Cozinha, o coração da casa.

[Ismênia Reis]

Antigamente o centro vital de uma casa era a cozinha. Com seu fogão de lenha gerando calor e os afazeres das mulheres transformando suor em alimento. Minha mãe, a primeira que levantava, preparava o cafezinho da manhã que levava a meu pai ainda na rede, para em seguida distribuir o leite da vacaria, enquanto outras mulheres preparavam o beiju e o cuscuz nossos de cada dia.
Nas fazendas, antes mesmo dos primeiros raios de sol, o tum-tum do pilão a dois anunciava junto com o cantar dos galos o nascer do dia.


No Zimbro, minha avó, com seus cabelos em trança, cercada de mulheres preparava o café da manhã e planejava o almoço ou, então, se punha a cozinhar requeijão na grande panela sobre a trempe ao centro da cozinha. A criançada em volta, esperando o manjar que era o requeijão quentinho, macio, ou o término da tarefa para raspar o corroló do fundo da panela.


Na Malhadinha, casa de muitas mulheres, em sua cozinha aberta e clara – diferente do Zimbro – tudo me parecia bem arranjado, como se cada uma já soubesse há séculos o que fazer pela manhã. 


E hoje, aqui estou. Tudo tão silencioso! Falta gente na casa. Falta gente na cozinha.  Saudosismo? Não. Tristeza? Não. Simples recordação.


(Foto: Cozinha do Tamboril - da família Moita)