Culturas de chimpanzés

Eliane Sebeika Rapchan, professora da Universidade Estadual de Maringá, coloca interessantes questões sobre a interface entre etologia e antropologia

 

  

 

 

  

 

 

 

 

 

"Chimpanzé Anjana sorrindo para um dos dos dois tigres órfãos que adotou" (http://expressoriente.blogspot.com/2009_06_01_archive.html)

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O resumo do artigo "Chimpanzés possuem cultura? Questões para a antropologia sobre um tema 'bom para pensar' ", de E. S.  Rapchan, permite que reflitamos sobre resultados de pesquisas etológicas, que surgem como instigantes desafios às ciências sociais (ciências sociais humanas, sobre humanos e grupos de humanos): "O texto propõe uma reflexão sobre a crescente utilização da idéia de cultura, nos últimos anos, para definir alguns aspectos do comportamento de chimpanzés, considerando as características e os contextos, bem como as questões que esse tipo de procedimento coloca para as ciências sociais, a partir de uma antropologia das idéias e do conhecimento. Palavras-chave: culturas de chimpanzés, darwinismo, etologia, evolução/adaptação, relações natureza/cultura". (RAPCHAN, 2005)

Eis o fecho do artigo, onde a Profª. Rapchan apresenta um conjunto de questões pertinentes: 

"(...) Os estudos sobre comportamento animal, particularmente dos grandes símios, estabeleceram nas últimas décadas um efervescente plano de reflexão para as biociências e para as ciências sociais. Aliás, há muito o que pensar sobre o fato de bonobos ou chimpanzés provocarem mais as ciências sociais do que baleias ou elefantes, mas isso merece uma discussão própria, em outra ocasião.

As biociências precisarão responder à questão se o comportamento coletivo animal ou individual, que tenha fundamento coletivo, pode ser satisfatoriamente abordado apenas através dos próprios procedimentos de pesquisa ou necessitarão dos subsídios das ciências sociais, particularmente da antropologia, para enfrentar os novos problemas. Uma pequena lista contempla a aceitação ou a recusa das reflexões já produzidas pela antropologia sobre o problema da cultura (Tuttle, 2001), o tipo singular de objetividade, próprio das ciências sociais, construído em bases interativas e subjetivas, considerando que pesquisas sobre comportamento animal são pesquisas que implicam relações humanos/animais (Corbey, 1995) e o problema da produção de significados por seres não-humanos (Mithen, 2002). Primatólogos, como McGrew (1992) buscam algumas referências em antropólogos culturais como Alfred Kröeber e Ruth Benedict. Será suficiente?

Outra questão central, de base conceitual, tem implicações na reflexão sobre qual é a teoria de cultura adotada pela primatologia em que, por exemplo, se deve abordar as relações entre "cultural" e "social" quando se trata de comportamento animal. É plenamente satisfatório pensar que o social é típico da espécie e o cultural apresenta variabilidade, submete-se às tradições e é próprio de cada grupo? A cognição é um ponto-chave e precisará ser muito explorada.

As ciências sociais, particularmente a antropologia, precisarão enfrentar problemas tais como o questionamento das definições de humano e da singularidade humana nas bases que têm sido reproduzidas desde o início do século XX. Não há mais consenso acerca de que os seres humanos sejam os únicos a desenvolver vida coletiva complexa, produzir cultura, lutar por status e poder, reconhecer seus semelhantes e repassar seus conhecimentos às gerações futuras. Ao mesmo tempo, a animalização do humano, a identificação entre os vínculos coletivos de certas espécies e sua condição biológica (Dunbar, 2003), e a possibilidade de identificação do momento evolutivo da emergência do significado na condição humana (Mithen, 2002) constituem-se em grandes questões.

O desafio posto por essa configuração dessas disciplinas implicará a produção de novas fronteiras para o humano, para suas alteridades e para a produção de conhecimento", Rev. Antropol. vol.48 no.1 São Paulo Jan./Jun. 2005, texto contido na Web em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-77012005000100006&script=sci_arttext. (autora do artigo: Eliane Sebeika Rapchan) 

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Notícia de setembro de 2008: Habeas corpus para as meninas Debby e Megh 

 

"Habeas corpus para as chimpanzés
Artigos
Felipe Lobo   
16/09/2008, 17:41

Rubens Forte é abraçado por Debby (à esquerda) e Megh, em sua propriedade de Ibiúna, São paulo. (Fonte: Divulgação GAP)


O ano de 2004 ainda corria quando o dono de um zoológico particular em Fortaleza (CE) se deparou com um inusitado problema: as duas chimpanzés que moravam ali estavam grávidas. Junto com o pai dos filhotes, a população chegaria a cinco indivíduos, número alto para as dimensões do terreno. Lincoln de Moraes, o proprietário, não viu outra alternativa a não ser doar os bebês para o pequeno empresário paulista Rubens Forte, à época dono de uma propriedade em Ubatuba (SP). Hoje, quatro anos e muitas disputas com o Ibama depois, Forte briga na Justiça pelo direito de continuar cuidando das jovens Debby e Megh. Seus advogados entraram com um pedido de Habeas Corpus para os animais no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que passariam a ter direitos e deveres equivalentes aos de seres humanos.

A rixa com o principal órgão de fiscalização ambiental do país começou no final daquele ano, quando Rubens Forte seguiu até Fortaleza na companhia de um motorista e de um biólogo para receber as chimpanzés. Junto com elas, Lincoln lhe entregou a nota fiscal, o contrato de doação, a Guia de Transporte Animal (documento obrigatório para distâncias intermunicipais) e os dois atestados de saúde física e mental. O único documento que o empresário não conseguiu foi a autorização do Ibama, já que o instituto ainda não homologara sua reserva particular.

Não é o que diz Antônio Ganme, analista ambiental e coordenador da Divisão de Fiscalização de Fauna do Ibama. “Na verdade, todo o imbróglio começou porque percebemos que não havia nenhuma comprovação da origem destes animais”, afirma. Segundo ele, sequer nota fiscal foi apresentada – algo sério por natureza, ainda mais em se tratando de uma espécie exótica, como é o caso. O chimpanzé é originário da África, mas não se sabe como o primeiro casal veio parar em terras brasileiras. O mais provável, no entanto, é que o tráfico internacional seja a resposta.

“Mesmo sem a autorização do Ibama, decidi trazer os animais para São Paulo e entrei na Justiça com uma liminar pedindo o direito de guarda enquanto a homologação não saía”, diz Forte. A permissão foi concedida, mas logo depois o órgão ambiental informou ao juiz responsável pelo caso que a sede do empresário em Ubatuba não cumpria os requisitos básicos para receber os animais. Esta informação promoveu uma verdadeira reviravolta na história: a liminar foi retirada e Rubens deveria devolver os bichos para o Ibama, imediatamente.

Nova propriedade

Não satisfeito com a briga política e pessoal instaurada, o novo dono de Debby e Megh construiu uma área de lazer com mil metros quadrados dentro de uma propriedade de sua família em Ibiúna, situado na região metropolitana de São Paulo. Enquanto os bichos eram novamente transportados, Forte entrou na Justiça pela segunda vez, com um pedido para ser o fiel depositário de ambas. Mais uma vez, o Ibama recorreu do processo sob o argumento de que o novo local também não estava homologado.

Nesta época, o calendário já marcava os primeiros meses de 2007. Foi quando uma das desembargadoras que cuidavam do assunto bateu o martelo em favor da pior solução: introduzir os animais na natureza. Ou seja, na África. A decisão de vossa excelência acabou unindo Ibama, Rubens Forte e o Projeto GAP-Brasil, entidade não-governamental responsável por proteger os grandes primatas no País. “Rubens trouxe as bebês do Nordeste para o Sudeste adequadamente e se comprometeu a cumprir todos os princípios estipulados pelo GAP, como nunca usar os animais para fins comerciais. Não se pode jogá-las na vida selvagem”, diz Selma Mandruca, presidente do projeto.

A explicação é simples. Nascidas em cativeiro, as duas chimpanzés são absolutamente humanizadas, dormem em camas, escovam os dentes e inclusive brincam em balanços. “Os chimpanzés vivem em grupo, não há como soltá-las na natureza. Além de não estarem acostumadas, não seriam aceitas pelos pares. Iriam morrer rapidamente”, afirma Ganme, do Ibama. Rubens Forte costuma passear com Debby e Megh – que têm duas babás 24 horas por dia – pelos 120 mil metros quadrados de vegetação nativa cultivada na propriedade de Ibiúna. “Mas nunca fico longe delas, elas não saberiam o que fazer”, completa.

Agora, ao que parece, os antigos inimigos andam lado a lado. Pelo menos as três pontas da discussão concordam que levar os animais para as matas africanas é uma solução inviável. Sem caminhos para seguir depois da decisão da desembargadora, o GAP lembrou de um processo semelhante ocorrido em 2005, na Bahia. Na ocasião, a chimpanzé Suíça, de 23 anos, ficou muito doente após a morte de seu companheiro. Com a ajuda de biólogos e outros advogados, o promotor de Justiça do Ministério Público baiano Heron Santana entrou com um pedido de Habeas Corpus. A intenção era colocar o animal em uma reserva particular, única alternativa para salvá-lo. Há quatro anos ela era mantida no zoológico de Salvador.

Vistas do processo

“O juiz recebeu nosso pedido e iria analisá-lo. Mas a Suíça, infelizmente, faleceu no dia do julgamento. Vinte e quatro horas depois, ele deu a sentença favorável. O mundo inteiro está fazendo isso, há debates na Áustria e Espanha. O Brasil tem agora (com Debby e Megh) a grande oportunidade de dar um excelente exemplo para o planeta”, diz Heron. Com esta lembrança, os advogados de Rubens Forte foram acionados e prepararam um documento com base na proximidade genética entre os chimpanzés e os homens (cerca de 96%) que foi encaminhado para o Superior Tribunal de Justiça.

O pedido de Habeas Corpus para as duas chimpanzés, ambas com quatro anos, foi indeferido em primeira instância. O empresário, assessorado pelo GAP, recorreu da sentença e conseguiu um novo julgamento. Na última semana, o ministro Herman Benjamim, da Segunda Turma do STJ, pediu vistas do processo para analisar melhor a situação. “Esta é uma semi-vitória”, vibra Selma Mandruca.

Até o Ibama já concorda que os animais devem ficar onde estão. “Mas deveria ser realizado um Termo de Ajuste de Conduta para isso. Por exemplo, uma sugestão seria que a família proprietária do santuário de Ibiúna praticasse algum tipo de compensação ambiental como penalidade pelo início equivocado”, diz Antônio Ganme. Seja como for, a luta continua pela sobrevivência de Debby e Megh, que deveriam ter nascido na natureza africana, e não em cativeiro brasileiro". (http://www.oeco.com.br/preview/37-reportagens/19648-habeas-corpus-para-as-chimpanzes)

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OUTRAS NOTÍCIAS DE JORNAL

"Em fuga, chimpanzé desarma tratador 

 
Ichiro, um chimpanzé de 42 anos, escapou de sua jaula no zoológico de Ishikawa, no Japão, na terça-feira e encontrou um lugar mais fresco no alto de um prédio.Ele ficou lá durante duas horas e meia, enquanto tratadores tentavam o impossível para captura-lo.Chegaram até a disparar dardos tranqüilizantes e jatos d'água contra o chimpanzé, mas nada funcionou. O macaco chegou a tomar a arma de um dos tratadores, mas por sorte ela caiu no chão antes que ele pudesse causar mais estragos. A solução para finalmente acalmar o chimpanzé foi a mais óbvia: uma simples banana. Ao aceitar a isca, o animal acabou sendo dominado e levado de volta à jaula. O problema todo começou depois que um dos tratadores esqueceu de trancar uma porta, permitindo a fuga de Ichiro. A temperatura em Ishikawa passou dos 34 graus na terça-feira" [26.7.2008].
(http://radardanoticia.blogspot.com/2008_07_01_archive.html)

 

 

 

"No Jungle Park, na Flórida, uma chimpanzé adotou dois filhotes de tigre, recém-chegados de outro parque na Carolina do Sul.

Os pequenos Mitra e Shiva ainda não se adaptaram ao calor de Miami, e desde a sua chegada, encontraram na macaca Anjana uma espécie de mãe adotiva.

A treinadora China York conta que a chimpanzé oferece os próprios dedos para os tigres usarem como chupeta quando eles estão chorando e que os três bichos dormem e brincam juntos.

A expectativa é que o relacionamento especial entre a macaca e os tigres continue até que eles cresçam e se tornem perigosos demais para conviver com a chimpanzé.

Essa não foi a primeira vez que Anjana adota filhotes de outras espécies. Segundo a administração do parque Jungle Island, ela também já tratou de leõezinhos e de leopardos". (http://pink.dornbeast.com/?cat=44)

 

"Não são apenas as pessoas que sofrem perdas na guerra. Este simpático filhote de chimpanzé perdeu a mãe na guerra civil que está acontecendo na República Democrática do Congo. O soldado que o carrega resolveu ficar com o animal depois que teve de matar sua mãe para alimentar a tropa. No entanto, pretende vender o bebê. Esperamos que para um bom pai adotivo".

(http://pink.dornbeast.com/?cat=44)