[Flávio Bittencourt]

Castro: ataque militar da OTAN à Líbia é inevitável

Segundo o líder cubano, depois da derrota eleitoral nas eleições de novembro de 2010, as possibilidades do presidente Obama, especialista em retórica, foram reduzidas a um papel meramente decorativo.

 

 

 

 

  

  

 

 

 

HOMENAGEM AO EX-SARGENTO, DEPOIS PRESIDENTE, AHMED BEN BELLA, QUE SERVIU NO EXÉRCITO FRANCÊS, TENDO SIDO CONDECORADO POR AÇÕES HERÓICAS, E QUE PASSOU AO GRUPO CLANDESTINO PARAMILITAR ORGANISATION SPÉCIALE (OS), PARA LUTAR PELA INDEPENDÊNCIA DE SEU PAÍS, A GLORIOSA ARGÉLIA (OU ALGÉRIA), TENDO ASSUMIDO A POSIÇÃO DE CHEFE HISTÓRICO DO FLN (FRONT DE LIBÉRATION NATIONALE) ARGELINO, PRIMEIRO PRESIDENTE DA ARGÉLIA INDEPENDENTE (1962 - 1965) E PRESIDENTE DO MDA (MOUVEMENT POUR LA DÉMOCRATIE EN ALGÉRIE),

YOUTUBE:

http://www.youtube.com/watch?v=8VZE6jP3aq8&feature=related

 

 

 

 

 

hanoi street children
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
"Street children in Hanoi"
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Students working on research
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
"Students recording notes in Vietnam"
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Students in front of Vietnam Museum of Ethnology
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
"Students at the Vietnam Museum of Ethnology"
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
Vietnam flag
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
'Ba Dinh Square in Hanoi '
 
 
 
 
 
 
 
 
 

O "VALE DA MORTE" (Diên Biên Phú):

NO VIETNÃ, A DERROTA FRANCESA, DEFINITIVA

[BK_Cover1] 
Agence France-Presse/Getty Images
"French paratroopers landing at Dien Bien Phu in November 1953"

(http://online.wsj.com/article/SB10001424052748703525704575062332439489498.html)

 

 

 

 

FOTO DA INAPELÁVEL VITÓRIA NACIONAL-VIETNAMITA

SOBRE A FRANÇA: o ato de soberania

materializado no erguer e fazer tremular

a bandeira vencedora constitui, simbolicamente,

uma espécie de DECRETO DE VITÓRIA

(RESULTADO MILITAR QUE INFLUENCIOU

A INSURREIÇÃO DA ARGÉLIA, OBSERVANDO-SE

QUE, TAMBÉM NESSE OUTRO HERÓICO PAÍS,

HOUVE A INDEPENDÊNCIA, ANOS DEPOIS [1962])

 

BK_Cover2

Vietnam Military History Museum

Victorious Vietminh guerrillas raise their flag over the French command bunker in May 1954. The French suffered more than 2,000 dead or presumed dead; more than 10,000 were taken prisoner.

(http://online.wsj.com/article/SB10001424052748703525704575062332439489498.html)

 

 

 

 

"(...) Quando a insurreição [DOS NACIONALISTAS ARGELINOS, PELA SUA INDEPENDÊNCIA] se iniciou, em 1º de novembro de 1954, a independência do Vietnã acabava de ser arrancada - as forças francesas foram derrotadas em Diên Biên Phú, o que constituiu um incentivo para todos os povos colonizados. (...)". .

(http://www.memo.fr/en/article.aspx?ID=CON_DEC_005,

tradução para o português de um trecho do artigo

que consta nessa página eletrônica;

o grifo em AS FORÇAS FRANCESAS FORAM DERROTADAS EM

DIÊN BIÊN PHÚ é nosso)


 

 

 

 

MAGNÍFICA PAISAGEM DA ARGÉLIA:

ROCHAS, AREIA DO DESERTO E MARCAS DE PNEUS

NA AREIA, MOSTRANDO QUE LÁ O HOMEM ESTÁ PRESENTE

(já estavam ali os tuaregues, vagarosamente avançando,

no deserto, sobre os seus imponentes camelos)

 

(http://www.tuaregviatges.es/ARGELIA/fotografias_argelia.html)

 

 

 

 

"OUI" (sim)

(A MAIORIA DA POPULAÇÃO ARGELINA,

NO REFERENDUM DE AUTODETERMINAÇÃO

QUE A FEZ SE LIVRAR DA OPRESSÃO FRANCESA 

[1962])

 

 

 

 

 

foto

"VAM - Constantine - Argélia

Esta ponte permite passar de un lado para o outro na cidade. Lá em baixo corria pouca água quando a foto foi feita. Mas pode também haver uma impetuosa torrente. (...)".
 

(http://www.flickr.com/photos/60083277@N00/2719409812/)

 

 

 

 

 

Ben Bella

O SARG. AHMED BEN BELLA,

JOVEM E SORRIDENTE (O ESTADISTA ARGELINO AINDA ESTÁ VIVO,

COM 92 ANOS DE IDADE [MARÇO DE 2011]):

AJUDOU A LIVRAR SUA PÁTRIA DO COLONIALISMO FRANCÊS,

QUE OPRIMIA A ARGÉLIA HÁ 132 ANOS

(SÓ A FOTO DO EX-PRESIDENTE BEN BELLA,

SEM A LEGENDA ACIMA ENSAIADA:

http://alerce.pntic.mec.es/~pong0000/62-mundo.htm

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 


 
"The war of Algeria, carried out by France of 1954 to 1962 against the Algerian freedom fighters, in particular takes seat in the movement of decolonization which affected the Western empires after the Second world war, and largest of them, the French and British empires.
 
When the insurrection is started, on on November 1st 1954, the independence of Viet-Nam has just been torn off - the French forces were defeats at Diên Biên Phu, which constitutes an encouragement for all the colonized people. As for the independence of two Maghrebian protectorates, Morocco and Tunisia, it is being negotiated.
 
This war - that, until 1999, the French State was obstinated not to call officially that by the terms of “operations of maintenance of law and order” - was going to traumatize the French company durably: the rising of the Algerian nationalists struck a hardly given country of the cold war; it to go to last eight years and to end up carrying the IV E Republic. (...)".
 

 

 

 

 

 

 

"AO NACIONALIZAR, COM UMA SIMPLES PENADA [assinatura

em documento oficial], EM 1956, O CANAL DE SUEZ,

O PRES. NASSER CONSEGUIU ENFURECER, SIMULTANEAMENTE, 

OS SENHORES LÍDERES DA FRANÇA E DA INGLATERRA"

(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")

 

 

 

 

 

O ex-líder cubano Fidel Castro fala nesta sexta-feira (10) na Universidade de Havana.
 
"(...) o ex-líder cubano Fidel Castro em discurso na Universidade de Havana. (Foto: AFP)"
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Foto: Bettmann / CORBIS
 
 
BEN BELLA [então presidente da Argélia (ou Algéria)]
NIKITA KHRUSHCHEV e GAMAL ABDEL NASSER
 
onde se pode ler:
 
"Nikita Khrushchev, Gamal Abdel Nasser, and Ben Bella
Original caption: Premier Nikita Khrushchev/ President Gamal Abdel Nasser of the UAR and President Ben Bella of Algeria at Karnak Temples [17.5.1964]"
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"TONNERRE DE BREST, ÇA VA CHIER!"
 
[COM MIL RAIOS, VAI DAR MERDA!]
 
(CAPITÃO - de Longo Curso, da Marinha Mercante - 
ARQUIBALDO HADDOCK, PERSONAGEM DO IMORTAL
CRIADOR BELGA HERGÉ)
 
   
 
 
 
 
 
 
 
                                 
                       DESEJANDO MUITA SAÚDE E VIDA AINDA MAIS LONGA AOS
                       EX-PRESIDENTES BEN BELLAFIDEL CASTRO
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18.3.2011 - Quando o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou o Canal de Suez (1956), as antigas potências europeias Inglaterra e França já chegaram atirando, matando - de cima, ou seja, por meio de bombardeios pesados - soldados egípcios que nada tinham feito para merecer a morte ou as mutilações decorrentes de ferimentos de guerra - Naquela época, foi possível que a interrupção dos ataques militares acontecesse, face à força das decisões da Organização das Nações Unidas (a ONU). Hoje, contudo, o presidente do EUA parece politicamente enfraquecido, em razão de derrota eleitoral (dezembro de 2010). Isso significa que, para especialistas em política internacional, infelizmente poderá haver um banho de sangue da Líbia. (Como o líder líbio Kadhafi pretende resistir no poder, torna-se evidente a possibilidade de haver desdobramentos muito sangrentos na guerra civil líbia: ÇA VA CHIER, caramba!)  F. A. L. Bittencourt ([email protected])
 
 
 
 
 
 
 
PORTAL TERRA - NOTÍCIAS
 
MUNDO - DISTÚRBIOS NO MUNDO ÁRABE
 
03 de março de 2011 10h57 atualizado às 11h56
 
 
 
"Fidel considera ataque da Otan à Líbia um fato inevitável
 

O líder cubano Fidel Castro afirmou nesta quinta-feira que uma intervenção militar da Otan na Líbia, com o objetivo de controlar o petróleo aproveitando a "guerra civil" nesse país, é "inevitável".

"Não podem deixar de aproveitar o conflito interno surgido na Líbia para promover a intervenção militar. As declarações feitas pela administração dos Estados Unidos desde o primeiro instante foram categóricas nesse sentido", afirmou Fidel, em mais um artigo publicado na imprensa estatal.

"Estados Unidos e Otan estão seriamente preocupados com a onda revolucionária desatada no mundo árabe, onde se gera grande parte do petróleo que mantém a economia de consumo dos países desenvolvidos e ricos".

"As circunstâncias não podiam ser mais propícias. Nas eleições de novembro, a direita republicana aplicou um golpe contundente ao presidente Barack Obama, especialista em retórica".

"O grupo fascista da 'missão cumprida' (em referência ao ex-presidente George W. Bush), apoiado agora ideologicamente pelos extremistas do Tea Party, reduziu as possibilidades do atual presidente a um papel meramente decorativo, no qual periga, inclusive, seu programa de saúde e a duvidosa recuperação da economia", acrescentou.

No artigo da semana passada, Fidel afirmou que os Estados Unidos e a Otan fazem uma "dança macabra de cinismo" ao incentivar uma guerra civil na Líbia, em busca do controle do petróleo.

"Nada teria de estranho a intervenção militar na Líbia, com o que, além disso, garantiria à Europa quase dois milhões de barris diários do petróleo leve", indica Fidel, em seu segundo artigo sobre o tema.

Para Fidel, que conheceu pessoalmente Kadhafi quando visitou a Líbia em maio de 2001, o que acontece nesse país é uma guerra civil na qual 'ninguém no mundo jamais ficará de acordo com a morte de civis indefesos' ".

(http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4971622-EI17594,00-Fidel+considera+ataque+da+Otan+a+Libia+um+fato+inevitavel.html)

 

 

 

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Site Algo sobre ponto com ponto br / Biografias -

AHMED BEN BELLA

(síntese biográfica):

"Político argelino (25/12/1918-). Um dos líderes da independência da Argélia. Nascido em Oran, quando o país era então colônia francesa, Ahmed Ben Bella alista-se no Exército e luta pela França na II Guerra Mundial, chegando a receber medalhas.

 A partir de 1947, participa do movimento clandestino pela independência de seu país, a Frente de Libertação Nacional (FLN). Preso em 1950, foge dois anos depois e exila-se na Líbia, de onde organiza o desembarque de armas e tropas estrangeiras simpatizantes do movimento de libertação da Argélia.

Capturado em 1956, só é libertado em 1962, quando o presidente francês Charles de Gaulle reconhece a independência argelina. Assume então o cargo de primeiro-ministro do governo de transição e no ano seguinte é eleito o primeiro presidente da República Democrática Popular da Argélia.

Ben Bella Estabelece um governo de orientação socialista, nacionalizando empresas petrolíferas e propriedades abandonadas por colonos franceses.

Em 1965, deposto por um golpe militar liderado por seu ministro da Defesa, coronel Houari Boumedienne, fica detido até 1979, quando a pena é relaxada para prisão domiciliar. Exila-se na Suíça em 1980 e lá vive por dez anos. Em 1990 retorna à Argélia, onde está até hoje, sem interferir mais na política do país".

 

(http://www.algosobre.com.br/biografias/ben-bella.html

 

 

 

"Ben Bella (rechts) nach seiner Festnahme durch die französische Armee"
 
(Ben Bella (à direita) após a sua detenção pelo exército francês:
LEGENDA ORIGINAL EM ALEMÃO,
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"OTROS ACONTECIMIENTOS RELEVANTES DE 1962
El 3 de Julio de 1962, el presidente francés, De Gaulle reconoció la independencia de Argelia, la cual puso punto final a cruel lucha entre el ejercito Francés y el FLN (Frente de Liberación Nacional).
Tras 132 años de colonialismo francés, caía el muro que impedía la autodeterminación de pueblo Argelino y así poder decidir su propio destino como país independiente.
El FLN se fundo el  1954 por Ahmed Ben Bella, un antiguo sargento del ejército francés,  junto  a otros ocho argelinos exiliados en Egipto que querían la independencia de su país. Sus primeras actos de presión fueron atentados  de tinte terrorista contra edificios públicos  y militares e incluso secuestro de occidentales y personas relevantes del ámbito francés. Con la suma de adeptos  a la causa revolucionaria, las hostilidades contra el gobierno francés aumentaron lo que provoco la intervención de medio millón de soldados franceses en la zona con el fin de apaciguar  la revuelta popular.
Para terminar con todo el problema el gobierno francés implanto mediadas durísimas contra el pueblo argelino, tales como asesinar a poblaciones enteras por ser sospechosas de colaborar con lo guerrilleros.
El problema se agravaba cada vez mas y mas y no se veía solución posible al conflicto; y tras las aparición de la OAS (grupo contrarrevolucionario integrado por colonos franceses), hacia imposible encontrar una solución satisfactoria por todas las partes .
Así que tras duras negociaciones,  en Marzo de 1962 se llego a un alto el fuego entre las dos partes y se determino la realización de un referéndum de autodeterminación, que termino con el SI mayoritario de la población argelina.
 
Dias de revolución
Ben Bella
  
 

 

 

Trechos de cinema e vídeo concernentes,

Youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=SWy_ivKPVHU

 

 

 

 

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LE MONDE Diplomatique

NO 30º ANIVERSÁRIO DA MORTE DO COMANDANTE

ERNESTO "CHE" GUEVARA, O ESTADISTA ARGELINO

AHMED BEM BELLA ESCREVEU

(texto em francês):

 

 

"Le trentième anniversaire de la mort d’Ernesto Guevara

Ainsi était le « Che »

Le 9 octobre 1967, dans une petite salle de l’école de La Higuera (Bolivie), Ernesto Che Guevara, fait prisonnier la veille, était assassiné. Celui que Jean-Paul Sartre qualifia d’« être humain le plus complet de notre époque » achevait ainsi une vie de révolutionnaire qui l’avait conduit, dans l’espoir généreux de soulager les souffrances des pauvres, de l’Argentine au Guatemala, de Cuba au Congo, et finalement à la Bolivie. Le président Ahmed Ben Bella l’a souvent rencontré, entre 1962 et 1965, à Alger, qui était alors une terre d’asile pour tous les anti-impérialistes du monde.

Par Ahmed Ben Bella

 

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Ahmed Ben Bella

Chef historique du Front de libération nationale (FLN) algérien ; premier président de l’Algérie indépendante (1962) ; renversé par le colonel Houari Boumediène en juin 1965. Président du Mouvement pour la démocratie en Algérie (MDA).

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Depuis trente ans, Che Guevara interpelle nos consciences. Par-delà le temps et l’espace, nous entendons l’appel du « Che » qui nous somme de répondre : oui, seule la révolution peut parfois faire de l’homme un être de lumière. Cette lumière, nous l’avons vue irradier son corps nu, étendu quelque part au fond du Nancahuazu, sur ces photos parues dans les journaux des quatre coins du monde, alors que le message de son dernier regard continue de nous atteindre jusqu’au tréfonds de l’âme.

Le « Che » était un preux, mais un preux conscient, au corps affaibli par l’asthme. Je l’accompagnais parfois sur les hauteurs de Chréa, au-dessus de la ville de Blida, lorsque je voyais la crise arriver et qu’elle donnait à son visage un teint verdâtre. Qui a lu son Journal de Bolivie (1) sait avec quelle santé délabrée il a dû faire face aux terribles épreuves physiques et morales qui ont parsemé son chemin.

Il est impossible de parler du « Che » sans parler de Cuba et des relations particulières qui nous unissaient tant son histoire, sa vie, sont liées à ce pays qui fut sa seconde patrie avant qu’il ne se tourne vers là où l’appelait la révolution.

Je fis la connaissance d’Ernesto Che Guevara à la veille de la crise internationale de l’automne 1962 liée à l’affaire des fusées et au blocus de Cuba décrété par les Etats-Unis. L’Algérie venait d’accéder à l’indépendance, son premier gouvernement venait d’être constitué et, en tant que chef de ce gouvernement, je devais assister, en ce mois de septembre 1962, à New York, à la session de l’ONU pour la levée symbolique du drapeau algérien au-dessus du siège des Nations unies ; cérémonie qui consacrait la victoire de notre lutte de libération nationale et l’entrée de l’Algérie dans le concert des nations libres.

Le bureau politique du FLN avait décidé que ce voyage aux Nations unies devait être suivi d’une visite à Cuba. Plus que d’une visite, il s’agissait surtout d’un acte de foi marquant nos engagements politiques. L’Algérie souhaitait souligner publiquement sa totale solidarité avec la révolution cubaine, particulièrement en ces moments difficiles de son histoire.

Invité le 15 octobre 1962 au matin à la Maison Blanche, j’eus de franches et chaudes discussions avec le président John Fitzgerald Kennedy à propos de Cuba. A la question directe que je lui posai : « Allez-vous vers une confrontation avec Cuba ? », il ne laissa planer aucun doute sur ses intentions réelles et me répondit : « Non, s’il n’existe pas de fusées soviétiques ; oui, dans le cas contraire. » Kennedy tenta de me dissuader avec insistance de me rendre à Cuba par un vol direct à partir de New York ; allant même jusqu’à évoquer l’éventualité d’une attaque de l’avion des forces aériennes de Cuba qui devait me transporter par l’opposition cubaine installée à Miami. A ces menaces à peine voilées, je lui rétorquai que j’étais un fellaga et que les menaces des harkis algériens ou cubains ne m’intimidaient pas.

Notre arrivée à Cuba, le 16 octobre, se déroula dans une liesse populaire indescriptible. Le programme prévoyait des discussions politiques au siège du parti à La Havane dès l’arrivée de notre délégation. Mais les choses se déroulèrent tout autrement. A peine nos valises déposées dans le lieu où nous devions séjourner, bousculant le protocole, nous nous mîmes à discuter à bâtons rompus avec Fidel, Che Guevara, Raul Castro et les autres dirigeants qui nous accompagnaient.

Nous restâmes là à parler des heures et des heures durant. Bien entendu, je rapportai aux dirigeants cubains l’impression que m’avait laissée mon entrevue avec le président Kennedy. A la fin de ces débats passionnés, menés autour de tables que nous avions poussées bout à bout, nous nous aperçûmes que nous avions pratiquement épuisé le programme des questions que nous devions étudier et que notre rencontre au siège du parti n’avait plus d’objet. Et, d’un commun accord, nous décidâmes de passer directement au programme des visites que nous devions faire à travers le pays.

Cette anecdote donne une idée des rapports totalement dénués de protocole qui devaient ainsi, et dès le début, être la caractéristique essentielle, la norme des liens unissant la révolution cubaine et la révolution algérienne, et des liens personnels qui m’ont lié à Fidel Castro et à Che Guevara.

Cette solidarité se confirmera d’une manière spectaculaire lors de la première alerte grave qui menaça la révolution algérienne avec l’affaire de Tindouf en octobre 1963. Notre jeune armée, tout juste sortie d’une lutte de libération, qui ne possédait encore ni couverture aérienne - puisque nous n’avions pas un seul avion - ni forces mécanisées, fut attaquée par les forces armées marocaines sur le terrain qui lui était le plus défavorable. Elle ne pouvait y utiliser les seules méthodes qu’elle connaissait et qu’elle avait éprouvées lors de notre lutte de libération : c’est-à-dire la guerre de guérilla.

Le désert et ses vastes étendues dénudées étaient loin des montagnes des Aurès, du Djurdjura, de la presqu’île de Collo ou de Tlemcen qui avaient été son milieu naturel et dont elle connaissait toutes les ressources et tous les secrets. Nos ennemis avaient décidé qu’il fallait briser l’élan de la révolution algérienne avant qu’elle devienne trop forte et entraîne tout sur son passage.

Le président égyptien Nasser nous dépêcha très rapidement la couverture aérienne qui nous faisait défaut, et Fidel Castro, Che Guevara, Raul Castro et les dirigeants cubains nous envoyèrent un bataillon de vingt-deux blindés et plusieurs centaines de soldats (2) qui furent dirigés vers Bedeau, au sud de Sidi Bel Abbès où je leur rendis visite, et qui étaient prêts à entrer en lice si cette guerre des sables s’était poursuivie.

Ces chars possédaient un dispositif infrarouge leur permettant d’intervenir de nuit ; ils avaient été livrés à Cuba par les Soviétiques à la condition expresse de n’être mis en aucun cas entre les mains de pays tiers, y compris les Etats communistes, comme la Bulgarie. Malgré ces restrictions de Moscou, et passant par-dessus les tabous, les Cubains n’hésitèrent pas à envoyer leurs chars au secours de la révolution algérienne en danger.

La main des Etats-Unis était bien évidente derrière les événements de Tindouf ; nous savions que les hélicoptères qui transportaient les troupes marocaines étaient pilotés par des Américains. Ce sont essentiellement les mêmes raisons de solidarité internationale qui conduiront plus tard les dirigeants cubains à intervenir au-delà de l’océan Atlantique, en Angola et ailleurs.

Les circonstances qui présidèrent à l’arrivée de ce bataillon blindé méritent d’être rapportées, car elles illustrent plus que tout autre commentaire la nature de nos rapports privilégiés avec Cuba.

En octobre 1962, lors de ma visite à Cuba, Fidel Castro avait tenu à honorer la promesse que son pays nous avait faite de fournir une aide de 2 milliards d’anciens francs (3). Compte tenu de la situation économique de Cuba, elle devait nous être envoyée, non pas en devises, mais en sucre. Malgré mon refus, car je considérais qu’à ce moment Cuba avait encore plus besoin de son sucre que nous, il ne voulut rien entendre.

Environ un an après cette discussion, un navire battant pavillon cubain accosta au port d’Oran. Avec la cargaison de sucre promis, nous eûmes la surprise de trouver deux dizaines de chars et des centaines de soldats cubains accourus à notre secours. C’est sur une feuille arrachée d’un cahier d’écolier que Raul Castro m’envoyait un bref message pour annoncer ce geste de solidarité.

Bien sûr, nous ne pouvions laisser ce bateau repartir vide, aussi nous le remplîmes de produits algériens et, sur le conseil de l’ambassadeur Jorge Serguera, nous y ajoutâmes quelques chevaux barbes. Ainsi commença entre nos deux pays un troc à caractère non commercial, placé sous le sceau de la solidarité et qui, au gré des circonstances (et des contraintes), fut un élément original de nos relations.

Che Guevara était particulièrement conscient des restrictions innombrables qui entravent et affaiblissent une véritable action révolutionnaire, de même que des limites qui affectent toute expérience, fût-elle la plus révolutionnaire, dès l’instant où elle est confrontée directement ou indirectement avec les règles implacables de la loi du marché et de la rationalité mercantile. Il les dénonça publiquement lors de la Conférence afro-asiatique qui se tint à Alger en février 1965. En outre, les conditions affligeantes de la conclusion de l’affaire des fusées installées à Cuba et l’accord passé entre l’Union soviétique et les Etats-Unis avaient laissé un goût d’amertume. J’eus d’ailleurs un échange de propos très durs à ce sujet avec l’ambassadeur soviétique à Alger. Tout cela conjugué avec la situation qui prévalait en Afrique laissait espérer d’immenses potentialités révolutionnaires, et avait conduit le « Che » à considérer que le maillon faible de l’impérialisme se trouvait sur notre continent et qu’il devait désormais y consacrer ses forces.

J’essayais de lui faire remarquer que ce n’était peut- être pas la meilleure façon d’aider à la maturation révolutionnaire qui se développait sur notre continent. Si une révolution armée peut et doit trouver des soutiens étrangers, elle doit cependant créer ses propres ressorts internes sur lesquels s’appuyer. N’empêche, Che Guevara tenait à ce que son engagement fût total et physique. Il se rendit à Cabinda (Angola) et au Congo-Brazzaville à plusieurs reprises.

Il refusa l’avion particulier que je voulais mettre à sa disposition pour assurer une plus grande discrétion à ses déplacements. J’alertai alors les ambassadeurs d’Algérie dans toute la région pour qu’ils se mettent à sa disposition. Je le revis à chacun de ses retours d’Afrique noire et nous passions de longues heures à échanger nos idées. A chaque fois, il revenait impressionné par la fabuleuse richesse culturelle du continent, mais peu satisfait de ses rapports avec les partis marxistes des pays qu’il avait visités et dont les conceptions l’irritaient. Cette expérience de Cabinda, conjuguée avec celle qu’il fera par la suite avec la guérilla qui se déroulait dans la région de l’ex-Stanleyville (4), l’avait beaucoup déçu. Parallèlement à l’action du « Che », nous menions une autre action pour le sauvetage de la révolution armée de l’ouest du Zaïre. En accord avec Nyerere, Nasser, Modibo Keita, N’Krumah, Kenyatta et Sekou Touré, l’Algérie apportait sa contribution en envoyant des armes via l’Egypte à travers un véritable pont aérien, tandis que l’Ouganda et le Mali étaient chargés de fournir des cadres militaires. C’est au Caire, où nous étions réunis sur mon initiative, que nous avions conçu ce plan de sauvetage et nous commencions à l’appliquer lorsqu’un appel désespéré nous fut adressé par les dirigeants de la lutte armée. Malheureusement, malgré nos efforts, notre action intervint trop tard et cette révolution fut noyée dans le sang par les assassins de Patrice Lumumba.

Durant l’un de ses séjours à Alger, Che Guevara me fit part d’une demande de Fidel. Cuba étant sous étroite surveillance, rien ne pouvait être sérieusement organisé en direction de l’Amérique latine pour acheminer des armes et des cadres militaires qui avaient été entraînés à Cuba. L’Algérie pouvait-elle prendre le relais ? La distance n’était pas un handicap majeur, bien au contraire, elle pouvait jouer en faveur du secret qui conditionnait le succès même d’une opération de cette importance. Ma réponse fut bien sûr un « oui » spontané. Et aussitôt commença la mise en place des structures d’accueil pour les mouvements révolutionnaires d’Amérique latine, placées sous le contrôle direct de Che Guevara. Rapidement, les représentants de tous ces mouvements révolutionnaires se transportèrent à Alger, où je les rencontrai à maintes reprises en compagnie du « Che ». Un état-major regroupant les mouvements s’établit sur les hauts d’Alger dans une grande villa entourée de jardins que nous avions, symboliquement, décidé de leur attribuer. Cette villa Susini avait été un lieu célèbre, dont le nom est passé à la postérité. Durant la lutte de libération nationale, elle avait été un centre de torture où de nombreux résistants et résistantes trouvèrent la mort. Un jour, Che Guevara me dit : « Ahmed, nous venons d’avoir un coup dur, des hommes entraînés à la villa Susini se sont fait prendre à la frontière entre tel et tel pays (je n’ai plus souvenance des noms) et je crains qu’ils ne parlent sous la torture. » Il s’inquiétait beaucoup et craignait que le secret du lieu où se préparaient les actions armées ne soit éventé et que nos ennemis ne s’aperçoivent de la véritable nature des sociétés d’import-export que nous avions implantées en Amérique du Sud.

Che Guevara était parti d’Alger lorsque eut lieu le coup d’Etat militaire du 19 juin 1965 contre lequel, d’ailleurs, il m’avait mis en garde. Son départ d’Alger, puis sa mort en Bolivie et ma propre disparition pendant quinze années doivent être étudiés dans le contexte historique qui marqua le reflux ayant suivi la phase des luttes de libération victorieuses. Ce reflux qui sonna le glas, après l’assassinat de Lumumba, des régimes progressistes du tiers-monde et entre autres de ceux de N’Krumah, de Modibo Keita, Soekarno, Nasser, etc.

CETTE date du 9 octobre 1967 inscrite en lettres de feu dans nos mémoires évoque une journée incommensurablement sombre pour le prisonnier solitaire que j’étais, alors que les radios annonçaient la mort de mon frère et que les ennemis que nous avions combattus ensemble entonnaient leur sinistre chant de victoire. Mais plus nous nous éloignons de cette date, quand s’estompent dans les mémoires les circonstances de la guérilla qui prit fin ce jour-là dans le Nancahuazu, plus le souvenir du « Che » est présent dans l’esprit de ceux qui luttent et qui espèrent. Plus que jamais, il s’insère dans la trame de leur vie quotidienne. Quelque chose du « Che » reste attaché à leur cœur, à leur âme, enfoui tel un trésor dans la partie la plus profonde, la plus secrète et la plus riche de leur être, réchauffant leur courage, attisant leur énergie.

Un jour de mai 1972, le silence opaque de ma prison jalousement gardée par des centaines de soldats fut brisé par un grand brouhaha. Ainsi appris-je que, à quelques centaines de mètres seulement, Fidel était là, visitant une ferme modèle toute proche et ignorant sans doute que je me trouvais dans cette maison mauresque isolée sur la colline dont il pouvait apercevoir les toits au-dessus de la cime des arbres. C’est certainement pour les mêmes raisons de discrétion que cette même maison avait été naguère choisie par l’armée colonialiste comme centre de torture.

A ce moment, une foule de souvenirs remonta à mon esprit, une cohorte de visages, tel un film patiné par le temps, défila dans ma tête, et, jamais depuis que nous nous étions quittés, Che Guevara ne fut aussi vivant dans ma mémoire.

En vérité, son souvenir ne nous a jamais quittés, mon épouse et moi. Une grande photo du Che a toujours été épinglée sur les murs de notre prison et son regard a été le témoin de notre vie quotidienne, de nos joies et de nos peines. Mais une autre photo, une petite photo découpée dans un magazine et que j’avais collée sur un carton et protégée d’un plastique nous a toujours accompagnés dans nos pérégrinations. C’est la plus chère à nos yeux. Elle se trouve aujourd’hui à Maghnia, mon village natal, dans la maison de mes vieux parents qui ne sont plus et où nous avions déposé nos plus précieux souvenirs avant de partir en exil. C’est la photo d’Ernesto Che Guevara étendu, torse nu et dont le corps irradie tant de lumière. Tant de lumière et tant d’espoir.

Ahmed Ben Bella".

[http://www.monde-diplomatique.fr/1997/10/BEN_BELLA/9297,

onde constam as notas do artigo acima transcrito:

(1) Ernesto Guevara, Le Journal de Bolivie (préface de François Maspero), La Découverte, Paris, 1995.

(2) NDLR : ces soldats étaient placés sous les ordres du commandant Efigenio Ameijeiras, un vétéran du Granma, compagnon de la première heure de Fidel et du « Che », et ancien chef de la police révolutionnaire cubaine.

(3) NDLR : correspondant à 20 millions de francs français.

(4) NDLR : actuelle Kisangani, en République démocratique du Congo (ex-Zaïre).]

 

 

 

 

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Silvia Cattori para a Rede Voltaire

(no site Silvia Cattori ponto net):

 

"Desde a colonização interferência
 
Para Ahmed Ben Bella, a libertação dos povos do Sul está inacabada
 
Enquanto na França se desenvolve um debate malsão sobre os benefícios da colonização e sobre a responsabilidade dos árabes no bloqueio das suas sociedades, o presidente Ahmed Ben Bella recorda algumas verdades históricas: a ilegitimidade da dominação de um povo sobre outro – quer seja ontem na Argélia ou hoje na Palestina –, a realidade mundial – e não árabe – da colonização e das lutas de libertação nacional, a ingerência ocidental para derrubar os governos nacionalistas e revolucionários do Sul e manter as sequelas da colonização. Sublinha que hoje, é o fundamentalismo evangélico que exporta a violência.
21 de Abril de 2006
 
Ahmed Ben Bella é uma das altas figuras do nacionalismo árabe. Foi um dos nove membros do Comité revolucionário argelino que deu nascimento à Frente de Libertação Nacional (FLN). Preso pelo ocupante francês em 1952, evade-se. Preso outra vez em 1956, com cinco outros companheiros, é detido na prisão de la Santé até 1962. Após a assinatura dos acordos de Évian, torna-se o primeiro presidente eleito da Argélia independente. No plano interno, conduz uma política socialista caracterizada por um vasto programa de reforma agrária.
No plano internacional, faz entrar o seu país na ONU e compromete-o no movimento dos não­‑alinhados. A sua influência crescente na luta contra o imperialismo leva as grandes potências a favorecer o seu derrube por um golpe de Estado militar. É colocado sob residência vigiada de 1965 a 1980. Desde então, manteve­‑se afastado dos assuntos internos do seu país, mas continua a desempenhar um papel internacional, nomeadamente como presidente da Campanha internacional contra a agressão no Iraque. Actor central de perturbações históricas, responde às perguntas de Silvia Cattori para a Rede Voltaire.

 

 

Silvia Cattori : Quando não viaja, reside na Suíça?

Ahmed Ben Bella : Não, vivo na Argélia, mas venho frequentemente à Suíça. Vivi aqui durante dez anos, após as minhas disputas com o poder dos militares argelinos. Na Argélia sou sitiado pelos jornalistas. Por conseguinte, quando tenho necessidade de tomar um pouco de descanso e de recuo em relação ao que se passa lá baixo, venho aqui onde guardei um pequeno apartamento. Sabe, tenho noventa anos!

Silvia Cattori : Tem o ar de um homem jovem! Sabe, Sr. Ben Bella, que imprimiu uma imagem muito bonita no coração das pessoas por toda a parte no mundo?

Ahmed Ben Bella : (Riso) Tive uma vida um pouco especial, é verdade. Participei na libertação do meu país. Fui um dos organizadores da sua luta de libertação. Participei igualmente de maneira activa em todas as lutas de libertação.

Silvia Cattori : É de origem arabo­‑marroquina. Que relação mantém com as suas raízes rurais?

Ahmed Ben Bella : Sim, sou argelino de origem marroquina pelos meus pais, mas toda a minha vida é a Argélia. Nasci ali. Sou um filho de camponeses pobres que vieram muito jovens viver para a Argélia. Só recentemente vi o lugar onde nasceram, nos arredores da cidade de Marraquexe.

Silvia Cattori : Vindo ter consigo, tenho a impressão de ir ao encontro dos povos e das causas pelas quais se bateu toda a vida. É muito comovente falar aqui do seu combate para criar um mundo mais humano, mais justo. Não encarna você tudo isso?

Ahmed Ben Bella : Sim, a minha vida é uma vida de combate; posso dizer que isso nunca parou um só instante. Um combate que comecei com a idade de 16 anos. Tenho 90 anos e a minha motivação não mudou: é o mesmo fervor que me anima.

Silvia Cattori : Em 1962, acede ao mais altos cargos da Argélia independente. Todas as esperanças estão abertas. Da Argélia colonizada à sua libertação, da cena política internacional ao combate altermundialista, pagou caro o preço da sua insubmissão.

Ahmed Ben Bella : Sim, paguei muito caro o meu combate pela justiça e pela liberdade dos povos. Mas aí está, fiz o que senti como um dever, uma obrigação. Por conseguinte, para mim a escolha não foi difícil. Quando me comprometi na luta pelo meu país, era muito jovem. Os meus horizontes abriram-se. Dei­‑me muito rapidamente conta de que os problemas iam para além da Argélia, que a colonização atingia variados povos, que três quartos dos países do planeta eram colonizados de uma maneira ou outra. A Argélia era então, para os franceses, um departamento ultramarino, era a França do outro lado do Mediterrâneo. A colonização da Argélia pela França durou muito tempo: 132 anos. Participei nesta luta na Argélia. Imediatamente após a independência, associei­‑me a todos os que, no mundo, se batiam eles também para libertar o seu país. Houve pois esta fase da luta de libertação nacional na qual participei de maneira total. Na Tunísia, em Marrocos, no Vietname, a Argélia tinha­‑se tornado um pouco a mãe das lutas de libertação; apoiá­‑las era pois para nós uma tarefa sagrada. Quando alguém nos vinha pedir ajuda, era sagrado. Não sequer reflectíamos. Ajudáva­mo­‑los, mesmo quando só tínhamos poucos meios; oferecíamo-lhes armas, um pouco de dinheiro e, se necessário, homens.

Silvia Cattori : Em 1965, não são os franceses que o prendem, são os seus irmãos de armas. Que sente, hoje, em relação àqueles que lhe barraram brutalmente o caminho?

Ahmed Ben Bella : Não sinto desprezo, não sinto ódio. Penso que participaram em algo que não era muito limpo e que foi muito prejudicial, não somente para o povo argelino, mas igualmente para os outros povos que contavam então com o nosso apoio. O meu combate para trazer melhores condições de vida aos argelinos, então mergulhados numa grande miséria, e o meu combate para ajudar os outros povos ainda colonizados a recuperar a sua liberdade, incomodava extremamente certos poderes. Do seu ponto de vista ia demasiado longe. Devia desaparecer. Isto para dizer que, se o exército argelino não me tivesse derrubado, outros o teriam feito. Devia desaparecer, porque me tinha tornado demasiado incómodo. Protegia praticamente todos os movimentos de libertação, incluindo os que vinham da América Latina.

Silvia Cattori : Estava já em contacto com Fidel Castro?

Ahmed Ben Bella : Sim, o Che tinha vindo a Argel trazer-me a mensagem de Fidel Castro, que tinha encontrado duas vezes. Pedia­‑nos para apoiar as lutas que se desenvolviam na América do Sul, porque Cuba não podia fazer nada; estava sob o controlo dos Estados Unidos, que ocupavam a baía de Guantanamo. Nada podia pois sair de Cuba, nem sequer uma caixa de fósforos, sem que os Estados Unidos o soubessem. Não hesitei um segundo. Foi a partir da Argélia, e com a participação do Che, que permaneceu entre nós durante seis meses, que foi criado o Estado­‑maior do exército de libertação da América do Sul. Posso dizê-lo agora: todos os combatentes que participavam na luta de libertação na América do Sul vieram à Argélia; foi de lá que todos os que lutavam partiram. Treinámo­‑los, arranjámo­‑nos de modo que as armas chegassem a eles, criámos redes.

 

Silvia Cattori : Em que ano Che Guevara foi à Argélia?

Ahmed Ben Bella : O Che veio em 1963, logo depois da minha chegada ao poder. Com o meu governo, comprometemo­‑nos a prestar a nossa ajuda às lutas de libertação nacional. Nesse momento, numerosos países eram ainda colonizados ou mal saíam da colonização. Toda a África praticamente estava nessa situação. Apoiamo­‑lo. Mandela e Amilcar Cabral também vieram à Argélia. Fui eu quem os treinou; depois partiram para conduzir a luta de libertação nos seus países. Para outros movimentos, que não estavam comprometidos na luta armada ou que tinham necessidade apenas de um apoio político, como o Mali, nós ajudávamo­‑los a outros níveis.

Silvia Cattori : Quem precisamente o afastou em 1965? O exército argelino ou forças externas?

Ahmed Ben Bella : Estou certo de que, indirectamente, houve a intervenção de potências estrangeiras. Vimos noutros lugares os mesmos mecanismos. Por toda a parte onde as lutas de libertação nacional triunfaram, uma vez o poder constituído, houve golpes de Estado militares que derrubaram os seus líderes. Isso produziu­‑se repetidamente. Em dois anos, houve 22 golpes de Estado militares, essencialmente em África e no terceiro mundo. O golpe de Estado de Argel, em 1965, foi aquele que abriu o caminho. A Argélia foi pois apenas o início de algo que estava em gestação: é por isso que digo que foi o sistema capitalista mundial que finalmente reagiu contra nós.

Silvia Cattori : É marxista?

Ahmed Ben Bella : Não sou marxista, mas situo-me resolutamente à esquerda. Sou árabe muçulmano, orientado muito à esquerda na minha acção, nas minhas convicções. É por isso que, ainda que não partilhe a doutrina marxista, sempre me encontrei ao lado de todos os movimentos de esquerda no mundo e dos países socialistas que, como Cuba, a China, a URSS, conduziram o combate anti­‑colonialista e anti­‑imperialista. Foi com eles que constituímos uma frente de libertação e levámos o nosso apoio logístico aos exércitos populares para ajudar os seus países a sair do colonialismo e a instaurar um regime interno nacional. Era a fase de liquidação do colonialismo. O colonialismo é uma ideia que nasceu no Ocidente e que levou os países ocidentais – como a França, a Itália, a Bélgica, a Grã-Bretanha – a ocupar países fora do continente europeu. Um colonialismo na sua forma primitiva, ou seja pela instalação prolongada de poderes estrangeiros repressivos, com um exército, serviços, polícias. Esta fase conheceu ocupações coloniais cruéis que duraram até 300 anos na Indonésia.

Silvia Cattori : Após essa fase, não estava activo no movimento dos países não alinhados?

Ahmed Ben Bella : Já não há países não alinhados. Esse movimento foi criado por homens de muito grande qualidade como Nehru, Mao Tsé-toung, Nasser e outros grandes nomes; numa época sobretudo onde havia o risco de uma guerra atómica. Era a confrontação entre a URSS e os Estados Unidos. Estávamos à borda da guerra nuclear. Os países não alinhados desempenharam um papel importante para a impedir. Este movimento durou um certo número de anos. Mas o sistema acabou por adquirir razão dele.

Silvia Cattori : Seguidamente, não desempenhou um papel importante no desenvolvimento do movimento altermundialista?

Ahmed Ben Bella : O sistema mundial que preside a tudo aquilo de que falámos, inventou uma outra forma de dominação: a “mundialização”. “mundialização” é uma palavra muito bonita em si. Uma palavra que pode unir, trazer a fraternidade entre os povos. Ora, a palavra “mundialização” tal como foi concebida, é uma palavra que faz muito mal. Uma palavra que levou à mundialização da miséria, da morte, da fome: 35 milhões de pessoas morrem de desnutrição cada ano. Sim, seria uma palavra muito bonita, se tivéssemos mundializado o bem, levado o bem-estar a todos. Ora, é todo o contrário. É uma globalização perversa; mundializa o mal, mundializa a morte, mundializa a pobreza.

Silvia Cattori : A mundialização teve apenas efeitos perversos?

Ahmed Ben Bella : A única vantagem que retiramos é que estamos hoje melhor informados que ontem. Ninguém pode mais ignorar o facto de que este sistema conduz à extensão da fome. Riquezas foram criadas, mas são riquezas factícias. São multinacionais, como a General Motors e a Nestlé, são grandes grupos industriais que pesam, no plano monetário, muito mais que grandes países como o Egipto. Se nos basearmos nos seus lucros, a General Motors, por exemplo, é quatro vezes mais rica que o Egipto, que é um país de 70 milhões de habitantes, o país dos Faraós, um país extraordinário, o país árabe mais educado! Isso dá-vos uma imagem do que significa a palavra “mundialização”. Aí está porque combati este sistema que favorece grupos que representam, no plano monetário, muito mais do que um grande país e geram tantas desigualdades. Aí está porque devemos, nós outros, favorecer uma melhor compreensão dos problemas, que foram complicados a desejo, mas que são finalmente a expressão de uma só coisa: a instauração de um sistema inumano.

Silvia Cattori : Apesar da vontade claramente expressa, em 2003, por três quartos dos povos do planeta, os movimentos progressistas não conseguiram impedir a guerra. Não tem, às vezes, o sentimento de que aqueles que estão à frente dos movimentos, falharam um degrau; ou simplesmente deram um passo em falso por não terem sabido identificar as verdadeiras motivações do adversário?

Ahmed Ben Bella : Eu que sou um homem do Sul, constato que algo mudou no norte, que é muito importante salientar. O que mudou precisamente nesta área dita avançada do norte, que nos fez a guerra, que nos colonizou, que nos fez coisas terríveis, é que há hoje uma opinião que se exprime, que há jovens que dizem “basta”. Isto indica que este sistema mundial perverso já não golpeia só o Sul mas também o norte. No passado falava-se de pobreza, de miséria unicamente no Sul. Há agora muita miséria, muitos mais que são vítimas no norte igualmente. Isso tornou­‑se manifesto: este sistema mundial não é feito para servir o bem de todos, mas para servir sociedades multinacionais.

Assim, dentro deste norte, que combatemos tanto, há agora um movimento, há toda uma juventude que quer agir, que desce à rua, que protesta, ainda que a esquerda não tenha sabido dar, a estes jovens que querem mudanças, as chaves da solução. Isso sempre se passou assim: qualquer movimento começa desta maneira. O movimento de libertação que conduzi na Argélia, a organização que criei para combater o exército francês, era à partida um pequeno movimento de nada. Éramos apenas algumas dezenas através de toda a Argélia, um território que representa cinco vezes a França.

Silvia Cattori : O que obtiveram, estas gerações de jovens que puseram tanta esperança na ATTAC, por exemplo, que propõe “reformar a mundialização”! Mas não era necessário recusar o seu próprio princípio e adoptar medidas mais radicais, perante a radicalidade do sistema dito liberal?

Ahmed Ben Bella : As pessoas de esquerda, uma vez no poder, não são diferentes das dos outros partidos. No que diz respeito à Argélia, tentámos trabalhar com a esquerda francesa. Ora não conhecemos pior poder que o exercido pelo partido socialista francês. As piores coisas que nos aconteceram foi com os socialistas. Nenhum poder político anteriormente nos tinha combatido tão duramente como o do socialista Guy Mollet. Falo-vos de factos precisos. Falo do que conheci. Estava à cabeça da FLN quando o governo de Guy Mollet – após ter compreendido que a França não poderia manter-se na Argélia – contactou Gamal Abdel Nasser para que nos perguntasse se estávamos prontos a discutir com eles. Era o que sempre tinha previsto; que um dia ia ser necessário sentarmo­‑nos em torno de uma mesa e definir a melhor maneira de a Argélia se tornar totalmente independente. Era o objectivo que procurávamos: tornarmo‑nos livres, não mais viver sob a férula de um sistema opressivo. Disse que sim, que estava pronto para negociar, na condição de que fossem eles, os franceses, a fazerem pedido. Era importante, porque é sempre a parte mais fraca que pede para negociar. Exigi que as negociações se desenrolassem no Egipto. As negociações duraram seis meses. Chegámos a uma solução. Com este pedaço de papel no bolso, em Setembro de 1956, fui informar Mohammed V, o rei de Marrocos. Tinha-se implicado nesta luta, tinha-nos ajudado, incluindo militarmente. Depois, quando nos deslocámos à Tunísia, onde queríamos igualmente informar as autoridades, o nosso avião foi caçado pela aviação francesa. Foi o primeiro desvio de avião da história. Havia, neste avião, dois terços dos líderes da revolução argelina. Queriam liquidar-nos imediatamente. É um milagre se escapámos à morte. Tudo isto para lhe dizer o que penso dos socialistas: foi Guy Mollet que, mal tinha assinado um compromisso, o traiu. Poderia dizer a mesma coisa do governador Lacoste, era um socialista ele também. Não, os partidos de esquerda não nos apoiaram, pelo contrário. Seja como for, era a esquerda que nos interessava e é com ela que continuo a bater­‑me. Sou um homem de esquerda.

Silvia Cattori : Então quando está lado a lado com os representantes da internacional socialista, nos pódios dos Fóruns sociais, acontece dizer a si mesmo que estão lá antes de mais pelo seu prestígio pessoal?

Ahmed Ben Bella : Sim, acontece-me pensar que não são sérios. Eu quero realmente mudar este mundo. Quero que este mundo mude. Para mudar as coisas, temos necessidade, antes de mais, de pessoas sinceras e desinteressadas.

Silvia Cattori : Crê na necessidade de uma mudança?

Ahmed Ben Bella : Sim, desde a minha primeira juventude creio nessa necessidade. Retorno ao que lhe dizia. O que pessoalmente me leva a ter uma certa confiança no futuro. Quero falar do que observo aqui, no Ocidente. Estou convencido de que o sistema liberal não tem futuro. Estes jovens, estes estudantes que vi descer nas ruas, que nada têm a não ser o seu ideal de justiça; estes jovens que se manifestam, que estão à procura de outros valores, gostaria de lhes dizer: “Comecei dessa maneira, quando tinha a vossa idade, por pequenos passos. E pouco a pouco foi todo um povo que me seguiu”. Quando vou a manifestações, observo-os, falo com eles, vejo que são eles quem têm as cartas nas mãos.

Silvia Cattori : A questão coloca-se com insistência: os líderes dos movimentos anti­‑imperialistas não pouparam Israel, um Estado ideologicamente e legislativamente racista que conduz desde a sua criação uma política de depuração étnica na Palestina? Em consequência, orientaram mal gerações de jovens, falsearam o debate, enquanto Israel era muito activo ao lado dos Estados Unidos para combater o comunismo, combater Nasser e o nacionalismo árabe, apoiar regimes terríveis?

Ahmed Ben Bella : Estas perguntas estão hoje sobre a mesa, fazem debate. Não queremos uma solidariedade enviesada. Não queremos um Estado que, como Israel, seja o instrumento preferido deste sistema global cruel conduzido pelos Estados Unidos, que praticam uma política que já fez tanto mal. Para nós, há dupla traição. A traição, primeiro, daqueles que, no campo da esquerda, deviam ter­‑se encontrado ao nosso lado, leais à causa palestiniana e árabe, e que não estiveram. A traição, depois, de todos os judeus com quem nos sentimos próximos, com quem temos semelhanças, e com os quais vivíamos em perfeita harmonia. Os árabes e os judeus são primos. Falamos a mesma língua. São semitas como nós. Eles falam aramaico, nós falamos aramaico. O aramaico comporta vários ramos: a Etiópia fala aramaico, a Eritreia fala aramaico, as pessoas de confissão judaica falam aramaico, os árabes falam aramaico. É isso que nos faz muito mal: saber-nos traídos por aqueles que estão tão perto de nós, por pessoas que são os nossos primos, que se nos assemelham e que falam aramaico como nós. O anti-semitismo, conhecemo-lo; somos semitas. Acrescento a isso que, mesmo o seu profeta é o nosso profeta. Moisés e Jesus Cristo são nossos profetas. 

 

 

Silvia Cattori : Desde o fim do multilateralismo, a ONU é golpeada por Washington e pelos neoconservadores. Qualquer país árabe que não se submeta aos seus diktats é banido pelas nações. Como ajuíza esta situação? Como sair dela? Também, confrontado com o unilateralismo israelense, não está o Hamas condenado a encalhar, e a renunciar àquilo por que o seu povo se bate há 60 anos?

Ahmed Ben Bella : Penso que o Hamas é característico do que se passa nos nossos países, desta dimensão que agora toma uma forte cor religiosa, que endossa o Islão. Sou um árabe muçulmano, não quereria viver num país dirigido por um integrismo islâmico. Mas digo­‑lhe muito francamente: não os repreendo. Porque esta necessidade de religião foi criada pelas distorções do sistema capitalista. Foi à força de nos fazer mal que, finalmente, em vez ter face a eles um movimento, sim, que endossa o arabicidade, que endossa a cultura e continua a ser aberto, os extremistas, Israel e os Estados Unidos, se encontram face a esta dimensão. Foram eles que criaram esta situação.

Silvia Cattori : Não quer resposta religiosa?

Ahmed Ben Bella : Sou muçulmano, mas não desejo que a resposta seja religiosa. Não é o facto religioso em si que recuso, não, mas o facto de que se possa fazer uma leitura que não vai no sentido da renovação do Islão, que se possa fazer uma leitura retrógrada do Islão; enquanto no Islão temos a vantagem de crer nas duas religiões: a religião judaica e a religião cristã. Para nós Maomé é apenas a continuação de Jesus Cristo e Moisés.

Silvia Cattori : Não tomaram os muçulmanos a dianteira da resistência anticolonial hoje em dia? Não é conveniente reconhecer que não são os valores do Ocidente que os arabo­‑muçulmanos combatem, mas a sua política agressiva? O Hezbollah, por exemplo, que tem tão má imprensa entre nós, não fez recuar o imperialismo americano e israelense no Líbano? Os progressistas não deveriam superar os seus preconceitos em relação aos muçulmanos, considerá­‑los como um elemento dinâmico na luta contra a opressão e apoiá­‑los?

Ahmed Ben Bella : Sim, sim. Aí há um problema de educação. Compete aos que estão na direcção dos partidos progressistas responder de maneira correcta a situações dadas. Ora não é o caso. Temos uma bandeira, temos um hino nacional, o resto são os Ocidentais, todas as tendências confundidas, que decidem no nosso lugar. Tudo isso, revestido com bonitas palavras, a coberto da ajuda de organismos como o Banco Mundial e o FMI, que não são outro coisa que instrumentos de tortura criados pelo Ocidente para continuar a sua dominação. O que significa que saímos de um sistema de colonialismo directo em troca de algo que parece melhor, mas que não o é. No entanto, repito-lhe, tenho esta esperança que neste norte que já nos fez tanto mal, a sua juventude está prestes a tomar a medida desta lógica de dominação que cria cada vez mais pobreza tanto no norte como no sul. Mesmo que não seja a mesma dominação que se aplica no Sul, é uma situação de indigência que nenhum ser livre pode aceitar. Quantas pessoas não estão entregues ao desemprego, à pobreza, à rua? É isso, talvez, que acabará por incitar os povos do norte a mudar de óptica e a associar-se de maneira honesta connosco.

Silvia Cattori : Mas não vemos hoje muita gente, no Ocidente, protestar contra os atrocidades cometidas no Iraque, na Palestina, no Afeganistão. Não tem a impressão de que há tantos preconceitos, sabiamente mantidos, no que diz respeito aos árabes e aos muçulmanos – incluindo nas organizações anti­‑guerra – que apoiar a sua resistência, é uma ideia muito afastada deles?

Ahmed Ben Bella : É verdade, os partidos de esquerda que esperávamos não compareceram ao encontro; viraram­‑se para cima. Logo que se fala do Islão, opõem Ben Laden. Não quereria viver na sua república, mas não o critico. Quando vejo o que Bush fez, não me permito criticar Ben Laden. Digo-lhe francamente: os ataques contra as torres de Nova Iorque, não os condenei. Condeno Bush, condeno o governo americano, porque considero que Ben Laden é o fruto da sua política. Fecharam todas as portas do diálogo aos arabo­‑muçulmanos. Fizeram-lhes crer durante décadas que, se fizessem isto ou aquilo, o Ocidente traria justiça à Palestina. Ora, Israel e os seus aliados nunca quiseram a paz connosco. Israel não cessou de fazer a guerra e de aterrorizar os nossos povos. Ben Laden é indirectamente a criação de Bush e de Israel. Estes dois Estados semeiam a morte e o ódio no Médio Oriente e no mundo: não nos deixaram nenhuma outra alternativa que a da confrontação violenta. Todos estes movimentos radicais, qualificados de “terroristas”, “integristas”, nasceram para responder aos terroristas que, em Telavive e Washington, efectuam guerras de destruição dos povos árabes. Que escolhas têm, estes povos que eles bombardeiam com tal brutalidade? Face aos exércitos modernos, não têm outras armas que sacrificar a sua vida fazendo-se explodir, aí está. No Corão chama-se a isso shahâdah. É uma ideia extraordinária que se exprime nesta palavra. É um estado de desespero, onde aquele que o experimenta, chega a não mais suportar viver. Sacrifica-se, não para obter uma vida melhor para ele mesmo, mas para que os seus pelo menos possam viver melhor. É o maior sacrifício. Chama­‑lhes aqui no Ocidente “terroristas”. Ora, digo­‑lhe com sinceridade, por mim inclino-me perante alguém que faz um similar sacrifício, asseguro­‑lhe.

Silvia Cattori : Se compreendo bem, diz que tudo o que põe em revolta as pessoas no Médio Oriente foi gerado pelo Ocidente. Que aqueles que se batem devem sacrificar-se, sofrer pelos outros? Que os Árabes deram provas de tolerância no passado?

Ahmed Ben Bella : Completamente. A violência que se exprime no mundo arabo­‑muçulmano é o resultado da cultura de ódio e de violência que Israel gerou impondo-se pela força nas terras dos árabes. Foram as atrocidades deste Estado ilegal que forçaram os mais corajosos a reagir. Não penso que haja combate mais nobre do que o dos palestinianos que resistem contra o seu ocupante. Quando vejo o que este povo suportou desde há mais de um século, e que continua a encontrar a força de se bater, sou admirativo. Hoje, aqueles mesmos que massacram este povo, estão a fazer passar as pessoas do Hamas por fascistas, terroristas. Não são fascistas, não são terroristas, são resistentes!

Silvia Cattori : A Palestina é uma nação encarcerada. Como se chegou, mesmo à esquerda, a falar de “terrorismo”, em vez de falar do direito de resistir pelas armas? Vê paralelos ou diferenças essenciais entre a colonização da Argélia pela França e a colonização da Palestina por Israel?

Ahmed Ben Bella : É pior na Palestina. Com o apartheid a mais. Os franceses não podiam caçar-nos num país tão grande como cinco vezes a França. Bem tentaram criar a norte uma zona tampão, com o menor número de argelinos possível, mas isso não teve êxito. Não instauraram um verdadeiro apartheid como os israelenses na Palestina. O Estado do Israel criou a mais terrível das dominações.

Silvia Cattori : Na sua opinião, os palestinianos viverão menos tempo sob ocupação do que os argelinos?

Ahmed Ben Bella : Creio que sim. Antes de mais, o colonialismo é um fenómeno que é claramente estabelecido e sancionado pelas leis internacionais. Seguidamente, se há uma questão que faz a unanimidade no mundo árabe, é a Palestina. Enquanto os palestinianos não obtiverem justiça, o mundo árabe muçulmano também não poderá sentir­‑se livre. É como uma parte da sua carne que continua cativa.

Silvia Cattori : Noutros tempos, a política não era mais nobre, mas havia ainda um equilíbrio. Desde o fim da bipolaridade, os princípios morais mais elementares foram varridos. Por toda a parte fala-se em combater o “terrorismo”, mas mal se fala das 800 crianças mortas na Palestina pelos soldados israelenses desde 2000; dos milhões de crianças iraquianas mortas ou doentes que não têm mais direito a um desenvolvimento normal. Guantanamo, Abu Ghraïb, teriam sido possíveis se a Comunidade Internacional tivesse tido a decência de dizer não à violência de Washington? Que responsável estatal tem ainda as mãos limpas nesta pretensa guerra contra “o terrorismo”?

Ahmed Ben Bella : É tremendo o que se passou em Guantanamo, em Abu Ghraïb e noutros sítios. E todo este horror continua a propagar­‑se e a gerar grandes sofrimentos. Ficamos a saber que os Estados Unidos instalaram prisões na Europa do Leste para escapar aos órgãos jurisdicionais do seu país e que a Europa participa de tudo isso. Acusaram mesmo a Suíça de autorizar o sobrevoo do seu território por estes aviões que transportam prisioneiros fantasmas, sequestrados, sujeitos a torturas.

Silvia Cattori : Quais são, na sua opinião, os meios de contrariar a estratégia posta em prática por Bush e pelos neoconservadores?

Ahmed Ben Bella : É um movimento integrista, mas cristão esse! O problema ao qual fazemos face hoje é este: a ideologia de Bush é o pior integrismo que se possa imaginar. São os famosos evangelistas protestantes que inspiram Bush. É um integrismo terrível. Finalmente, quais são os meios que temos para combater? Falei-lhe das esperanças que ponho na juventude, sabendo bem que não tem verdadeiros meios para combater este sistema horrendo. Eu sei, não é suficiente descer à rua. É necessário passar a outra coisa, inventar outros meios de acção, mas é necessário agir e não sofrer. E quando se tem o sentimento de não avançar, é necessário dizer que se passa por fases, que é necessário certo tempo antes de atingir a compreensão do grande número. Começa-se a agir com aqueles que têm uma compreensão clara, ainda que isso não cubra a totalidade dos problemas. Mas depois, deve-se passar por cima dos obstáculos, e dizer que não é nem o partido socialista, por muito socialista que se declara, nem tal associação que vai alterar este mundo.

Silvia Cattori : Para chegar a um reequilíbrio, a solução pode vir do lado da China e da Rússia?

Ahmed Ben Bella : Penso que uma esperança pode vir da China. No passado, a Rússia ajudou-nos de maneira extraordinária. Mas de momento, infelizmente, a Rússia não está numa situação fácil. Não poria esperanças nela. Contaria muito mais com a China. Primeiro tem argumentos que a Rússia não tem. É um país que está à frente dos países em expansão. Mesmo o Ocidente vai implantar-se na China para vivificar a sua economia. Daqui a 20 anos veremos o novo mapa político.

Silvia Cattori : Enquanto se espera, o que dizer aos povos deixados ao abandono, na Palestina, no Iraque?

Ahmed Ben Bella : Não se age nunca pensando que somos nós os que vamos ser os beneficiários. Age-se porque é necessário agir. Nunca as grandes conquistas foram o fruto de uma só geração. Diz-se entre nós que o que come não é o que serve o prato. É necessário criar redes de solidariedade que apoiem sem condições a luta destes povos.

Silvia Cattori : Que dizer também a esta juventude que mencionou, testemunha de tanto abusos?

Ahmed Ben Bella : É necessário que vão além, que tomem iniciativas. Se já não é suficiente reunirem-se periodicamente em grandes ajuntamentos, se não altera nada, é necessário passar a outra coisa: inventar novas formas de luta sem esperar.

Silvia Cattori : Mas não chegou o momento de os árabes tomarem a direcção do movimento anti­‑guerra até agora entre as mãos de ocidentais?

Ahmed Ben Bella : Sim, sim. Tendo em conta a gravidade da situação no Médio Oriente, são palestinianos ou representantes dos movimentos do mundo árabe que devem mexer­‑se. Penso que este movimento árabe, o movimento palestiniano, todas estas forças, se se conjugarem e ultrapassarem os seus diferendos, são uma esperança não somente para os árabes. Podem contribuir igualmente para alterar este mundo, o sistema mundial tal como funciona.

Silvia Cattori : Parece optimista!

Ahmed Ben Bella : Oh sabe, sou apenas um optimista: passo a minha vida a agir. Não me satisfaço em fazer discursos, consagro todo o meu tempo a agir por meio da organização Norte­‑sul. Também creio que, por vezes, as forças da esperança vêm donde menos se espera.

Silvia Cattori : O primeiro congresso constitutivo da Aliança Popular Árabe de Resistência celebrou-se em fins de Março de 2006 no Cairo. Os participantes apelaram aos povos para que se pusessem «sob a bandeira do internacionalismo para apoiar o povo árabe na sua luta contra a agressão imperialista». Não será o ponto de partida de uma campanha que, se os partidos progressistas do Ocidente aderirem, poderá relançar o movimento anti­‑guerra e ir no sentido dos seus desejos?

Ahmed Ben Bella : Sim, sou pessoalmente favorável a esta iniciativa. O essencial é avançar. Não se avança se se duvida, se se pensa que acabou. Se se fica pelas dissensões. Avança-se e corrige-se os defeitos. A vida é isso. Há também, no campo árabe, muitos obstáculos a superar. Devemos fazer um esforço para superar as dissensões. Com efeito, conhecemos, no movimento árabe, as mesmas fraquezas que conhece o movimento anti­‑imperialista no Ocidente.

Silvia Cattori : Há quase dez mil palestinianos presos arbitrariamente nas prisões israelenses. Não são reconhecidos como prisioneiros políticos. Ahmed Sa’adat – raptado por Israel em Março de 2006, em Jerico, com cinco companheiros – enquanto estava sob guarda americano­‑britânica – e depois sujeito a torturas contínuas. Reafirmou a sua vontade de não ceder, dizendo: «Pouco importa o lugar onde estarei, continuarei a combater». Deve reconhecer-se nesta afirmação, você que sabe o que isso quer dizer, viver encarcerado?

Ahmed Ben Bella : Sim, vivi 24 anos e meio na prisão. Quando os franceses me fecharam na Santé, puseram-me lá com os detidos que eram guilhotinados. Via a guilhotina da minha cela. É terrível o que Israel faz sofrer como maus tratamentos aos palestinianos. Actualmente tenho apenas um só projecto: é a Palestina. Farei todo o meu melhor para os ajudar. Para chegar à paz, na Palestina e no mundo, é necessário que este sistema de mercadores se vá. Porque os problemas são imensos, os estragos são imensos. Deixar o mundo nas mãos de mercadores e de assassinos é um crime. É isso o terrorismo. Não é Ben Laden.

Silvia Cattori : Quando ouve chefes de Estado dizer que fazem a guerra no Iraque em nome da liberdade e da democracia, o que tem vontade de lhes dizer?

Ahmed Ben Bella : Digo-lhes que o direito à vida é o primeiro dos direitos humanos. Os direitos do homem é o direito de viver. Todos os nossos filósofos falam do direito à vida. Salvaguardar a vida, viver, é a primeira das coisas às quais cada um aspira. Ora o sistema mundial não se importa de garantir este direito. Explora, mata. E quando não pode matar, constrói prisões selvagens, de abusos que pretendem trazer a democracia. Os Estados Unidos puseram-se a fazer, no Afeganistão e no Iraque, o que Israel sempre fez contra os palestinianos. Fala­‑se de democracia israelense, americana. Mas que democracia trouxeram destruindo qualquer possibilidade de vida?

Silvia Cattori : Sofre pelo Iraque?

Ahmed Ben Bella : Ah sim o Iraque para mim... fui quinze vezes ao Iraque, sabe. (Um silêncio) [1]. Quase fui morto no Iraque. É insuportável ver o que fizeram no Iraque! A este país que é o berço da civilização! O Iraque, é onde se começou a cultivar a terra, é onde nasceu a humanidade, é onde se fundaram os primeiros princípios, é onde nasceu o alfabeto, o primeiro código, o de Hammourabi. Tudo isso foi destruído por dirigentes incultos, por uma nação que não tem mais de 250 anos de história, que era uma colónia da Grã­‑Bretanha. Liquidaram o colonialismo inglês e instauraram um colonialismo planetário. O que é feito dos 80 milhões de ameríndios? Nunca mais voltarei à América, é um país de salteadores.

Silvia Cattori : Sente como racistas as guerras conduzidas no Afeganistão e no Médio Oriente?

Ahmed Ben Bella : Completamente. São guerras conduzidas contra o Islão, contra a civilização árabe. Isso salta à vista. Dos países que estão fora da lei, de acordo com Bush, só um não é arabo­‑muçulmano, a Coreia do Norte. Os outros, a Síria, o Iraque, o Sudão, o Irão são todos muçulmanos. As cruzadas visavam supostamente recuperar o túmulo de Jesus Cristo. Às vezes, para importunar os ocidentais, digo-lhes: Jesus Cristo, que língua falava? Falava a minha língua, não a vossa, ele falava aramaico como eu! Quando lê a Bíblia, Jesus Cristo diz: «Eli, Eli, Lama sabakta­‑ni» [2]. E nós dizemos na Argélia: “Ilahi limada sabakta-ni”. São exactamente as mesmas palavras que Jesus pronunciou. Jesus falava como eu. O Islão tira muitas coisas do Evangelho ou da Bíblia, que veio completar.

À força de ver estes abusos, expludo. Fizeram­‑nos tanto mal. Atingiram­‑nos na nossa dignidade. Sem falar deste pequeno povo na Palestina. Quantos palestinianos são obrigados a viver sob a férula mais abjecta? A nossa reacção não é racismo, asseguro-vos. Temos mais que bastante. O Ocidente fez-nos muito mal. Não foi no Ocidente que se produziram os piores crimes contra a humanidade? O fascismo, onde nasceu? O nazismo, onde nasceu? O estalinismo, onde nasceu? A famosa inquisição, que durou 400 anos, onde se estendeu? Francamente é necessária muita, muita abnegação para dizer cada dia que passa, não quero odiar o Ocidente.

Silvia Cattori : Não será necessário incriminar os partidários do “choque das civilizações”, os pró­‑israelenses, como os principais instigadores do ódio anti­‑árabe, anti­­‑islão, que se espalha de maneira inquietante contra os vossos povos?

Ahmed Ben Bella : Completamente. O lobby israelense nos Estados Unidos é algo de terrível. Até agora era proibido falar sem ser acusado de anti­‑semitismo. Recentemente, vários estudos vieram atestar com exemplos inatacáveis o peso do lobby israelense nas opções políticas e militares tomadas contra nós [3]. Hoje já ninguém pode negar a importância, ou mesmo o perigo, deste lobby que penetra todas as esferas estratégicas. Estou pois muito preocupado por este aspecto das coisas que torna ainda mais difícil a resolução da questão palestiniana.

Digo­‑lhe, se bem que o Islão tenha conhecido muitas misérias, nunca o Islão fez mal a outros países. Na história, o Islão mostrou uma tolerância que não existe em nenhum outro lugar, enquanto o Israel teve êxito em implantar­‑se pela força num espaço e num lugar que era habitado pelos palestinianos – um dos povos árabes mais evoluídos – e a criar, privando-o da sua terra, um Estado racista. Enquanto Israel se recusar a reconhecer o direito dos palestinianos a existir e a retornar à sua terra, não haverá paz no mundo.

Silvia Cattori".

(http://www.silviacattori.net/article475.html)

 

 

 

 

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GUEVARA E BEN BELLA:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Ernesto Che Guevara und der algerische Staatspräsident Ahmed Ben Bella
bei einem Treffen in den sechziger Jahren in Algier  Foto: Instituto Cubano del Libro
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(http://mona-lisa.org/hintergrund.htm)