Cláudia Brandão: Como era bom sorrir sem máscaras
Em: 25/02/2022, às 22H24
[Cláudia Brandão]
Quando os lábios se abrem em expressão de contentamento, o microuniverso em volta se ilumina.
Há coisas na vida que são tão essenciais que nunca deveriam ficar escondidas. O sorriso é uma delas. Não há forma mais eficaz de aproximação entre duas pessoas que um sorriso espontâneo, sincero. Quando os lábios se abrem em expressão de contentamento, o microuniverso em volta se ilumina.
No encontro com amigos, com parentes, ou entre apaixonados, o sorriso é marca garantida. Os mais tímidos sorriem apenas com o canto da boca. Mas há aqueles que sorriem com o corpo inteiro e soltam uma sonora gargalhada que exibe até as amígdalas. Pelo sorriso do outro, sentimos o sinal de reciprocidade da nossa presença.
Mas agora estamos privados desse privilégio. Há dois anos, quando um vírus agressivo e desconhecido entrou em nosso corpo, tapamos nossos narizes e bocas com máscaras cirúrgicas, sem graça, sem vida, sem brilho.
Hoje, só nos é permitido ver o sorriso dos amigos por fotos antigas. Vivemos a nostalgia de um tempo recente quando ninguém imaginava que um dia seríamos privados de um prazer tão simples, mas tão eficiente quanto ver o outro sorrir. Não importa qual seja o motivo: de alegria, de surpresa, de gratidão. O sorriso é sempre curativo. Ele tem o poder de cicatrizar feridas, de afastar as dores e tristezas.
Por isso mesmo, é triste não poder mais olhar no olho de quem a gente gosta e não ver a boca se movimentando pela face para externar a satisfação do encontro, ou da boa notícia que trazemos. Nossos rostos foram padronizados pelas máscaras e, sem o sorriso estampado ao alcance de todos, ficamos todos meio parecidos. O mesmo pedaço de pano que salva nossas vidas camufla um dos gestos mais belos que ajudam a aliviar as dores dessa mesma vida.
Olhamos para trás, lembrando dos nossos encontros e reuniões, e o pensamento que nos vem logo à mente é: como era bom sorrir sem máscaras!
Cláudia Brandão é jornalista de extensa atuação no Piauí . Foi professora de telejornalismo da UFPI e secretária municipal de comunicação social da Prefeitura de Teresina.