[Flávio Bittencourt] 

Conto de amor
 
Ela trabalhava duro no salão de beleza e encontrou-o no tumultuado trânsito da cidade.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
 
 
Still [FOTOGRAFIA DE CENA] from Trafic [DO FILME TRÂNSITO, de Jacques Tati] 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"(...) logo uma pessoa tão cuidadosa e zelosa com todos, tinha esquecido de si mesma. (...)"
 
(TRECHO DO CONTO DE RENATA MACHADO, narrativa curta adiante transcrita, na íntegra)
 
 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
Trafic
Rang 9
Titel Trafic (Tati im Stoßverkehr)
Trafic / Monsieur Hulot nel caos del traffico
Jahr 1971
Land Frankreich / Italien
Regisseur Jacques Tati
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Einordnung

Monsieur Hulot, seines Zeichens Konstrukteur und Designer eines Campingfahrzeuges, überführt sein Wunderwerk der Technik zu einem Autosalon in Amsterdamm, auf der Reise wiederfährt dem Stoiker Hulot so ziemlich alles, was einem im Verkehr passieren kann.
Der Film ist eine köstliche Satire auf die autogerechte Gesellschaft. Der Perfektionist Tati in der Rolle des Regisseurs und Hauptdarstellers, liefert hier sein Meisterwerk ab, die vorherrschende Kameraführung ist die Totale und die bedarf des aufmerksamen Betrachters, auch nach mehrmaligen Anschauens gibt es immer wieder neue Einzelheiten der Komik zu endecken...

(http://www.reherrma.de/top/top-film/1970/topfilm1971-1.html)

 

 

 

 

Traffic - Mr Hulot - Jacques Tati - Movie Poster Print
 

 
 
 
 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
3.8.2011 - Ela, personagem feminina do conto de R. Machado, trabalhava duro no salão de beleza e encontrou o seu amado bem no meio do tráfego de veículos - Conto de amor, que consta no portal Recanto das Letras, da lavra de Renata Machado.  F. A. L. Bittencourt ([email protected])
 
 
 
 
 
 
 
 
 

"Aconteceu no trânsito

                                        Renata Machado

Trabalhava duro em um grande salão de beleza da cidade. Bonita, simpática, com um sorriso largo, com um jeito meigo e doce, encantava a todos os clientes.

Era nova, com seus vinte e poucos anos.  Não era tão inexperiente, mas, tinha uma enorme vivacidade, juventude, alegria. Tinha uma esperança de um futuro melhor, embora com todas as durezas da vida.

Dividia com com amigas uma modesta casa, em uma zona da periferia da cidade. Todo o dia, era a mesma rotina: saía umas seis da manhã para chegar umas oito no serviço, e tinha dias que saía umas onze de lá.

Não achava ruim. No serviço, era uma forma de mostrar o melhor de si, como sua simpatia, seu dom de tornar as clientes se sentirem bonitas, não somente com as suas atribuições de lavar, secar, maquiar, enfim, mas, também,com suas doces palavras de incentivo.

E como aquelas palavras tinham um poder mágico !! Muito mais que spas, revistas de modas, bisturis....

A mulher que, por acaso, se sentisse feia, depois de passar por seus serviços, passava a sentir mais bela, mais confiante, mais feminina...com simples gestos de um amor  tão incondicional, tão imensurável, tão fora da capacidade de compreensão de muitos.

Mas, logo uma pessoa tão cuidadosa e zelosa com todos, tinha esquecido de si mesma. Depois de uma grande desilução amorosa, nunca mais quis um relacionamento.

Entretanto, isso iria mudar....

Um belo dia, resolveu voltar de carona com uma amiga. Na volta, estava um trânsito infernal, um amontoado de carros.

Qualquer um, no lugar dela, poderia haver pirado, mas, ela, na sua grande vontade de superar suas tristezas, não se deixou abater...ouvia aquela alegre música no rádio, e, como aquele mágico som a fazia feliz !! Cantarolava aquelas músicas como se estivesse vivendo cada uma das letras.

Mal sabia ela que tudo isso iria mudar a vida dela para sempre !!

Emparelhado com o carro da amiga, havia outro. Neste, como condutor, havia um rapaz, nem tão lindo e nem tão feio, normal. Gritava incansavelmente para ela, pedindo o seu telefone....ela resistiu, mas forneceu o número.

Pensou: "que mal pode haver? O pior que pode me acontecer é ele me ligar". E não é que ligou ?

Falaram-se seguidas vezes ao telefone, até que um dia saíram. Foi um lanche. Conversaram. Deram o primeiro beijo.

Saíram mais algumas vezes.

A primeira noite de amor foi inesquecível. Ele, um professor de uma escola primária, não hesitou, e ofereceu àquela simples, mas doce moça tudo que de melhor pode.

Pagou um lindo buque de flores; jantaram em um restaurante divinamente elegante...e a noite de ambos foi finalizada em um lindo hotel cinco estrelas da cidade.

Ela, que sempre viveu de forma modesta e nunca havia vivido com tanto luxo em sua vida, chorou de muita emoção. Mas, o mais importante: nunca havia recebido tanto afeto em sua vida.

Amaram-se de uma forma tão afetuosa, tão carinhosa. Nos braços daquele homem, ela se sentia de fato uma mulher, completa, inteira, amada.

Ele, em todos os momentos que viveram juntos, sempre a respeitou, e isso era o que ela mais gostava nele. Lembrava o seu querido pai...

Tinham sim suas discussões, mas sempre havia um nível de igualdade e, em nenhum dos momentos de eventual tensão, qualquer um dos dois se sentia subjugado, submisso, desigual  com relação ao outro.

No final, tudo sempre dava certo. Com muito carinho e afeto.

Casaram-se. Cada um tinha suas atribuições, o que era bom para ambos. Eram fieis e leais um ao outro.

Eles cresceram em suas profissões. Ela fez faculdade de assistência social e trilhou uma linda carreira , exercendo o que sempre gostou: ajudar os outros.

Um dia, ela perguntou para ele  o que havia visto nela, no meio daquele enorme trânsito e ele assim respondeu: "a sua enorme luz, alegria, passou por todos aqueles carros como uma flecha e perfurou meu coração. NAQUELE MUNDO TÃO CAÓTICO E ESTRESSANTE, VOCÊ ERA O QUE HAVIA DE MAIS BELO E PURO !!"

Se viveram felizes para sempre ? Aí é outra estória, mas, com certeza, não seriam mais os mesmos, para sempre."
 
[13/08/2010]
Alterado em 30/07/2011)