Sérgio Rodrigues

Ele – pois não havia a menor dúvida a respeito de seu sexo, embora a moda da época contribuísse para dissimulá-lo – empenhava-se em desferir golpes de espada numa cabeça de mouro que pendia das vigas do teto.

Faltava Virginia Woolf nesta seção. Não mais: eis a primeira frase do magnífico “Orlando”, romance publicado em 1928 (Grafton Press, 1986, tradução caseira). O gancho de suspense plantado ali entre os travessões só vai se explicar lá pelo meio do livro, quando Orlando acorda de um sono mórbido de dias:

Ele se espreguiçou. Levantou-se. Ficou de pé diante de nós, inteiramente nu, e enquanto as trombetas ressoavam, Verdade! Verdade! Verdade!, não nos resta outra saída senão confessar – era uma mulher.