C O R A Ç Ã O     S E L V A G E M

                                                                                                                                                                                                    josé Ribamar Garcia  

 

                    “CORAÇÃO SELVAGEM” é o mais novo livro do jornalista e escritor Toni Rodrigues, editado pela Editora e Livraria Nova Aliança, e prefaciado pelo escritor Eneas Barros.

                    Trata-se de um romance que tem como espaço a cidade de Teresina e o tempo cronológico  de 1985 ao alvorecer de 2010.

                    O protagonista Teotônio Camargo, ou simplesmente Teo, é o próprio narrador que conta sua história na primeira pessoa. O relato começa exatamente na véspera do Natal de 1985, quando ele tinha 17 anos e formava com seus dois amigos Rudi e Saulo a trinca por eles denominada de “Trio Terrível.”  

                    Teo era um adolescente patético, amoral e cruel. Produto de uma família desestruturada – pai alcoólatra e mãe adúltera - e  tinha uma ascendência sobre esses amigos, que o acompanhavam em todas as arruaças que ele promovia na Teresina de então. Ocasião em que ela começava a mudar de feição, crescendo, desenvolvendo-se, porém, alheia e esquecida da periferia que se favelizava, enquanto os governantes fuçavam na lama da corrupção.  A cidade, praticamente, duplicara sua população com imigrantes vindos do interior e dos estados vizinhos. Os endinheirados trocaram o Centro pela região leste, recém descoberta. A ostentação tornou-se explícita. A droga desembarcou silenciosa e determinada. Pois é, o poder público deixou que a serpente eclodisse seu ovo. E não tardou, surgiram os CARLOS AMADEO. “Traficante de cocaína é preso na Zona Leste” (p.67). Adiante, a leniência da Justiça: “Traficante paga fiança e é colocado em liberdade.” (p. 204). O tráfico gostou. Expandiu-se. Virou um poder paralelo.  E com ele a criminalidade. 

                       Hábitos foram extintos. Dentre eles o “de sentar-se à porta da casa, na calçada, para conversar, trocar idéias sobre política, falar de religião e, acima de tudo, da vida alheia  está se perdendo, mas ainda existe em lugares distantes do centro.” Também os gostos, principalmente, o gosto musical da juventude. O “reggae” jamaicano, de Bob Marley invadiu a periferia, inclusive Buenos Aires que virou bairro e tinha seu clube “Pacadão do Reggae”, de dança solta e de variada coreografia. Até o meado dos anos sessenta esse bairro era um vilarejo isolado e tranqüilo, habitado por pouco mais de cinqüenta famílias. E as canções preferidas eram as de Luís Gonzaga. A propósito, a dança do reggae na capital maranhense é agarrada.  

                      A delinqüência do “Trio Terrível” findou com o acidente ou incidente ocorrido com o protagonista-narrador. Esse acontecimento  mudou radicalmente a vida de Teo. A partir de então, houve certa mudança no tom da narrativa, embora continuasse na oralidade. Fato bem analisado por Eneas Barros:                 

                      “O amadurecimento do personagem principal, aos 37 anos de idade, leva à narrativa uma linguagem mais séria, como se o novo rumo de sua vida trouxesse a ele uma reflexão mais apurada, mais observadora e mais cautelosa”.                   

                       O delinquente juvenil virou empresário. Veio o tempo da purificação. Ou da sua tentativa.

                                                               

                         CORAÇÃO SELVAGEM é um grito contra a insensibilidade humana. Romance chocante, envolvente, impressionante e muito bem estruturado nos seus 34 capítulos. O autor ao dar mais ênfase à verossimilhança, cita alguns nomes de pessoas reais, como a do jornalista Rivanildo Feitosa (p. 68), e a do maestro Aurélio Melo (p. 132). E leitor se surpreenderá a cada parágrafo, a cada capítulo, inclusive no epílogo com uma surpresa, como se assistisse a um filme de suspense.   

                         Enfim, “CORAÇÃO SELVAGEM é um livro importante e de leitura deliciosa.