Cuba, censura e presos políticos
Por Cunha e Silva Filho Em: 19/07/2010, às 14H51
Cunha e Silva Filho
Fidel Castro, aos oitenta e três, anos, recuperou em parte a saúde. Sua autoridade no país caribenho ainda é sentida e tem peso. Por detrás do seu substituto, seu irmão Raúl Castro, continua a pairar a sombra do caudilho cubano que livrou a bela e pequena ilha de governos corruptos e inimigos do povo. Castro conseguiu limpar as impurezas do país cujos governos (o último dos quais , o de Fulgêncio Batista, foi por ele derrubado) recebiam o apoio norte-americano. Antes da revolução, todos os governos forma pró-americanistas, governos que geraram tremendas desigualdades sociais, miséria, fome, corrupção, tudo isso acobertado pelos EUA, que, na pequena ilha, tinham negócios rendosos
Entretanto, os rumos da revolução cubana, ao longo de um percurso já longo, não seguiram os caminhos que dela se esperava, uma vez que, realizada a mudança, seu líder preferiu a receita comunista, tornando a nação uma espécie de satélite político da do comunismo russo do qual por muito tempo recebeu apoio comercial e logístico, particularmente em razão do impiedoso, injusto e cruel embargo decretado pela política externa estadunidense. Até aí, poder-se-ia compreender o regime socialista, implantado em Cuba, que não abriu mão de mudanças por vias democráticas, ou seja, eleições livres, alternância de poder e formação de partidos livres.
Seria, isso sim, o comportamento que de Fidel há muito as nações politicamente avançadas dele esperavam. Mas, os ventos de mudanças não vieram. Fidel entronizou-se no poder a ferro e fogo e procurou desenvolver estratégias de opressão contra qualquer voz política dissonante, ou seja, pelo fuzilamento ou encarceramento. Do poder despótico não quis apear, havendo apenas sucessão, por via indireta e nepotista, através da entrega do poder ao irmão, Raúl Castro.
Cuba, ficou, assim, amordaçada politicamente. Contudo, procurou melhorar em alguns setores, como na saúde. Lá a medicina conheceu melhores dias, saiu revigorada, dando exemplo ao mundo de um serviço médico de alta qualidade, que ninguém pode negar.
O povo continua pobre, mas não miserável. A educação é de qualidade.A economia estatizada distribui suas fatias de renda de modo ainda muito frugal. Ninguém lá morre de fome - esta é uma vitória que não pode ser esquecida Mas, no país não há modernização dos transportes e nos demais setores da vida econômico–industrial. O país ainda não desfrutou da prosperidade e do progresso pleno. Não pode ser feliz um povo que vive pela metade, que não conhece os principais benefícios da modernidade e, sobretudo, da liberdade de expressão.
Um país em estado perene de censura à imprensa, que não admite oposição explícita em seu solo, não pode encontrar as vias do soerguimento na sua plenitude.
O maior problema de Cuba é a falta de liberdade, de livre expressão do pensamento, da discussão pública, falada ou escrita, da mídia sem censura. Todos os presos políticos que, até hoje, conseguiram liberdade, esta se deu por mera pressão internacional.
Um país, com um número elevado de presos políticos, se torna uma nação incompleta, fadada a autodestruir-se. Nenhum argumento por parte de seus governantes pode se sustentar sob a censura e a prisão de adversários políticos.
Cuba precisa de oxigenar-se política e ideologicamente. O regime comunista russo não mais existe como era no auge da Guerra Fria ou anteriormente. O mundo é outro e anseia por um valor incontrastável: a liberdade de opinião e de permitir que seus concidadãos possam usufruir do direito de ir e vir, de não serem tutelados em seus modos de vida, em seus desejos e aspirações.
Cuba não sobreviverá no isolamento, sobretudo num mundo cada vez mais interligado.
Desconfio de que Fidel teme abrir o seu flanco ainda contaminado de ideias já ultrapassadas. Até entendo a sua cautela, o seu medo de que o país caia novamente na armadilha de oportunistas e demagogos sem princípios.
No meu modesto juízo, Cuba deve, sim, abrir, com mais desenvoltura, as suas portas ao mundo. Nem tudo é impuro e deletério no mundo contemporâneo. Nações há dignas e ansiosas de que países como Cuba saiam do marasmo e do atraso ideológico. O pluralismo das ideias não significa sucumbir aos cantos de sereias dos mistificadores de plantão em todos os quadrantes da Terra.
Ao determinar, há poucos dias, a libertação de sete presos políticos, vejo que o governo cubano dá sinal de reorientação ao debate dessa questão cruciante para o regime e sobrevivência de Cuba, não obstante um deles, o professor universitário e economista, Antonio Villarreal Acosta, tenha declarado a Luisa Belchior, colaboradora da Folha de São Paulo em Madrid, que esse gesto do governo cubano não significa qualquer forte indicação de que vai mudar seu endurecimento no que concerne a contestadores do regime. Oxalá esse dissidente não tenha razão.
Só vislumbro para Cuba dois caminhos em direção à paz política; a instituição, em médio prazo, da democracia e o banimento definitivo da censura à liberdade de expressão. Logrando isso, o país pode, com prudência e amadurecimento, inserir-se no concerto das nações civilizadas e não hegemônicas.