Elmar Carvalho

Teus cabelos

às vezes são filigranas escorridas

tecidas em pura maciez.

Às vezes são algas e caracóis

encrespados em ondas e espumas

esculpidas pelo vendaval.


 

Tua tez

revestindo a superfície

veludosa e bela de tua carne

é película de esplêndida

fruta tropical.


 

Teus olhos

às vezes sombrios

pelos enigmas e mistérios

de tua alma de mulher

às vezes resplandecentes

pelo relâmpago do riso

são dois lagos – calmos ou agitados –

em que os meus imergem e se perdem.


 

Tuas orelhas

são conchas

em labirinto de perfeito lavor

e nelas escutas e escuto as vozes

dos búzios e o chamado do mar.


 

Teu nariz

ergue-se em cordilheira

e de suas cavernas

emerge o vento de teu respirar.


 

Tuas sobrancelhas

são arcadas góticas

e teus cílios tessituras persas

do frontispício de teu altar.


 

A tua boca

onde as palavras lavras

em forma de canção

são retábulos e ornatos

do sacrário de teu ser.


 

Teus sorridentes lábios entre-

mostram o dique/arrecife

de concha, ostra e coral

do límpido colar dos dentes.


 

Pedestal firme e flexível

de teu rosto é o teu pescoço

- belo e singelo colosso.


 

Teus braços

são baraços que

enforcam e fascinam

serpentes que

atraem e traem.


 

Tuas mãos

são plumas e verrumas:

afagam e esmagam.


 

Teus seios

alçados em sublime formosura

de tenras carnes e tênues epidermes

são Olimpos

que meus dedos alpinistas escalam

para (re)colher o hidromel

no céu dos mamilos sensitivos.

Os pomos

de teus seios tomo

e eles me enchem as mãos.


 

Pelas dunas do deserto

de teu ventre fértil e belo

encontro o oásis na cacimba

de teu umbigo em que naufrago

perigo e me embriago.


 

De teu umbigo

minhas mãos e meus olhos

correm e escorrem

pelas vertentes e grotões

de tuas passagens/paragens

mais secretas e seletas

e se saciam

no frescor de tuas nascentes,

onde estão o lodo e o húmus

de um Nilo todo dádiva.


 

Na tecelagem da púbis

- tapete mágico de penugem e babugem –

e na fenda dos lábios

que são pétalas e conchas

recende a maresia

que reacende a velha flama

de um deus pagão.


 

Minhas mãos apalpam

tuas coxas roliças

de macia carnação

e descem pelas dobradiças

perfeitas de teus joelhos

circundam teus artelhos

e giram ávidas em torno

de teus pés de artesanal contorno.


 

Tuas pernas formam arcos

de onde são arremessadas

as flechas de meus braços

em busca de outros acidentes

geográficos anatômicos.


 

Tuas nádegas

às vezes árdegas gazelas

às vezes mansas aves de estimação

às vezes retesas setas acesas

às vezes quedas texturas de veludo e seda

desenham arcos e penhascos

rochedos e penedos

desfiladeiros e socavões

em que meus olhos

de tamanha beleza se abismam

na vertigem que alucina e ilumina.


 

Meus dedos

cegos de tanto encanto

tateiam e tenteiam

se enlevam e se enleiam,

pelos enlevos e relevos

mimos e cimos

atavios e baixios

côncavos e recôncavos

entrâncias e reentrâncias

da geomagia de teu corpo.


 

Navegam minhas mãos

pela sinuosidade litorânea

da enseada de tuas ilhargas

e do cabo bojador

de tormentas e esperanças

de tuas ancas – âncoras –

e desbravam/devassam

as volutas voluptuosas

de tua coluna (grega) dorsal

e se perdem na voragem/miragem

das ondas revoltas

de teus cabelos.