[Maria do Rosário Pedreira]

Dedico-me a ler – e ler é, grosso modo,a minha profissão. Porém, não lemos hoje todos e a toda a hora? Num artigo que o jornal espanhol El Paíspublicou há algumas semanas na secção de Cultura, a autora, Virginia Collera, fala de leitura consciente e inconsciente e refere que nunca lemos tanto como actualmente, pois o nosso cérebro está permanentemente a ser convocado pelo texto, seja de uma factura de electricidade, dos ingredientes da caixa de cereais do pequeno-almoço, das tabuletas que nos indicam direcções nas auto-estradas ou dos cartazes publicitários com que nos cruzamos a caminho do emprego: leitura, quase sempre, inconsciente. A consciente pode estar presente quando pegamos no jornal ou num romance, quando fazemos uma pesquisa no Google ou quando queremos saber o que publicaram no nosso mural do Facebook. Mas o verbo, «ler», é o mesmo, embora a atitude seja completamente distinta. Também quanto ao livro, as coisas já não são todas iguais. Se até há pouco tempo o vocábulo significava «um conjunto de folhas de papel encadernadas constituindo um único volume», a verdade é que o digital veio mudar essa acepção e há já quem  proponha uma definição que se preocupa apenas com o conteúdo e ignora a forma. O problema é que, segundo estudos realizados sobre os hábitos de leitura, parece que as pessoas estão a perder a paciência para a leitura pausada, porque a leitura inconsciente, sobretudo na Internet, as desmotivou para o que é profundo e requer esforço e lentidão. Sei que não é o caso dos leitores deste blogue, mas será que a leitura como eu a sinto esta ameaçada?