Como está a Síria?
Por Cunha e Silva Filho Em: 28/03/2013, às 21H42
Cunha e Silva Filho
Há tempos não volto a esse assunto, as atribulações experimentadas pelos sírios ainda sob o controle do ditador Bashar Al-Assad. Só sei que a oposição ainda resiste a uma tomada do poder nas mãos ensanguentadas do atrabiliário homem forte do país, impassível, por vezes mesmo esboçando um sorriso esgar , indiferente á sorte das centenas de mortes que, por determinação de seu exército, têm sido ceifadas sem dó nem piedade.
Terra arrasada na sua topografia arquitetônica, nas suas edificações, nas sua moradias, enfim, na sua infraestrutura de serviços que deveriam ser prestados à população, e, o que é muito e sempre gravíssimo nas repetidas e acumuladas perdas de vidas inocentes durante todo esse período de guerra civil. Não são as perdas materiais as piores sem dúvida, mas sim a tragédia humana, com a perda das mínimas condições de vida e sobrevivência. Ora, um país cuja população não pode prever o que, de um minuto para outro, pode lhe acontecer de desgraça, vive sobressaltado a todo instante por explosões de todo tipo de armas modernas lançadas contra o que o governo chama de opositores.
Esse Nero da atualidade é capaz de mandar explodir bombas em lugares e, em comunicado, afirmar que as explosões partiram do que ele denomina cinicamente de “rebeldes.” As últimas notícias de que vim a saber referem que o ditador, num ataque da oposição, ficou ferido.Não sei se isso não passa de especulação, pois as notícias que vêm de lá encontram dificuldades de transmissão seguramente pelos mecanismos de controle de informação do governo.
O leitor pode perceber que, até aqui, não mencionei nada sobre organismos internacionais que deveriam ter tomado as providências drásticas contra o ditador. Tudo, no meu juízo, já foi tentado pela ONU e seu Conselho de Segurança. Mas, pelo que se vê, nada de mais concreto se tem feito para diminuir a dor dos sírios, aliás, divididos entre os que fazem coro com as atrocidades do ditador e outros que se lhe opõem veementemente pelo derramamento de sangue na velha Síria.
De vez em quando, uma notícia parte do governo norte-americano declarando que o país irá endurecer com a tragédia da guerra civil na Síria. Entretanto, que contradição de um país que atacou , sem razões imperiosas, o Iraque, num cometimento de um erro crasso de sua política externa e, para o caso da Síria, nada de grande importância tem feito para minimizar as agruras da sociedade síria infelizmente dividida nas suas aspirações políticas. Os EUA, ainda na sua condição de líder mundial, tem , sim , o dever, somado a outros países que fazem parte da ONU, de conseguir ajudar os opositores ao regime discricionário de Bashar Al Assad e apeá-lo do poder. Mas, me parece que os EUA , com todos os problemas internos a resolver, sobretudo os financeiros, receiam entrar com mais firmeza no conflito dos sírios.
Enquanto isso, a guerra civil entre irmãos da mesma pátria prossegue violenta, desumana, entregue à própria sorte das possibilidades e poder de ataque dos opositores contrapostos com as armas mais pesadas do ditador com possibilidade de usar, ou ter usado, armas químicas. Representantes diplomáticos da ONU, de outros organismos internacionais pacíficos, da Cruz Vermelha Internacional, já por várias vezes estiveram em Damasco, conversaram com o governo autoritário e de concreto praticamente nada sobrou.. Será que nada que se tem feito, no plano diplomático de negociações, serviu , até agora, para por um ponto final à ditadura síria?
A ONU, o seu Conselho de Segurança, só têm servido para tentativas de negociações inócuas. Será que nada faz o ditador recuar e desistir do fascínio e das benesses do poder usurpado? Será Bashar Al Assad um déspota invencível? Dá o que pensar, seguramente o ditador conta com o apoio de países e de ajuda militar e política, seja a Rússia, seja a China, e com isso dá a impressão de inexpugnável? As imagens do ditador que, de vez em quando, surgem nos noticiários da televisão mostram-no bem vestido, com olhar de aparente tranquilidade que não corresponde às atrocidades e aos horrores vividos pela sociedade síria.
Estranhas essas imagens que dele captamos, o que prova ser a imagem uma contrafação, um simulacro da realidade assombrosa, espécie de genocídio de um homem que semelha sustentar-se eternamente na sua posição de senhor verdugo do seu próprio povo.
Resta-nos, despontados, aguardar que a seriedade, a justiça internacional, os seus organismos mais competentes reflitam maduramente sobre a triste sina de que há dois anos vem sendo um povo vítima da imolação de um único homem cuja insensibilidade paira acima das dores humanas. Que não só reflitam, porém congreguem esforços, neste mundo globalizado, no sentido de desbaratar a ditadura síria e redimir o seu povo do “cativeiro” e da extrema aflição e sofrimento, pelo menos daqueles que, não tendo conseguido migrar para a Turquia ou outro país vizinho, deixaram para trás o rastro de sangue das mortes de crianças, jovens, adultos e idosos à procura da tão sonhada paz da alma e do corpo.