Coronel Costa Araújo
Coronel Costa Araújo

Reginaldo Miranda*

Nasceu o coronel Antônio da Costa Araújo Filho, na fazenda Quilombo, do município de Teresina, depois passando ao de Altos, em 29 de dezembro de 1874. Eram seus pais Antônio da Costa Araújo e dona Angélica Borges de Lemos, ambos oriundos de famílias conceituadas na região, onde eram abastados fazendeiros. É provável que esta família, pela linha varonil, descenda do colonizador lusitano Domingos da Costa Araújo, fazendeiro radicado na fazenda Belém, que fora povoada por seu sogro no antigo termo de Campo Maior, onde residia no tempo de fundação da capitania do Piauí.

Iniciou os estudos de primeiras letras na cidade de Campo Maior, frequentando a escola do Professor Antônio José da Costa, colhendo as lições deste e de seus filhos Antônio José da Costa Júnior e padre Fábio José da Costa. Mudando-se para Teresina, ali prosseguiu em sua formação intelectual, primeiro no colégio do Prof. João Costa e depois no Liceu Piauiense, onde, a partir de 1888, cursou o ensino secundário.

Com vocação para a carreira das armas, segue para Fortaleza, matriculando-se na Escola Militar do Ceará, em 18 de fevereiro de 1893, primeiro como adido, por falta de vaga, passando logo mais a ser efetivado.

Mais tarde, prosseguiu sua formação na Escola Militar, no Rio de Janeiro, onde concluiu o curso geral em 4 de março de 1903. Em 11 de setembro do mesmo ano, recebe a confirmação da patente de Alferes.

Em 15 de janeiro de 1907, conclui o Curso Especial do Estado Maior da Escola de Artilharia e Engenharia, recebendo a patente de 1º tenente e sendo destacado para o Rio Grande do Sul. Algum tempo depois foi removido para a Praia Vermelha, oportunidade em que, juntamente com alguns colegas de farda, colocou-se contra a obrigatoriedade da vacinação exigida por Lauro Sodré, sendo severamente punido.

Engenheiro militar e bacharel em ciências físicas e matemáticas, ocupava a patente de 2º Tenente, em 8 de outubro de 1908, quando foi distinguido para fazer um curso de práticas especiais na França, não tendo, porém, aceitado o convite. Retornando ao Piauí, foi destacado como um dos engenheiros, para fazer o levantamento de traçado ferroviário.

Comandou a Polícia Militar do Piauí, no período de 19 de abril de 1910 a 25 de março de 1914.

Em 12 de setembro de 1923, o capitão Antônio da Costa Araújo Filho foi promovido à patente de Major do Exército Brasileiro.

Paralelamente à carreira militar, ingressou na política partidária sendo eleito intendente municipal de Teresina no pleito travado em 1916[1] e deputado estadual nas legislaturas iniciadas em 1916, 1920, 1924 e 1928, sendo que na penúltima exerceu o cargo de 1º secretário da mesa diretora. Teve seu mandato interrompido com a Revolução de 30, passando quatorze anos no parlamento estadual.

No entanto, o então major Antônio da Costa Araújo Filho iria prestar relevante serviço à sua terra em 31 de dezembro de 1925, defendendo a capital do cerco da Coluna Prestes. Foi o responsável pela prisão do tenente Juarez Távora, um dos comandantes rebeldes da histórica marcha e que tencionava invadir e tomar a cidade de Teresina. Os rebeldes preparavam uma armadilha para apreenderem uma das lanchas governistas que faziam a vigilância do rio Parnaíba, quando sua patrulha foi surpreendida no lugar Angelim, arredores da capital, pela tropa de Costa Araújo Filho, que comandava dois oficiais e 118 praças. Houve tiroteio de que resultou na tomada do pequeno arraial pelos legalistas, dele desalojando os revoltosos. Sobre o episódio, mais tarde narraria Juarez Távora no livro Uma vida e muitas lutas:

“Ouvindo o tiroteio, à minha retaguarda, tratei de voltar a Caieiras, para inteirar-me da situação. Mas o meu cavalo, assustado com o tiroteio, empacou miseravelmente, obrigando-me a apear para puxá-lo pela rédea e perder o contato com os meus dois companheiros de exploração.

‘Estes conseguiram ultrapassar Caieiras, antes de sua ocupação pelas forças governistas. Eu, porém, ao desembarcar na clareira do bivaque, fui cercado por um pelotão adversário, que me intimou a render-me. Atirado o revólver que vinha empunhando, na direção do intimante, apeei-me, e desarmado me entreguei como prisioneiro” (TÁVORA, Juarez. Uma vida e muitas lutas. Apud: CAMILLO FILHO, José. A Coluna Prestes no Piauí. Teresina: EDUFPI, 1996).

Em entrevista aos jornais de Teresina, disse o destemido major Costa Araújo Filho:

“Continuamos o nosso avanço, apoderamo-nos sucessivamente do cemitério e de várias casas do Arraial. Tendo observado que os rebeldes se ocultavam no cercado da casa de João Antônio de Vasconcelos, demos-lhe cerco apertado, que colocou o inimigo em posição crítica. Foi então que vimos surgir por uma porteira do cercado, um homem de porte varonil, montado a cavalo, trajando camisa branca, calça bombacha e um laço encarnado no chapéu. Apontou-lhe a arma um dos nossos, que depois soube ser o soldado Pedro Marcílio do 25º BC. Apressei-me em gritar que não atirasse e aproximei-me do rebelde. Foi então que ele, tirando do cinto uma pistola e um punhal, arremessou-os ao solo e declarou em voz forte e clara: ‘Sou Juarez Távora’; e entregou-se prisioneiro” (CAMILLO FILHO, José. A Coluna Prestes no Piauí. Teresina: EDUFPI, 1996).

Sobre esse episódio e suas circunstâncias, é também interessante o relato do secretário de Estado José Auto de Abreu, incumbido pelo governador Mathias Olímpio de colocar à disposição de Costa Araújo todos os meios necessários para a defesa da capital. Destacando o destemor do major piauiense, testemunha:

 

“Rumei para a casa de Costa Araújo, no Alto da Moderação, nas proximidades do Colégio Demóstenes Avelino, encontrei Costa Araújo já descendo a Rua do Fio[2], onde o mesmo morava, se encaminhando para o vapor ‘Piauí’, estacionado na rampa do Rio Parnaíba. Ia a pé, assobiando, gingando corajosamente despreocupado. Um caboclo o acompanhava conduzindo a sua mala. Fi-lo parar e falei; Seu Costa, o Matias manda lhe perguntar do que você necessita; Ele me interrompeu, e sorrindo respondeu: ‘Uê, sô, quando se vai para uma guerra agente só precisa de coragem...’, e sorrindo continuou o seu caminho, que bem poderia ser o de uma viagem sem volta.

‘Uma ocasião o Major Costa Araújo e um praça das forças governistas faziam uma espécie de ronda na localidade Areias, zona rural ao sul de Teresina, quando surge então a presença de uma figura imponente ‘um homem de porte varonil’, vestindo uma camisa branca, bombachas, lenço vermelho, cinto largo e chapéu; o homem então vendo a aproximação de um oficial, tentou evadir-se do local, foi quando o soldado engatilhou o fuzil para disparar contra o homem posicionado poucos metros adiante, mais foi impedido pelo Major Costa Araújo que deu voz de prisão; diante desse ato, o homem joga no chão o revolver e o punhal que trazia no cinto e ao ser questionado pelo Major, identifica-se em voz alta; ‘Sou Juarez Távora e me entrego prisioneiro!’.

Essa importante prisão foi desastrosa para os planos da Coluna, abatendo o moral da tropa e desfalcando-a do planejado ataque ao Ceará. Também, causou alvoroço em Teresina, que temia um violento ataque do restante dos rebeldes estacionados em Natal, hoje cidade de Monsenhor Gil, para resgatar o irmão de causa e companheiro de luta. Foi quando entrou em cena o notável Bispo de Teresina, Dom Severino Vieira de Melo. Empenhado em poupar a cidade de uma luta armada sem precedentes em sua história, entrevistou-se com o ilustre prisioneiro e, acompanhado do padre Cristino Santos, ambos montados a cavalo, dirigiram-se ao povoado Natal, a fim de parlamentar com o líder Luís Carlos Prestes e levar-lhe uma carta daquele, onde chegaram ao entardecer do dia 3 de janeiro de 1926. Na manhã do dia seguinte, mantiveram longa audiência com Prestes, Miguel Costa, Cordeiro de Farias e Lourenço Lima. Então, com a intermediação do grande Bispo do Piauí a cidade foi acalmada, embora em momento algum tenha havido prova de que seria a mesma, de fato, invadida pelos rebeldes, que partiram para o Ceará fustigados pela tropa do 25º Batalhão de Caçadores. Juarez Távora, foi recolhido no quartel do referido Exército, de onde, cinco dias depois, foi enviado para São Luís e, em seguida, para o Rio de Janeiro.

Com esse feito, Costa Araújo Filho escreveu uma briosa página em nossa história, fazendo retroceder dos arredores da capital, que desejavam invadir, o grosso da Coluna Prestes. Por sua bravura e distinção, alcançou o posto de coronel. Foi comandante da 8ª Região Militar, com sede em Belém, no Pará.  No período de 26 de outubro de 1930 a 30 de julho de 1933, comandou o 25º Batalhão de Caçadores, com sede em Teresina, sendo reformado em 1935. Em 1932, quando do incidente de Letícia, entre a Colômbia e o Peru, esteve em Tabatinga, no Amazonas, vigiando as fronteiras do Brasil.

Casou-se em primeiras núpcias, a 15 de dezembro de 1899, com dona Clotilde Rosa da Paz, filha do coronel Manoel Raimundo da Paz[3] (1838 – 1923), importante comerciante e político teresinense. Do consórcio nasceram seis filhos, a saber: Ariovaldo, Lineu, Erina, Zilda (esposa do ex-governador José da Rocha Furtado), Manoel e Angélica da Costa Araújo.

Ficando viúvo, contraiu novas núpcias com dona Jovelina Alves de Araújo, de cujo enlace teve mais dois filhos: Antônio Alves da Costa Araújo e Áurea da Costa Araújo.

Faleceu esse distinto militar e político piauiense, na cidade de Teresina, onde residia, em 29 de outubro de 1966. É patrono de loja maçônica na cidade de Campo Maior. Deixou memória honrosa e ilustrada descendência.

__________________

*REGINALDO MIRANDA, autor de diversos livros e artigos, é membro efetivo da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI. Contato: [email protected]

 

 


[1] Mandato 1917-1920.

[2] Hoje Rua Coelho Rodrigues.

[3] Comerciante e político. Filhos e filhas: 1. Clotilde Paz, casada com Dr Antônio da Costa Araújo Filho, pais do Dr Lineu da Costa Araújo, ex-Reitor da UFPI; 2. Corina Paz, casada com Dr. Higino Cunha, advogado, professor, jornalista e escritor; 3. Cristina Paz, casada com Dr Abdias Neves, advogado, escritor e senador da República; 4. Adélia Paz, casada com Gumercindo Saraiva; 5. Júlia Paz, casada com Antônio Monteiro; e, 6. Manoel Raimundo da Paz Filho, ex-prefeito de Teresina.