Comentando um comentário
Em: 03/07/2009, às 00H42
Comentando um comentário
Rogel Samuel
Leila Miccolis comentou um poeminha nosso.
Comentar um poema é tão gostoso quanto escrevê-lo. Comentar um bom poema, não um meu. Tenho consciência de minhas limitações.
Eu escrevo comentários desde que era menino. Mas Leila foi generosa, minha amiga, com meu poema.
É claro que muitas vezes o comentarista é melhor do que o texto comentado. Como é o caso. Este caso.
Quando comento, mergulho no imaginário do poema, geralmente grandes poemas, fecundos poemas de grandes poetas, como a própria Leila.
Fiz isso durante mais de 30 anos em sala de aula, transformando a minha profissão numa coisa prazerosa.
Tem muita gente que acha que esses comentários não são exercícios de crítica de literária. Pensa que são crônicas.
Para eles, crítica tem de ser cerebral, seca, árida, coisa de professor de literatura (mau professor, diga-se). Não conhecem a crítica criativa, a hermenêutica por exemplo, quando o texto crítico concorre com o texto objeto. Quando o crítico se reconhece no texto.
É uma volta ao impressionismo crítico do Século 19? Talvez, talvez. Com cautela. Mas já T. S. Eliot dizia, creio, que o melhor crítico tinha de ser um poeta. É avançar no texto, apropriar-se dele, como fazia Barthes, fazê-lo seu, fazê-lo falar.
Até na filosofia isso se dá. Habermas que o diga.
Mas é claro que o comentarista crítico fica no fio da navalha, não pode ultrapassar e enlouquecer, dizendo coisas que não estão no universo semântico do texto comentado. Nem se trata de procurar o autor no que o texto diz. Já se declarou a morte do autor, a morte do sujeito.
Eu não mereço o ato crítico de Leila. Mas gostei demais. Fiquei orgulhoso, feliz. Ela valorizou o texto, mostrou valores escondidos, sentidos potenciais ocultos.
Para ela poesia é contramão. No sentido de acesso paralelo. Como dizia Drummond, amar depois de perder. Falar de amor na completa solidão.
Por isso o poema ganhou uma dimensão inesperada. Leia aqui.