Cataguases, ignorância e muitas gargalhadas
Em: 04/06/2012, às 08H58
Maristela Scheuer Deves
Quando criança, o escritor Luiz Ruffato achava que só existiam três cidades e que Cataguases, sua terra natal, era o centro do mundo. Com histórias como essa, o mineiro, recém-anunciado como finalista do prêmio Portugal Telecom, arrancou numerosas gargalhadas da plateia no sábado de manhã, durante o 5º Seminário de Literatura e Leitura, em Caxias do Sul.
Abordando o tema "Como a literatura me tornou ignorante: de Cataguases para o mundo", Ruffato narrou sua trajetória de vida, sempre com pitadas de comicidade mesmo ao falar das situações mais difíceis. E explicou o "ignorante" do tema, proposto por ele mesmo:
— Quando eu comecei a ler, vi que o mundo era muito maior. Quanto mais eu lia, mais me descobria ignorante. Tenho medo das pessoas que acham que sabem tudo. Eu só tenho dúvidas. E quero morrer ignorante, porque a ignorância dá possibilidade de conhecer novas coisas.
Embora brinque que se tornou escritor por acaso, Ruffato confessa que, quando decidiu escrever, primeiro estudou muito, de literatura brasileira a física e biologia, até que, em 1996, sentiu-se pronto para finalmente colocar suas ideias no papel. E decidiu começar por um viés que não havia encontrado nas suas leituras: o mundo do trabalho urbano real.
— Depois de ler muito, percebi que não via as pessoas que conhecia na literatura brasileira. A minha mãe, os operários (ele próprio trabalhou como torneiro mecânico e no setor têxtil), não estavam nos livros — disse.
Para o escritor, o que aparecia na literatura nacional era o mundo rural, ou então a classe média — e os bandidos, mas não a classe média baixa.
— Quis mostrar também a complexidade das pessoas pobres, que normalmente eram retratadas como rasas. E não retrato os pobres como bonzinhos ou contra o sistema: eles são bons e maus, como todos nós, e querem participar do sistema, comprar coisas, não ser contra ele — acrescentou.
Ruffato não quer, no entanto, que o que faz seja chamado de literatura proletária.
— Não faço literatura adjetivada. Quero fazer Literatura, com L maiúsculo — diz, criticando a divisão da escrita em classificações como "literatura feminina" ou "literatura negra".
Do Blog Palavra Escrita