De repente, o Brasil vira uma bola
Por Cunha e Silva Filho Em: 08/06/2014, às 17H37
Cunha e Silva Filho
É claro, leitor, que ninguém do meu país vai tratar mal os turistas, nacionais ou estrangeiros. Todos são bem-vindos ao meu pais que, agora, se torna uma pátria-mundo, tendo como motor de funcionamento a bola com B maiúsculo - significante-significado do signo da pátria acolhedora. Ninguém há de querer tisnar a festa do maior esporte do mundo, o futebol, o footbal, o soccer, la pelote, la pelota, ou seja, tudo que seja conduzido pela bola, até mesmo a nação.
Dizem os entendidos ( não me venham interpretar essa palavra com outro significado que serve de combustível para preconceitos) em dinheiro e em economia que a Copa do Mundo, cujo símbolo mais emblemático é a FIFA, hoje, sigla que virou moeda corrente empregada até como bordão ou lema de trabalhadores em greve ou na iminência de greve, trará uma imensidão de dólares ao país, beneficiando outras tantas quantidades de pessoas direta ou indiretamente.
Mas, essa linha de pensamento econômico tem como contrapartida outra pergunta que se torna necessária: a quem realmente vai beneficiar, no cômputo geral, a invasão dos dólares: o povo, os pobres, a classe média, os ricos, os miliardários, os mega-empresários, incluindo, entre eles, os médios e micros, os hospitais públicos, a educação pública, a segurança pública do cidadão na rua, na sua residência, no seu bairro? Vai diminuir o nível insuportável da violência extrema nas megalópoles e pequenas cidades, espalhada nos quatro cantos do território nacional? Quem sou eu para deslindar tal conjunto de problemas da responsabilidade dos governos municipais, estaduais e federal?
Todos queremos torcer pela vitória de nossa seleção – é uma fato inquestionável. Contudo, o país, traduzindo-se, o governo federal, nos seus deveres de casa, não está com esta bola toda, e a população, por menos consciente que seja, sabe bem. disso. Estamos, assim, atentos paras empulhações e as anestesias vindas dos ventos demagógicos em tempo de pré-eleições.
Os bares andam cheios, os restaurantes, os shoppings, idem. Mas, a classe média não é o todo e o Brasil da baixa política funciona por metonímia Sabe que a parte, a grande parte, faz parte do todo.Este depende da parte e vice-versa. A bola vai rolar em vários estádios, em cujas construções foi injetado o dinheiro do povo, com montantes em bilhões de reais, muito acima do que era previsto de gastança do Erário, pois a Presidente não é rainha nem tampouco autocrata, se bem que o regime presidencialista enfeixe poderes quase imperiais.
Viramos, agora, uma bola no mapa brasílico.O país se unirá por algum tempo e, mesmo assim, só por amor à bola que rolará nos gramados.O objetivo da bola é fazer gol. Contudo, a bola, esse objeto redondo, fetiche das multidões de torcedores e fanáticos, aqui e no estrangeiro, mais aqui talvez do que lá, tem lá seus caprichos. Do que ela fizer nos gramados país afora é que muito coisa dependerá, inclusive os humores da política brasileira.
Os vigilantes dos estabelecimentos bancários há mais de um mês estão em greve e um dos seus lemas ou bordões diz : “Estamos
Como o Brasil mudou, ou parafraseando Machado de Assis – mudou ou mudamos nós? e para, talvez, pior em coisas de política e de governabilidade. Pior, porque a corrupção ainda se encontra entranhada no solo político da pátria, nos três poderes. Não somente corrupção, mas também o seu corolário, a impunidade que não quer deixar o osso como cachorro faminto.Corrupção, impunidade e violência são faces do mesmo problem. Ia dizendo fa mesma moeda, mas a fase ficaria maluca.
Leis idiotas e inócuas, na prática, não funcionarão, pela impossibilidade de fiscalização e de subjetividade no que concerne à vida privada das famílias, como foi a aprovação da “Lei da Palmada,” algo que beira o ridículo e a falta do que fazer de deputados federais que estariam,sim, prestando um bem ao país se modificassem, ou melhor, endurecessem as leis que regulamentam a punição de menores infratores e de crimes hediondos, até mesmo podendo se estender à implantação da prisão perpétua para crimes abomináveis.
Naturalmente, sem as contumazes brechas das leis, os jeitinhos “legais” com diminuições de tempo de prisão ou em razão de “bom comportamento”(outro expediente hipócrita e astucioso de “meirinhos” para livrar criminosos e malfeitores da prisão integral), e indultos presidenciais a reconhecidos bandidos de colarinho branco de todos os níveis e profissões, como foi exemplo paradigmático o do juiz Lalau.
A bola rola nos amistosos por enquanto, mas vai rolar de verdade nos jogos decisivos do quais espero aquela integridade moral do fair play tão necessária à seleção brasileira quanto às demais seleções estrangeiras. Oxalá esse comportamento de fair play se infiltre nos espíritos de quem deseja ver um Brasil de verdade e exemplo de civilização. Que role, soberana e verdadeira, a bola da nossa seleção rumo à conquista da tão almejada Taça.”Viva o povo brasileiro!"