Compadre Lemos - Animais em haikus

 

Luiz Lemos é um poeta cordelista e pesquisador de cultura popular, nascido em Minas Gerais, que produziu muitos haikus com animais.

Brasília, 1º.11.2009,

em memória de Haroldo Eurico Browne de Campos, Professor Emérito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

 

 

 

 

"Dinossauro

             Compadre Lemos

 

Acharam o fóssil

No Nordeste.

Pré-histórico cabra-da-peste!" 

 

 

 

O blog "Poesiarte" assim apresenta o talentoso Luiz Lemos:

 


"(...) Luiz C. Lemos. Poeta cordelista, pesquisador de Cultura Popular e conhecido como Compadre Lemos. Nascido em 14 de janeiro de 1954 em Teófilo Otoni- MG, (...) [mora] atualmente em Juiz de Fora-MG. (...)". (http://poesiarte.blogspot.com/2008/01/poesiarte-apresenta-luiz-c.html)

 

 

  

 

 

Ouso declarar minha preferência pelo seguinte poema de Luiz de Lemos:

"Imerso em lama,

 Vive o porco

 Os limites do corpo".

E explico, se o esforço não for redundante. A idéia de que fora da lama o porco não vive (completamente) seu corpo é interessante: o poema é tátil. Palavras parônimas, 'porco' e 'corpo' são, sob o aspecto sonoro, semelhantes também a 'dorso', palavra utilizada por Haroldo de Campos em tradução de famoso poema de V. Khlébnikov (1885 - 1922).

Escreveu o Prof.  Boris Schnaiderman, da Universidade de São Paulo, no prefácio de Poesia Russa Moderna - Nova antologia (São Paulo: Brasiliense, 1985): "A obra anunciadora de Velimir Khlébnikov, não se parecia com nada do que se fizera anteriormente. Anulavam-se não só os clichês introduzidos pelo simbolismo, mas toda a linguagem convencional se desarticulava. Sua poesia parecia às vezes não ter sentido, mas, na realidade, o que ele trazia, na feliz expressão de Iúri Tinianov, era 'um novo sistema semântico'. Ela só não tinha sentido para quem não conseguia apreendê-lo, nem perceber nele o verdadeiro significado dos novos tempos".

O poema de Khlébnikov, apresentado entre nós brasileiros por B. Schnaiderman, em cuja transcriação o saudoso Prof. Haroldo preferiu "Eis-me levado em dorso elefantino" a "Eis-me levado em dorso de elefante":

Miniatura indiana antiga.

"Eis-me levado em dorso elefantino,
Palanquim no elefante virgem-fúmeo.
Todas-me-amando, novo Vixnu,
Tramam, miragem nívea, o palanquim.

Músculos de elefante, balançai,
Armadilhas de caça, magníficas,
Para que sobre a terra a que descai
Agora tombe em tromba de carícias.

Brancas miragens, vós, com manchas negras,
Mais brancas do que a flor da cerejeira.
Vossas formas fremindo estão retesas
E flexíveis como plantas da treva.

Eu, no elefante branco, Bodhisattva,
Vou como antes, tenro, pensativo.
A virgem que me vê responde grata
Com flamas que são feitas de sorrisos.

Sabei que ser o peso elefantino
Jamais, em parte alguma, foi vergonha.
Trançai-vos em cerrado palanquim
Ó vós, enfeitiçadas pelo sonho.

Difícil imitar a pata larga.
Difícil ser o dente no seu curvo.
Cantos, coroas, santo som da flauta:
Conosco, sobre nós, o Olhiazul.


1913 (?) 1

1 Texto encontrado entre os rascunhos do poeta e estabelecido por N. Khárdjiev. Escrito provavelmente em 1913, sob a inspiração de uma miniatura indiana antiga, foi publicado somente em 1940, num livro de inéditos do poeta. O cineasta S. M. Eisenstein, que não poderia ter conhecido esses versos, impressionado com a mesma miniatura, reproduziu-a, com um comentário, em seu ensaio Montagem 1937, editado postumamente em 1964.

(Tradução: Haroldo de Campos)".

(http://www.culturapara.art.br/opoema/velimirkhlebnikov/velimirkhlebnikov.htm)

 


Esta coluna "Recontando estórias..." tem a alegria de reproduzir vários haikus elaborados por Compadre Lemos, todos eles contidos no portal desse autor - www.compadrelemos.com.br -, entre eles os notáveis poemas (haikus ou "haikais") DinossauroPorco. É o que acontece a seguir!

"Animais em Hai Kai
                                                           Compadre Lemos


Beija-flor:

O beija-flor,
parado no ar,

não-voar!

Cão:


Na poça d'água,
- Choveu na rua -,
O cão lambe a lua!

Mosquito:


Que seria do resto,
No prato bonito,
Não fosse o mosquito?...

Abelha:

Zumbido mansinho,
Embaixo da telha:
- É casa de abelha!...

Leão:

Ruge o Rei:
O inimigo vem!
A leoa... Nem!...

Zebra:

Exibe a zebra,
Matinal,
Seu pijama natural!

Mico Leão Dourado:

Lá vem o Homem,
Arma na mão:
-- Nunca mais, mico-leão!

Borboleta:

A leveza voa,
Sozinha,
Na borboletinha!

Minhoca:

Trabalha a humildade,
No fundo da toca:
Uma minhoca!...

Peixe:

Nas próprias mágoas,
Morreu afogado
O peixe dourado!

Águia:

No céu poluído
Águias, com dores,
Morreram de amores!

Sapo Jamaicano:

A música do sapo,
Na noite, prossegue:
Reggie, Reggie, Reggie!...

Formiga:

Preguiçosa?
Não há quem o diga!
Ela é... formiga!

Elefante:

Enforcou-se,
Num barbante,
O poético elefante!

Lobo:

Preferiu a vovozinha,
Aquele bobo!
-Vá entender um lobo!...

Tigre:

No canto da sala,
O velho tigre,
De bengala!

Tigre 2:

No velho tigre,
A boca se abre.
Onde, o teu sabre?...

Pantera:

Elegante, negra,
Luzidia fera:
Eis a pantera!

Pernilongo:

Infindo zumbido
Em ditongo,
Zuniu o pernilongo!

Tatu:

Estranho, o tatu:
Gravata, colete
E capacete!...

Paca:

É tiro, armadilha,
É foice, é faca...
-- Cadê a paca?...

Cotia:

Houve um tempo
Em que ainda havia
O verde e a cotia!

Galo:

Aqui, no terreiro,
Às vezes, não falo:
Eu canto de galo!

Galos

Que me desculpem
Noites, quintais e galos,
Mas eu sou Cruzeiro!

Gato:

Imóvel,
Como um retrato,
Dorme o gato.

Cobra:

De pés invisíveis,
Afasta-se a cobra.
O homem se dobra!

Escorpião:

À espreita,
Maior que o escorpião,
O ferrão!

Lagarta:

Da lagarta humilde,
Da perfeição do casulo,
A borboleta!

Urso:

A força imensa
Do urso gigantesco:
Ainda assim, de pelúcia!

Urso Panda:

Triste, quase extinto,
Fraco, manco...
O ursinho em preto-e-branco!

Cegonha:

Escondemos a origem,
Talvez, com vergonha:
-- Foi a cegonha!...

Cavalo:

O cavalo corre,
O boi morre,
O homem sobrevive!

Verme:

Ínfimo ser,
Árdua lida:
O verme é vida!

Ameba:

Disforme, desprezível,
A ameba. E, contudo,
A origem de tudo!

Vírus:

Vê o vírus:
Invisivel!
No entanto, terrível!...

Baleia:

Engordou,
A bela sereia!
Virou baleia!

Lesma:

Arrasta-se a lesma,
Sempre em frente,
Lenta, lesmamente!

Hipopótamo:

O hipopótamo,
A maior boca do mundo,
Só come ervas!...

Jacaré:

Sonha o jacaré:
Um dia, serei bolsa,
Nun shopping de luxo!...

Calango:

Pergunta o calango:
-- Ô xente, água...
Que diabo é isso?

Porco:

Imerso em lama,
Vive o porco
Os limites do corpo!

Andorinha:

Perdida andorinha,
Voando sozinha?
Jamais verão!

Garça:

Lagoa seca:
Esgarça-se a graça
De toda garça!...

Anta:

Ante humanos impropérios
A anta, inteligentíssima,
Nada diz!...

Cão 2:

O vira-latas, morto,
Decretou a morte
De seiscentas pulgas!


Urubu:

Fétidos odores
Sobrevoa, solene,
Para sobreviver!

Galinha d'Angola:

Sôfrega galinha
-- Tô fraca, tô fraca!
Saudades d'Angola!

Dinossauro:

Acharam o fóssil
No Nordeste.
Pré-histórico cabra-da-peste!

Pavão:

Nunca olha pra baixo,
O belo pavão
De horrendos pés!

Peixe:

Para o peixe,
Tão vital,
Como a água que se respira!

Juriti:

Gonzagão imortaliza
Toda a saudade
Em "Aza Branca".

Pulga:


As pulgas, no corpo,
Me vêm dizer que estou vivo.
Perdido, no tempo.

Tubarão:

E disse o polvo,
Todo indignado:
Até tu, Barão?...

Mulher:

Onçafelina, mansaleoa,
Tristigreza,
Mas de salto alto!

Homem:

Mata o bicho,
Mata a mata, sem dó,
E morre só!...
".

(http://www.compadrelemos.com/visualizar.php?idt=1023189)

 

Leia, se tiver tempo e interesse, minha "dica" poético-zoológica intitulada "Quando Leminski traduz Bashô", que você pode encontrar, na Web, em:

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/quando-leminski-traduz-basho,236,2373.html.

Nos antípodas da finíssima sensibilidade poética de Bashô estão algumas fotografias "quase brutais" (dado o gigantismo do animal fotografado), "hipernaturalistas" - não fosse "hiper" a própria constituição do inacreditável bicho -, da salamandra gigante da China, que reproduzi em

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/peixe-bebe-chora-como-uma-crianca,236,2513.html.

Como se não bastasse a estranheza que causa essa criatura, a grotesca superssalamandra emite gemidos semelhantes ao choro de um bebê humano. Esse monstro, que é muito diferente da pequena rã do haiku de Bashô, dizem, pode alcançar o comprimento de um metro e oitenta centímetros, mas a salamandra gigante que aparece na foto não chega a tanto...

Por fim, experimento criar um haiku, "Monte Pascoal", adiante transcrito, não sem antes estabelecer um paralelo com o conhecimento de Noé que o Dilúvio regredira.

Jesus Luz do Mundo (pseudônimo), em 5.8.2008, ilustrando com bela pintura certa passagem da Bíblia Sagrada, apresenta o seguinte trecho do Gênesis:

 

"Noé solta uma pomba para ver se as águas do dilúvio minguaram

Gênesis 8:8 Depois, soltou uma pomba para ver se as águas teriam já minguado da superfície da terra;
Gênesis 8:9 mas a pomba, não achando onde pousar o pé, tornou a ele para a arca; porque as águas cobriam ainda a terra. Noé, estendendo a mão, tomou-a e a recolheu consigo na arca.
Gênesis 8:10 Esperou ainda outros sete dias e de novo soltou a pomba fora da arca.
Gênesis 8:11 À tarde, ela voltou a ele; trazia no bico uma folha nova de oliveira; assim entendeu Noé que as águas tinham minguado de sobre a terra".

(http://imagensbiblicas.wordpress.com/2008/08/05/noe-solta-uma-pomba-para-ver-se-as-aguas-do-diluvio-minguaram/)

 

  

Monte Pascoal

             Flávio Bittencourt

 

Terra quase à vista.

No caminho para as Índias,

Cabral vê a ave.

 

 

Bom domingo,

bom feriado,

reverenciadas sejam as memórias de nossos maiores que já desapareceram.

F. A. L. Bittencourt

 

[Em Orlando, Flórida (EUA), conheça (1) o Disney Animal Kingdom, (2) o Jurassic Park em Universal Orlando / Islands of Adventure e (3) o Planet Dinosaur no Zoo Brevard, localizado nas proximidades da praia de Melbourne, Flórida.  Navegando pela Internet, visite

http://blog.orlandovacationnews.com;

Foto do topo:

http://blog.orlandovacationnews.com/index.php/2008/04/08/make-your-orlando-vacation-prehistoric-with-these-exciting-dinosaur-attractions/ (Orlando Florida Vacation Blog).

 

Em Sousa (Município do Estado da Paraíba, Nordeste do Brasil), visite o Vale dos Dinossauros, a 250 km da capital da PB, João Pessoa / Dinossaur Valley in Northwest Paraiba, Brazil). Sousa fica próximo a Cajazeiras (Noroeste da Paraíba) e a Juazeiro do Norte (Sul do Estado do Ceará).

O que é o Vale dos Dinossauros e o mapa de sua localização (Estado da Paraíba):

http://www.viagemdeferias.com/joaopessoa/paraiba/sousa.php.

Como chegar ao Vale dos Dinossauros:

http://www.braziltour.com/site/br/cidades/materia.php?id_cidade=8410&regioes=4&estados=15.

Onde ficar (hotéis) para conhecer o Vale dos Dinossauros, Município de Sousa, Paraíba, Brasil:

http://www.vtn.com.br/hospedagem/estados/paraiba/az/sousa.htm.

 

Conheça, na região Sudeste do Estado do Piauí, os sítios arqueológicos (pinturas rupestres / rock art) do Parque Nacional Serra da Capivara, Município de São Raimundo Nonato-PI [Capivara Mountain National Park in Southeast Piaui, Brazil]:

http://www.folhadomeio.com.br/publix/fma/folha/2009/07/capivara201.html;

http://www.sistemaodia.com/noticias/niede-guidon-inaugura-o-museu-virtual-da-serra-da-capivara-45886.html;

http://www.fumdham.org.br/.

Obs. - O mencionado Parque Nacional, além de abranger o Município de São Raimundo Nonato-PI, está situado também nos seguintes municípios piauienses outros: João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias. Fonte: http://www.fumdham.org.br/parque.asp.]