ELMAR CARVALHO

 

 

Estive na Várzea do Simão, neste sábado de Páscoa. Simão, avô de Fátima, minha mulher, foi o antigo proprietário dessa localidade, situada à margem direita do Velho Monge do poema dacostiano. Participei de um farto churrasco patrocinado pelo sargento Freitas, o Natim, sobrinho de minha mulher e neto do velho Simão. Entre outros, estavam presentes o Sílvio e o Diá, respectivamente, neto e filho do patriarca varzeano. O carneiro, seja sob a forma de churrasco, seja como suculento cozido, estava simplesmente delicioso.

 

Antes do assado e das libações de praxe, minha mulher, sob o argumento de que eu já tinha filhos e já havia publicado livros, intimou-me a plantar uma jaqueira, fato singelo, mas cuidadosamente documentado por uma câmera fotográfica. Desse modo, não pus os pés na jaca, mas literalmente coloquei as mãos na terra e num pé de jaca. Segundo soube, e isso faz sentido, o ditado correto seria por o pé no jacá, e assim tropeçar ou tropicar. Pisar na jaca significaria esmagar a enorme fruta, mas poderia acarretar também algum tropeço ou topada. Deixo a solução do problema para os doutos em paremiologia e cultura popular.

 

Estava presente a essa comemoração familiar a Conceição Teles, dinâmica servidora da Superintendência de Cultura do Município de Parnaíba, que me deu a auspiciosa notícia de que o Jardim dos Poetas seria (re)construído em aprazível local, entre a Praça Santo Antônio, o Colégio das Irmãs e o Centro Cívico, e consequentemente perto do Cajueiro do Humberto de Campos.

 

Fiquei contente com a notícia; creio que todos os poetas também ficarão. O velho Jardim fora idealizado pelo teatrólogo e escritor Benjamim Santos, e construído na gestão do prefeito Paulo Eudes. Tempos atrás, em julho de 2011, com o Jardim dos Poetas já quase em ruínas, publiquei pela internet uma crônica em defesa de sua reconstrução, talvez em outro local, já que a sua localização se tornara controvertida, e objeto de polêmicas e dissenções.

 

Sugeri a vários poetas, pessoalmente e através de e-mail, não sei se também através de textos internéticos, três lugares para a sua nova instalação, e entre eles o exato lugar onde o novo Jardim será erigido. Sobre o velho “panteão” dos poetas tive a honra de dizer, em solenidade festiva, na época de sua inauguração: “Esse jardim, o Jardim dos Poetas, será o altar e o púlpito dos velhos e dos jovens bardos, dos menestréis de todas as épocas, de todas as idades, dos aedos mortos e vivos, porque são os poetas os hierofantes e os profetas do bem, do bom e do belo, a celebrarem o culto da estética, da vida e da emoção no templo augusto da poesia”.

 

De minha crônica, escrita em 28/07/2011, referindo-me a novo Jardim, pinço o seguinte trecho: “Obviamente, outros equipamentos, peças e poemas poderiam ser acrescidos ao projeto original. Placas maiores, mais vistosas e modernas, talvez até com ilustrações de pintores locais, poderiam dar um novo brilho a essa antologia poética “impressa” em concreto. Acredito que prejuízo maior é o logradouro/monumento permanecer do jeito que está, pois, sem os poemas expostos em suas placas, o Jardim dos Poetas terá perdido todo o seu sentido e finalidade”. Acrescento agora esta sugestão: os poetas vivos deveriam ser solicitados a escolherem seu(s) texto(s), conforme critérios de tamanho e/ou outros.

 

Quando deixei o churrasco do Natim, já quase ao entardecer, não sem antes tomar um maravilhoso banho nas águas tépidas e lépidas do Parnaíba, resolvi olhar o local em que o Jardim será construído. Antes, vi o solar que pertenceu ao saudoso médico Cândido de Almeida Athayde, que foi meu professor no Curso de Administração de Empresas. Tive-lhe afeição. Gostava de suas aulas, e gostava muito mais ainda de suas agradáveis palestras, mormente sobre Humberto de Campos e outros personagens, e sobre a Parnaíba de antigamente. O Ministério Público do Estado do Piauí o está conservando muito bem, e ainda lhe expôs a bela fachada, que antes era oculta por um muro. Todavia, fiquei triste porque um outro prédio, em sua proximidade, está bastante deteriorado, e com uma descaracterizadora construção em sua parte traseira.

 

Olhei as grandes árvores da Praça Santo Antônio. Esse logradouro foi uma de minhas mais marcantes visões de Parnaíba, quando estive nessa cidade pela vez primeira, no primeiro semestre de 1975. Aproveitando uma viagem esportiva do Comercial, fui visitar meu pai, que fora chefiar a agência local da ECT (Correios e Telégrafos). Fomos visitar o professor Joaquim Furtado de Carvalho, nosso primo, que morava na pensão da Judite, e então pude admirar os grandes pés de oitis, que ornamentavam e ensombravam a bela e majestosa praça. Em junho de 75, eu e minha família fomos morar em Parnaíba, juntando-nos a papai.

Desta feita fiquei triste e muito preocupado. Notei que algumas dessas antigas árvores já morreram ou estão bastante doentes. A implacável erva de passarinho é como o Django do velho faroeste – não perdoa, mata; e parece estar sugando mortalmente a seiva vital de vários oitizeiros e impedindo, ao cobrir suas copas, que a luz solar lhes alimente. Se providências urgentes não forem tomadas pelo município, os velhos oitizeiros irão sucumbir, a exemplo do que aconteceu com várias grandes árvores em Teresina. A morte e a doença dessas árvores me toldou um pouco a alegria que senti pela anunciada ressurreição do Jardim dos Poetas.