Conversava com um amigo a respeito do caráter e inteligência daquele respeitado cientista brasileiro, professor titular do departamento de neurobiologia e codiretor do centro de neuroengenharia da universidade de Duke – EUA, da escola politécnica federal de Lausanne - Suíça e coordenador do instituto internacional de neurociências de Natal - Brasil, quando, a fim de adjetivar defeitos que ele parecia não possuir, involuntariamente, veio à baila um neologismo – não para o Google, que detém perto de cinco mil resultados para o termo –: “pedância”, no sentido, de falta de humildade, arrogância. Por respeito ou simplicidade, meu prezado interlocutor não demonstrou qualquer menção de crítica; pelo contrário, visando auxiliar-me, enquanto eu pronunciava tal palavra, ele preferia pedantismo.

                Quase tento corrigir-me dizendo que o colega, sim, estava certo ao se valer do vocábulo correto. Não o fiz porque, na verdade, não fora eu quem criara a expressão: muitos a citaram antes de mim, conforme constatei acessando a rede mundial de computadores; o que não quer dizer, em absoluto, que, por esse motivo, deva-se incorporá-la a nosso riquíssimo vernáculo.

                A propósito de neologismos, os mais atentos e preocupados com nossa flor do lácio, certamente, percebem inúmeras figuras, algumas autointituladas, outras assim consideradas por bajuladores, donas de cultura invejável ou insofismável, nos espaços que ocupam na mídia com artigos, crônicas ou ensaios, amiúde, apropriando-se de expressões desconhecidas ou inexistentes, de acordo com os mais completos dicionários e compêndios gramaticais de língua portuguesa. Melhor dizendo, anagramas, que, somente no entendimento do suposto iniciado em filologia, são palavras morfológica e ortograficamente perfeitas. A impressão que nos dão esses tartamudos ao se utilizarem desses subterfúgios linguísticos é a de que, ou eles compõem o grupo dos indivíduos extremamente vaidosos, soberbos, pedantes e inseguros, ou o dos canastrões, aqueles sujeitos que, por desconhecerem o termo ou vocábulo que melhor se ajusta, sintática ou gramaticalmente à situação fluente, apelam para as invencionices criativas. Parecem querer julgar-se mais que meras ou comuns figuras do dia-a-dia, intelectuais ou sumidades do mundo das letras, formadores de opinião ou metodologias capazes de respaldar ou normatizar os falares linguísticos dos menos afortunados em conhecimento e sabedoria.

                Retomando o tema inicial. Felizmente, também temos, dentro e fora de nossos limites territoriais e geográficos, homens e mulheres que, de fato, nos orgulham imensamente por sua autenticidade, inteligência, simplicidade e humildade. O neurocientista brasileiro, doutor Miguel Nicolelis, um dos mais renomados do mundo e que, há muito, se dedica, dentre outros estudos, à pesquisa de terapias revolucionárias contra o Mal de Parkinson é só uma delas.

Ainda sem o espaço que merece em nossa grande mídia, graças ao prestígio que desfruta internacionalmente, Dr.Nicolelis, em Natal, pretende levar os estudos de neurociência a milhares de jovens; projeto esse divulgado na revista Scientific American, o que lhe possibilitou ser convidado, recentemente, pela organização do Fórum Mundial de Davos para apresentá-lo na Suíça, num fato inusitado para sua história e a do Brasil.

                Pessoas assim, que não fogem do estereótipo de criaturas comuns, exatamente, porque não querem ser melhores do que são, devem sentir-se felizes sempre que se olham no espelho.

                                                                              Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal/escritor piauiense

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