Como vi Menotti Del Picchia
Em: 29/07/2019, às 12H16
[João Scortecci]
Conheci Menotti Del Picchia (poeta, jornalista, tabelião, advogado, político, romancista, pintor e ensaísta) no final dos anos 70. Em 1982, quando abri a Livraria Scorteci Editora (Teodoro Sampaio, 1704 - loja 13, Galeria Pinheiros) tive a honra de receber a visita de Menotti e Lygia Fagundes Telles, quando chegaram - de surpresa - de braços dados. Frequentei sua casa na Av. Brasil (São Paulo) varias vezes. Fiquei amigo também de Helena, sua enteada, filha de Charles Miller (homem que trouxe o futebol para o Brasil). Menotti, durante anos, colaborou com o meu avô José Scortecci na Revista PAN (1934-1945). O Príncipe dos Poetas (1982) era “fã” de Juscelino Kubitschek. Tinha uma foto do Presidente JK na parede da entrada de sua casa. Vez por outra conversávamos sobre a Semana de Arte Moderna (1922) e o personagem principal era sempre o “esfomeado” Oswald de Andrade. Segundo o Príncipe Menotti o vate antropófago era possuído por uma intensa, profunda e constante fome. Reuniam-se – costumeiramente – aos sábados, em sua casa. Chegando abria geladeira, armários, saco de pão velho, tudo. A baixa era grande. Helena, que sempre participava dos papos - balançava a cabeça concordando. Para fugir dos ataques, por sugestão de alguém, criaram um “sopão” com todas as sobras da semana. Menotti que era pintor e retratista (tenho dele algumas gravuras que ganhei de presente) chegou a pintar um quadro com Oswald de Andrade, de babador, antropofagando o “sopão”. O quadro (de fazer inveja a Tarsila do Amaral) ficava na parede da cozinha da casa, como prova do crime modernista.