Casar, sentar, mudar, divorciar – verbos pronominais
Por M. T. Piacentini Em: 03/05/2007, às 05H06
Nestes cinco anos de Língua Brasil tivemos algumas consultas sobre o uso dos pronomes reflexivos ME, TE, SE, NOS junto com verbos tradicionalmente pronominais como os do título. Há mesmo necessidade de usá-los? Ou seja, o correto é “ela casou” ou “ela se casou”? “Sentou-se” ou “sentou” um minutinho?
Ao pesquisar em dicionários (comuns e de regência), descobre-se que há possibilidades diversas; já existe um aval para a eliminação, mesmo no nível culto, do pronome reflexivo junto com os verbos citados (salvo ‘divorciar’, que sempre é apresentado como pronominal: divorciar-se). Isso quer dizer que é facultativo o uso do pronome nestes casos:
CASAR - Jucira anunciou que vai (se) casar. Casei (-me) cedo.
SENTAR - Jucira preferiu sentar (-se) no sofá. Sentei (-me) e descansei um minuto.
MUDAR - Jucira vai mudar (-se) para outra casa. Resolvi (me) mudar para Timbó.
Mesmo no caso do verbo “divorciar-se” há uma tendência – por contaminação sintática, pois as construções lingüísticas se cruzam, se mesclam, se interinfluenciam – a suprimir o pronome, de que é prova a declaração à revista Istoé, em maio de 2005, da nossa grande escritora Lygia Fagundes Telles: “Divorciei, casei outra vez, com o Paulo Emílio Salles Gomes”.
O cuidado que se deve ter, para que o texto seja considerado bom e agradável de ler, é com a clareza em primeiro lugar. Por exemplo, se você escreve “finalmente resolvi mudar”, não se sabe qual o sentido: “mudar o quê?”; portanto, se for “deslocamento de um lugar para outro”, escreva “finalmente resolvi me mudar”. Depois vem a sonoridade da frase – muitas vezes “nos mudamos” soa melhor do que “mudamos”. Isso significa que não é preciso haver uniformidade, isto é, empregar o pronome todas as vezes ou suprimi-lo sempre. Pode-se variar no caso dos verbos casar, sentar e mudar.
No mais, é recomendável usar os pronomes reflexivos sempre que a situação o exija. É melhor e mais culto falar “ele se formou na USP” do que “ele formou na USP”, só para dar outro exemplo.
Ainda sobre o uso dos pronomes oblíquos (reflexivos e não-reflexivos), temos duas consultas:
— “Aqueles dois se batem e se opõem” está certo? Ou o correto seria “Aqueles dois se batem e opõem”? Márcio S. Fontes, Florianópolis/SC
— Se puderes me ajudar eu ficarei muito grato. Há algum erro gramatical na seguinte frase: “Há de se saber comunicar-se”? Ivson Tiago Müller de Souza
Quando se empregam em seqüência dois verbos usados com pronome proclítico, as duas formas ou modelos são corretos: se batem e se opõem / se batem e opõem. O mais estilístico, porém, é não repetir o pronome oblíquo quando este vem anteposto ao primeiro verbo:
- Aqueles dois se batem e opõem.
- As células se expandiram e modificaram.
*Diretora do Instituto Euclides da Cunha e autora dos livros “Só Vírgula”, “Só Palavras Compostas” e “Língua Brasil – Crase, pronomes & curiosidades”