Sérgio Rodrigues

Sou um homem de certa idade. A natureza das minhas ocupações, nestes últimos trinta anos, me levou a entrar permanentemente em contato com uma espécie de homens interessantes e um tanto singulares, da qual, que eu saiba, nada até agora se tem escrito: refiro-me aos copistas, escriturários ou escreventes a serviço de homens de leis. Conheci muitos, quer profissional quer particularmente, e poderia, se quisesse, contar sobre eles inúmeras histórias que fariam sorrir afáveis cavalheiros e levariam às lágrimas as almas sentimentais. Mas renuncio às biografias de todos os demais escriturários para relatar algumas passagens da vida de Bartleby, o mais estranho de todos que jamais vi e de quantos tive notícia.

Aproveitando o mote da nota “O nosso Bartleby”, aí embaixo, que sirva o início de “Bartleby, o escriturário” (Rocco, 1986, tradução de Luís de Lima) como convite para quem ainda não conhece essa brilhante novelinha – ou conto alentado – que o escritor americano Herman Melville (1819-1891) publicou anonimamente numa revista em 1853, dois anos depois de sua obra-prima “Moby Dick”, e em livro, já com seu nome, três anos mais tarde