Era para lhe ter feito o comentário que ora lhe faço, mas, como usava, ai em Teresina, um tablet, eu não conseguia digitar o texto no espaço adequado. Agora, de volta à minha casa, escrevo-lhe, como habitualmente, do meu computador.

                    V. me antecipou, poeta "malabarista do verso," na crônica “Passeio sentimental no tempo e no espaço” o que eu faria também sobre a nossa visita a Amarante, quer dizer, o que nós, em família, experimentamos na viagem de algumas horas a Amarante.  E o fez em crônica saborosa, fiel aos acontecimentos vividos por mim, V., Fátima e Elza. Foi, na verdade,  o que poeticamente diz o título da mencionada crônica...

                 Vejo que o amigo, no seu texto se mostrou, como vem fazendo ao longo do processo de sua escrita literária, seja em poesia, seja em prosa, exemplarmente nesta tarefa de relatar com naturalidade e sentido lírico, fixando o olhar na paisagem humana, na paisagem física e na sua forma de interpretar os homens e os fatos com muita dose de humor saudável, brincalhão, mesmo fazendo coisas sérias, que é produzir suas crônicaS no seu conhecido e bem lido “Blog de Elmar Carvalho”.

                 A sua crônica, portanto, não deixou um único aspecto de fora em "nossa" visitação à Amarante, ao fundir harmoniosamente as nossas vivências com vida literária. Daí, a adequação que teve para declamar um poema seu com o seu sotaque tão característico e cheio de exaltação lírica, resultando num quadro perfeito de escrita posteriormente elaborada. É pena que, no mirante de Amarante, a sua empolgação na fala aludindo ao poeta da Costa e Silva e ao lamentar que foi rejeitado o pedido feito ao filho do poeta para que os restos mortais do maior vate de Amarante e da poesia piauiense  fossem trasladados do Rio para Amarante.É pena também que,  ao manejar o meu tablet, me faltasse coomptência técnica para realizar a filmagem com som e tudo.

               Ainda falando de sua crônica, há que nela se destacar a singularidade da escrita como resultado do que, de improviso, do alto da escadaria, ressaltou sobre as belezas bucólicas da cidade de Amarante e das serras do lado do Maranhão tendo como intermediação afetiva e nostálgica a figura do Velho Monge, do hoje maltratado rio Parnaíba, elemento físico inseparável da beleza natural daquela cidade que tanto amamos. 

           . V., Elmar, me surpreendeu como figura humana bem mais descontraída do que no tempo em que o conheci ainda muito jovem nos idos de 1990, tempo em que tive o grato prazer de iniciar com V. uma amizade que, da minha parte, jamais esvaecerá ainda que sabendo o quanto, por vezes, as amizades mudam para melhor ou para pior. Da minha parte, julgo que será durável nos limites de nossa perenidade na Terra. Já o considero uma pessoa que conquistou o meu coração e o da Elza.        

             Volto à crônica que vinha comentando em alguns traços gerais. Mas, não posso esquecer de mencionar o momento de encanto quando entramos no Museu Odilon Nunes. Ali a história se volta inteiramente para o passado e toca todas as fibras do meu ser saudoso, sempre tentando conviver com o valioso legado da afetividade relacionada à figura de meu pai. As fotos que tiramos juntos têm como elemento de identidade e aproximação entre nós o sentimento profundo da afetividade minha e, creio, sua também, cujo ponto de união se manifesta através da presença do busto de meu velho pai, obra que é fruto do talento do meu irmão Winston, um escultor boêmio e desapegado das coisas materiais.

            Tudo naquele ambiente de objetos antigos da cultura amarantina me desconcerta e invade profusamente o meu mundo interior dadas as associações que ali fiz de todo um tempo que já foi vida trepidante, em salas nas quais meu pai, na condição de professor do Ginásio Amarantino, sob a direção de Odilon Nunes, tantas vezes por ali andou e principalmente por ali tinha seu espaço de sobrevivência, suas alegrias e tristezas e todas as vicissitude por que passa a vida de um docente.

            Ah, não poderia deixar de mencionar em nossa viagem sentimental algumas circunstâncias, que, no final, acabam por fazer parte da própria andança sentimental: a travessia de municípios no trajeto para Amarante, as cidades de, por exemplo, Regeneração, Angical, Água Branca; a parada de carro para um rápido lanche na Lanchonete do Sales cheia de santinhos de candidatos de todos os partidos; a dúvida que V. teve sobre qual a estrada, na agradável viagem de carro, seria a correta, pois, numa certa altura, ela se bifurcava em dois sentidos, um dos quais nos levaria a Amarante, porém, o problema logo felizmente foi resolvido pela informação de um morador; a dificuldade de encontrarmos o restaurante que queríamos constituíram momentos de muito humor para todos nós. Por último, o fato de que, naquela hora que estávamos em Amarante à procura do casa de minha irmã Sônia, observamos que toda a cidade poderia estar fazendo sua sesta debaixo do calorão de uma cidade velha, cheia de mistérios e com um ar de solidão e abandono.

           V., graças à sua poesia com uma vertente dirigida à condição de poeta geográfico do Piauí, se sente, a meu ver, liricamente preso à velha Amarante, tanto mais que a poetizou engrandecendo assim o repertório da lírica amarantina em versos que seguramente ficarão gravados para sempre na história cultural da cidade. A poesia faz parte do sua personalidade literária, meu caro Elmar, e mesmo na sua ficção, ou na crônica, ela se faz presente..

           A sua crônica marca um ponto de convergência saudável e aglutinador entre a minha pessoa e a sua. Isso me é confortante e me desvanece o espírito. Sua crônica sela em definitivo uma amizade que passou do domínio da intelectualidade para o domínio de uma amizade que só poderá crescer com o anos. Ou seja da condição de crítico de sua obra me tornei um seu amigo. Não é o primeiro caso na história literária brasileira ou universal. Quero, por outro lado, lhe agradecer mais uma vez pelo gentil convite que me fez e à Elza para, junto com a Fátima, fazermos uma deliciosa, histórica e afetuosa visita à minha Amarante regada a um "causer" divertido, espirituoso, cavalheiro e sobretudo amigo.