Praça Vespasiano Ramos, cidade de Caxias - MA (1933).
Praça Vespasiano Ramos, cidade de Caxias - MA (1933).

Reginaldo Miranda[1]

Foi um destemido militar com larga folha de serviços prestados à terra natal ao tempo da Balaiada. Destacou-se na repressão aos revoltosos no Médio-Itapecuru, sobretudo liderando nas vias urbanas, com risco da própria vida, a resistência da cidade de Caxias durante trinta e oito dias de cerco. Caindo a cidade por falta de diligente apoio das autoridades provinciais, ficou detido por setenta e dois dias em poder dos rebeldes. Conseguindo escapar voltou ao combate, participando da libertação das cidades de Caxias, Codó e outras localidades do sertão maranhense. Era um abastado lavrador e pecuarista, com diversos empreendimentos rurais e urbanos nas províncias do Maranhão e Piauí. Militou na política maranhense professando o credo cabano, de matiz conservadora, por cuja agremiação partidária ocupou diversas posições na vida administrativa da cidade.

Nasceu Severino Dias Carneiro cerca de 1785, na feitoria denominada Bacaba, então pertencente ao termo de Aldeias Altas, hoje cidade de Caxias, no Maranhão. Em seu testamento declarou ser filho natural do coronel Francisco Dias Carneiro e de dona Euzébia Gonçalves Duarte. Por fruto de pesquisas, sabemos que seu genitor foi um colonizador português que fundou aquela feitoria e construiu sólida fortuna no vale do rio Itapecuru, mais tarde partilhada entre dois filhos de leitos diferentes. Provavelmente, a genitora tinha alguma mestiçagem, porque embora sem qualquer nota a esse respeito na imprensa contemporânea, muitos anos depois de seu falecimento o major Ricardo Leão Sabino informa ao escritor Rodrigo Otávio, ser ele pardo, contando um chiste a esse respeito, que, segundo ele, se dera quando da tomada de Caxias pelos rebeldes balaios. O certo é que até o presente momento só se conhece como descendentes do lusitano Francisco Dias Carneiro, os meios-irmãos Severino e João Paulo Dias Carneiro. Localizamos uma justificação feita no ano de 1802, em que Francisco Dias Carneiro prova ser casado e ter filhos. Ora, se em 1802 ele era casado e tinha filhos, como faz prova, evidentemente ambos os filhos já eram nascidos, presumindo-se que Severino nasceu antes das bodas, sendo, assim, o primogênito. Provavelmente, sua mãe falecera prematuramente, casando o pai com outra mulher. O curioso é que casara com uma mulher com o mesmo nome da primeira companheira, dona Iria Gonçalves Duarte, a mãe de João Paulo. Supõe-se que eram parentes essas duas consortes.

Nada descobrimos sobre a vida escolar de Severino Dias Carneiro, porém, não há razão para ter fugido ao costume da época, onde apenas eram ensinados aos filhos de fazendeiros, a ler, escrever e efetuar as operações aritméticas. Estavam, assim, prontos para comercializar o rebanho, o produto das lavouras e exercer os cargos públicos da municipalidade. Os meninos de menor condição social permaneciam no mais completo analfabetismo. Certamente, Severino Dias Carneiro fez esse aprendizado, primeiro com o genitor, conforme era costume e, mais tarde, com os padres da freguesia das Aldeias Altas.

Paralelamente a essa curta vida escolar, iniciou desde muito cedo no pastoreio do gado e na gestão da lavoura na feitoria paterna. Assim, demonstrando desde a mocidade espírito empreendedor e capacidade administrativa, com o tempo constituindo-se no principal auxiliar do pai, sucedendo-o no senhorio daquele empreendimento rural.

Por esse tempo, convola núpcias com dona Euzébia Maria de Jesus Carneiro, uma matrona de personalidade forte, natural do antigo termo de Marvão, hoje cidade de Castelo do Piauí.

Desde muito moço assentou praça no posto de alferes do regimento de milícias da capitania, prestando serviços no distrito de Aldeias Altas, hoje cidade de Caxias. Foi promovido em diversas patentes, tendo participado, ao lado do irmão, da libertação da cidade de Caxias e prisão do major João José da Cunha Fidié, quando da Guerra da Independência. Com a reformulação das forças militares e consequente criação da guarda nacional, assumiu o posto de tenente-coronel do batalhão de Caxias.

Com a Setembrada, movimento popular e antilusitano que precedeu à Balaiada, no Maranhão, foi a cidade de Caxias, em 1832, ameaçada de invasão pelo bando de Antônio João Damasceno, um pequeno comerciante cearense estabelecido em Itapecuru-Mirim. Foi, porém, esse rebelde “destroçado antes dali chegar” por tropas comandadas por Severino Dias Carneiro[2].  

Conforme dissemos, há de ressaltar-se no tenente-coronel Severino Dias Carneiro, seu espírito empreendedor, não apenas conservando a fortuna recebida por herança, quanto multiplicando-a com plantações de algodão e aquisição de novos currais e de imóveis urbanos para aluguel. Como mostra de sua capacidade empreendedora, foram descritos em seu inventário os seguintes bens: na cidade de Caxias, construiu ampla morada de casas de sobrado, com dois pontos comerciais, ambos com armações de loja envidraçadas, inclusive com duas meias-águas de cumeeiras, sendo uma virada para a Rua Augusta e outra para o Beco dos Barbeiros, esse último com depósito e prensa de ensacar algodão, avaliada em seis contos de réis; uma morada de casas de taipa coberta de telhas, de esquina, com duas frentes, sendo uma para a Rua dos Quintais e outra para o Beco dos Barbeiros, avaliada em três contos de réis; uma morada de casas de pedra e cal, situada na Rua dos Quintais, avaliada em três contos de réis; um terreno situado na Rua dos Quintais, avaliado em duzentos e cinquenta mil réis; no distrito de São José, da mesma comarca de Caxias, deixou uma légua de terras quadrada, com estabelecimento de lavoura, inclusive roças de algodão e ampla casa residencial, construída de taipa e cobertura de telhas, com nove portas e seis janelas, na feitoria denominada Bacaba; na vila de Pastos Bons, uma morada de casas de taipa e cobertura de telhas, situada na Rua do Ministro, com duas portas e três janelas de frente; no termo da vila de Passagem Franca, pertencente à comarca de Pastos Bons, as fazendas Gêge, Vereda Grande e uma légua de terras na Data Curimatá Novo; no distrito de São Félix de Balsas, da mesma comarca de Pastos Bons, as terras das fazendas Santo Estêvão, Capão, Morro do Chapéu, Santa Isabel e Anajás, essas duas últimas consignadas com os gados bravos que nelas houvessem. Deixou também terras na província do Piauí, sendo a data de sesmaria denominada Papagaio, com três léguas de comprido e uma de largo, situada no termo da vila de São Gonçalo, hoje cidade de Regeneração; e na vila de Jerumenha, uma casa de taipa situada na sede municipal; também, três léguas de terras, inclusive com uma casa velha, na fazenda denominada Morro da Uhica. Foram descritos entre os semoventes, 70 escravos de diversas profissões; 3.375 cabeças de gado vacum, de toda sorte, além dos referidos gados bravos que fossem encontrados nas duas fazendas indicadas; 660 cavalares, entre cavalos de fábrica, chucros, éguas e potros, além de outros animais cabrum, ovelhum, muar e asinino; móveis, prata, cobre, ferros, ativos financeiros e outras rendas a receber[3].              

Político influente nas lides de Caxias, em 1838 foi nomeado para comandante do 2º batalhão provisório da força militar organizada pela província para combater os rebeldes. O prefeito da comarca, com funções policiais, era seu irmão João Paulo Dias Carneiro. “Nesse tempo, a vila de Caxias, mercê de sua população e desenvolvimento comercial era considerada como a capital maranhense do sertão. Seu prefeito, na época que historiamos, era o Coronel da Guarda-Nacional João Paulo Dias Carneiro, membro de uma dessas poderosas e privilegiadas famílias do sertão; e chefe do partido dominante, o cabano, era o seu irmão o Tenente-Coronel Severino Dias Carneiro”[4].  

Por esse tempo, tentaram envolvê-lo entre os mentores intelectuais do assassinato do político liberal Raimundo Teixeira Mendes, que, em 25 de novembro de 1837, caiu crivado de facas defronte à igreja matriz da cidade. Foram pronunciados como cúmplices ou autores, “os dous pardos que o cometeram, e o Francisco Máximo de Souza, Fernando Mendes de Almeida, o ajudante João Antônio Marques e Severino Dias Carneiro”, esses últimos como mandantes. Foram, porém, absolvidos pelo júri popular, por absoluta falta de provas[5] 

Quando deflagrou a revolta da Balaiada no Meio-Norte do Brasil, o tenente-coronel Severino Dias Carneiro foi inexcedível na defesa da legalidade, juntando familiares, amigos, soldados e trabalhadores de suas fazendas para combater os rebeldes no vale do rio Itapecuru. Encontrava-se nessa faina pelo Médio-Itapecuru, quando teve notícia do revés da expedição de Pedro Alexandrino, em meados de abril de 1839. Marchou, então, à frente de quatrocentos homens, para bater os revoltosos do Coroatá, ou quaisquer outros que encontrasse em caminho. Porém, em face da iminência de invasão da cidade de Caxias, teve ordem de contramarchar, a menos de meia viagem e postar-se no Limoeiro para garantir a segurança daquela cidade. Eram aterradoras as notícias que chegavam, sendo sua tropa a principal força de defesa.

Enquanto isso o prefeito João Paulo Dias Carneiro, atendendo a instâncias da capital, solicita socorros ao seu filho que era prefeito de Pastos Bons, Francisco Dias Carneiro e ao presidente da província do Piauí. Evidentemente, esses socorros demorariam. “Postada a força no Limoeiro, lá foram ter Raimundo da Cruz e Silva e outros, e resolveram com o coronel Severino a abandonar aquela posição e, recolher-se à cidade, desobedecendo assim às ordens do prefeito. Ordenou-lhe este ainda que fosse ocupar o ponto denominado Buriti do Meio, mas foi novamente desobedecido”[6]. Marchavam as coisas nessa desinteligência entre as lideranças legalistas, quando chegam os rebeldes. Nessa altura o tenente-coronel Severino era o comandante em chefe das forças de Caxias, tendo construído várias trincheiras em seu sítio urbano. Na noite de 24 de maio, foi a cidade cercada pelos líderes rebeldes Getirana, Ruivo, Balaio, Mulungueta e Silveira, que ocuparam diversas posições em seu entorno. No dia seguinte, foi Getirana batido e desalojado do ponto da Olaria, que ocupava, conseguindo reocupá-lo no dia 26. No dia 27, chegaram com suas tropas outros líderes rebeldes, entre os quais: Violete, Moura e Coque, ocupando outros pontos estratégicos. Por fim, como se não bastassem, chegam Lívio Lopes Castelo Branco à frente de 600 homens vindos de Campo Maior, no Piauí e Milhomem, com cerca de 400, vindos de Pastos Bons. Enquanto isso, veio em socorro do pai o prefeito de Pastos Bons, à frente de 300 homens, muitos o abandonaram a caminho, lhes restando uns 200, quando entrou na cidade[7].

Desde os primeiros dias da resistência, havia divergência entre os legalistas, muitos pregando abertamente a prisão de todos os que lhes aprazia chamar suspeitos, tendo sido presos vários chefes bem-te-vis, alguns reagindo com armas de fogo. Um boticário e violinista francês por nome Labord, de faca à mão, fazia as maiores ameaças aos cabanos, para acontecer no dia em que os rebeldes tomassem a cidade. Acrescentava que iria cortar a língua do Tte.-Cel. Severino com aquela faca. Todavia, porque o prefeito João Paulo se opôs a diversos atos das tropas legais, foi também visto por suspeição. Nessa situação, sustentou-se a cidade durante 38 dias de sítio, “empenhando-se em uma série de combates parciais, em que colheram alguns momentâneos triunfos, quase sem resultado”. Porém, “os ânimos se foram exacerbando de dia em dia. Estas divisões, a fome, a pouca esperança de socorros, foram a pouco e pouco desalentando os mais resolutos. O número dos defensores da legalidade ia mingando. Em muitos combates contudo os nossos levavam a melhoria”.

Nessas circunstâncias, em 24 de junho reconheceram todos que não havia vantagem em prolongar a resistência sem esperança de socorro. Então o prefeito abre negociações com os rebeldes, que propõem uma capitulação vergonhosa, evidentemente, rejeitada. Exigiam a entrega de 8 chefes, entre os quais o comandante Severino, para serem fuzilados no dia da entrada na cidade, a prisão de outros e o saque geral para pagamento das tropas. Nessa altura, segundo o testemunho do major Ricardo Leão Sabino, o tenente-coronel Severino Dias Carneiro ainda o convenceu a romperem o cerco e dirigirem-se à capital, de onde retornariam à frente de tropas para libertar a sua terra da barbárie.

No entanto, não foi possível essa saída estratégica porque desde que foram abertas as negociações, por medida de segurança, os sertanejos de Caxias estavam se bandeando para os rebeldes, dissera Severino a Leão Sabino. “Muitos chefes, o próprio prefeito, João Paulo Dias Carneiro, segundo já se falava, haviam passado para o lado dos sitiantes, e ele mesmo, o Coronel Severino, para fugir a uma morte de outro modo inevitável, já estava negociando sua passagem”. De fato, em 1º de julho de 1839, entraram os rebeldes na cidade, sem mais encontrar resistência. Diz-se que para escapar à morte o tenente-coronel Severino alcançou “a proteção do caboclo Coque, assim mesmo, quase foi vitimado”. Em face da fúria contra ele dos outros líderes rebeldes, teve de ser pelo seu novo protetor, vestido em trajes simples e chapéu de palha, sendo, assim, “disfarçado em sertanejo”. Segundo o escritor Rodrigo Otávio, que resumiu a versão de Leão Sabino, “por essa forma escapou da morte o coronel Severino Dias Carneiro, um dos mais destemidos defensores de Caxias sitiada”.

Em pouco tempo, marcha com seu bando o rebelde Coque, para o termo de Coroatá. Ali, em 11 de setembro daquele ano, convencendo um piquete que o vigiava, consegue fugir o tenente-coronel Severino, conforme consta da seguinte nota:

“O sr. tenente-coronel Severino Dias Carneiro pôde escapar do poder dos rebeldes em Coroatá, e fugiu para o Itapecuru-mirim com um piquete dos mesmos rebeldes que o quiseram seguir. A notícia de que o tenente-coronel Severino se acha salvo, e no meio das forças legais, foi muito agradável a todos os amigos da ordem, não só porque o Sr. Severino é um bravo e decidido defensor da legalidade, que prestou muitos serviços à causa pública durante o cerco de Caxias, e desordens anteriores de Antônio João Damasceno, como também pela importância e consideração pessoal que esse senhor tem nos nossos sertões.

‘Os outros prisioneiros que se achavam em poder dos rebeldes, em Coroatá, fugiram também para o Itapecuru com os indivíduos que os guardavam”[8]

Pouco depois foi sua fazenda Bacaba tomada por duzentos rebeldes. Para desalojá-los, em 5 de novembro de 1839, contra eles arremeteu seu filho major Sabino Dias Carneiro, com apenas 48 praças. Mesmo com inferioridade de forças, sustentou continuado fogo por 48 horas, somente abandonando a trincheira quando lhes esgotou a munição. Dois dias antes esse seu rebento havia prendido o rebelado capitão Almeida Coimbra, remetendo-o para o presídio na Passagem de Santo Antônio[9].

Em 11 de novembro daquele ano, ao lado do sobrinho tenente-coronel Francisco Dias Carneiro e do capitão e comandante Ernesto Emiliano de Medeiros, o tenente-coronel Severino sustentou vivo fogo contra um contingente de duzentos rebeldes aquartelados no lugar Fortaleza. Fogem esses deixando no campo de batalha oito mortos, inclusive um alferes e onze prisioneiros, um dos quais o rebelde José Maurício Cutrim. Segundo o comandante da expedição “os tenentes-coronéis Severino Dias Carneiro e Francisco Dias Carneiro são dignos dos maiores encômios pelo denodo que provaram nas fileiras da legalidade, onde, enquanto durou o fogo, prestaram, mesmo com risco evidente de vida, os mais relevantes serviços”[10].  

Em 25 de dezembro do mesmo ano, ao lado dos mesmos militares participou ativamente do ataque aos rebeldes e libertação da vila de Codó. Iniciando o combate ao romper do dia, sustentaram vivo fogo até às 6 horas da manhã, quando os rebeldes abandonam suas posições, deixando no campo de batalha 2 mortos, 3 prisioneiros, 400 cartuchos, 12 armas de diferentes adarmes, uma boa quantidade de chumbo, balas, pólvora, pederneiras e parte da bagagem. Por sua efetiva participação nos combates, foi elogiado na ordem do dia[11].

Em 1839, a despeito do recrutamento de um parente é tratado por “potentíssimo fidalgo”. Em 1847, é elencado entre os “cidadãos notáveis”[12].

Felizmente, depois de cansativa e exasperante espera, em janeiro de 1840, foi restaurada pelas forças legais a paz na cidade de Caxias, a vida voltando à normalidade[13]. Sobre os 72 dias em que esse militar, detido, passou sob a proteção do rebelde Coque, difícil é avaliar-se a situação. Sabemos, porém, que não foi maltratado, existindo certa amizade e confiança entre ambos. O militar dever ter comprado essa proteção a peso de ouro. No final da revolta, quando foi enviado ao Coroatá “o tenente-coronel J. A. Martins para abrir negociações com Raimundo Gomes e Coque”, respondeu esse último “que estava pelo ajuste, mas que era mister que lhe mandassem 200 homens comandados pelo tenente-coronel Severino Dias Carneiro, pessoa com quem se entendia, a fim de violentar os que estivessem de má vontade”[14]. Seguramente, o líder balaio esperava do velho militar a mesma proteção que lhe dera quando tentaram degolá-lo em Caxias. Eram, pois, figuras que se conheciam e se respeitavam.

Finalmente, por despacho exarado em 18 de julho de 1841, data da sagração e coroação do imperador D. Pedro II, foi o tenente-coronel Severino Dias Carneiro condecorado comendador da Ordem de Aviz, em face desses relevantes serviços prestados[15].

Em 25 de dezembro de 1845, respondendo ao major Raimundo José de Moura, do distrito de São José, termo de Caxias, disse “Um monarchista de S. Joze”, no jornal Brado de Caxias, “que para se figurar, e ser influente de partidos, é necessário ter dinheiros disponíveis, para servir e despender quando for necessário, em benefício da opinião que se segue”. Por fim, tal signatário, assim aconselha àquele político: “Sr. Major fique convencido, que S. S. só fará eleições no distrito de S. Joze, quando os Srs. Comendadores Severino, e João Paulo, não se importarem com elas”[16].

Faleceu o comendador Severino Dias Carneiro, vítima de hidropisia do peito, na noite de 15 de março de 1848. Segundo a notícia fúnebre, “era um dos principais influentes do partido cabano, e desde 1844 abandonara a política, desgostoso”[17]. Deixou viúva dona Euzébia Maria de Jesus Carneiro, e quatro filhos, na seguinte ordem: 1. Major Sabino Dias Carneiro, militar que prestou relevantes serviços na luta de repressão à Balaiada, residente em sua feitoria situada no termo de Passagem Franca; 2. D. Marinha Carneiro de Jesus Teixeira, que fora casada com o português comendador Antônio José Teixeira, abastado negociante em Caxias, tronco da família Teixeira, de Caxias, Pastos Bons e Colinas; 3. D. Adlaide de Jesus Carneiro, que fora casada com o capitão Manoel José da Silva, pecuarista e lavrador, residente em sua feitoria denominada Santa Maria, situada no termo de Caxias; e, 4. Dr. Severino Dias Carneiro, o moço, que ficara órfão menor com 14 anos de idade, depois bacharel em direito, promotor público, magistrado e deputado provincial.

Com essas notas, resgatamos a memória do tenente-coronel e comendador Severino Dias Carneiro, patriarca de ilustrada estirpe, militar, político, agropecuarista e grande benfeitor da cidade de Caxias. Foi um dos principais defensores daquela cidade ao tempo da Balaiada.

 

 


[1] Advogado e escritor. Membro titular da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e da Academia de Letras, História e Ecologia da Região Integrada de Pastos Bons. Contato: [email protected]

[2] Excelsior, outubro-1933.

[3] Fonte: Autos de Inventário. Caxias, 1848.

[4] Jornal do Comércio, 24/25.4.1943.

[5] O Chronista, 3.3.1838; O Despertador, 5.11.1838.

[6] Excelsior, outubro-1933.

[7] Há divergência sobre o número dos soldados em algumas fontes.

[8] Jornal do Comércio, 25.10.1839.

[9] Chronica Maranhense, 4.1.1840.

[10] Jornal do Comércio, 26.1.1840.

[11] Diário do Rio de Janeiro, 2.4.1840.

[12] Chronica Maranhense, 20.1.1839; Jornal Maranhense, 1.2.1842; O Observador, 3.11.1847.

[13] Excelsior, outubro-1933; Correio da Manhã, 17.6.1924. Otávio, Rodrigo. A Balaiada. Rio: 1942.

[14] Chronica Maranhense, 19.12.1839.

[15] Jornal Maranhense, 3.9.1841.

[16] Brado de Caxias, 3.1.1846.

[17] O Correio da Tarde, 4.5.1848.