ELMAR CARVALHO

 

Na semana passada, um pouco antes do início da audiência, o advogado João Francisco Pinheiro de Carvalho me disse que naquela noite iria assistir ao jogo do Flamengo, pela televisão, tendo eu lhe dito que faria o mesmo. Na sequência da prática, ele me disse que o seu pai, conhecido como Dim, fora atleta do River, quando o grande Carlos Said fora o seu goleiro.

 

Acrescentou que o seu avô, de nome Adão Carvalho, hoje coronel da reserva, fora um dos dirigentes do tricolor piauiense, e que o seu tio, de alcunha Grilo, também jogara no escrete riverino, na mesma época. Respondi-lhe que tinha muita amizade e consideração ao Magro de Aço, e que iria investigar a história dessa dinastia “pebolística”. Sabendo do interesse do causídico por futebol, aproveitei para lhe ofertar o meu livro O Pé e a Bola, cujo prefácio, para gáudio e glória minha, é da lavra de Carlos Said.

 

No domingo, por telefone, liguei para o meu guru para assuntos futebolísticos. O nosso magno cronista esportivo, com a sua memória prodigiosa, diria elefantina, terminou me relatando a atuação esportiva da família do Dr. João Francisco. Informou que o patriarca, o coronel Adão Carvalho, fora vice-presidente do River, salvo engano de minha parte, no início da década de 1950, tendo nessa condição assumido a presidência do clube em alguns momentos. Aduziu que nessa época ele tinha a patente de capitão, e servia na 26ª CSM – Circunscrição do Serviço Militar, além de desempenhar a missão de auxiliar técnico do River Atlético Clube.

 

Aproveitou a deixa para citar a galeria dos ex-presidentes, entre os quais declinou os nomes de Afrânio Nunes, Antilhon Ribeiro Soares, Francílio Almeida e Herculano Moraes. Fiz questão de lembrar o nome do médico Delson Castelo Branco Rocha. Pelo que o Carlos Said me disse, o pai do advogado João Francisco era Dim Vieira de Carvalho, que dos irmãos era o que tinha o corpo atlético, uma vez que os outros eram franzinos. Ao todo, seriam quatro ou cinco irmãos que atuavam no esquadrão riverino dessa época.

 

O velho mestre, grande goleiro e decano dos jornalistas piauienses ainda revelou outros detalhes dessa família de atletas do futebol. Disse que Grilo jogava em várias posições, tanto na defesa como no ataque, atuando ainda como goleiro. Observei ao amigo C. Said que esse craque, mais do que um Grilo, era um verdadeiro Coringa, um faz-tudo de mil e uma utilidades. O Magro de Aço explicou que a alcunha Grilo não se devia ao porte franzino do craque, mas ao fato de ele ter os olhos grandes e azuis esverdeados. Na conversa telefônica, ele declinou a escalação do River no ano de 1950 e no ano em que foi goleiro, quando atuaram esses quatro ou cinco irmãos da família Vieira de Carvalho.

 

Diante de tanta memória, considero Carlos Said o maior e mais completo arquivo vivo do futebol e do jornalismo piauiense. Doravante, aplicar-lhe-ei o aposto de “o Memorioso”. Quando lhe disse que iria transmitir ao Dr. João Francisco Pinheiro de Carvalho o resultado de minha conversa com ele, pediu-me que lhe informasse a esse respeito. Certamente, o farei. Sempre colho um pretexto qualquer para ouvir o mestre. Ao ouvi-lo, sempre saio contente e ilustrado, considerando-se o que pode uma lata de sardinha recolher de um Atlântico enciclopédico como Carlos Said.