; ingressando na carreira militar, serviu em Angola desde 10.9.1688 até 8.1.1692, pelo tempo de 3 anos, 3 meses e 28 dias, em praça de soldado e capitão de uma companhia do distrito do rio Cuanza, portando-se em tudo com bom procedimento; em Angola servia inicialmente ao lado do tio Manoel Lopes, filho de Fernão Lopes, natural de Torres Novas, que ali serviu por mais de 40 anos, entre 22.1.1641 e 3.7.1689; passando para a Bahia em 1692, serviu no Forte Real de São Felipe e Santiago, daquela cidade; em 1716, por ordem real e a pedido da Abadessa, duas filha suas por nome Francisca Maria Xavier e Leonor de Jesus, musicistas, ingressam no Convento de Santa Clara, da cidade da Bahia
(PT/TT/MCO/A-C/003-001/0006/00088. Mesa da Consciência e Ordens, Habilitações para a Ordem de Santiago, Letra A, mç. 6, n.º 88. AHU-ACL-CU-005, Cx. 4, D. 374).

 

[51]

[52] Nome reduzido, pois em outro documento aparece Francisca de Miranda do Rosário Vasconcelos.

[53] Fundou também, dentre outras, a fazenda Santa Maria, no vale do riacho de mesmo nome, outro formador do Riacho Fundo. Sua descendência foi delineada no livro Memória dos ancestrais – parentes e contraparentes: uma genealogia do sertão, de nossa autoria (Teresina: APL, 2017).

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