Vivendo em condições precárias, Luiz de Miranda solicita uma pensão do Estado. À espera do resultado de um processo de despejo devido a falta de pagamento, o poeta já se prepara para deixar o apartamento onde vive.
Sem ter para onde ir, Miranda enviou uma carta ao colunista Paulo Sant’Ana, que tornou sua situação pública na edição de domingo de Zero Hora. O escritor alega viver em completa miséria. Em seu apartamento no bairro Partenon, as paredes descascam e a cozinha perde os azulejos.
Segundo Miranda, há quatro anos tem feito apenas uma refeição por dia. Diz que dois anos atrás o prefeito José Fortunati havia lhe prometido uma pensão mensal, mas isso nunca se concretizou. Procurada por ZH, a assessoria do prefeito informou que, em função do incêndio no Mercado Público, só falaria sobre o caso hoje.
A sugestão da pensão partiu do secretário da Smic, Humberto Goulart, há cerca de três anos:
– A prefeitura ajudou três pessoas de destaque cultural da cidade. Primeiro foi a cantora Lourdes Rodrigues, depois, Plauto Cruz, que ganhou uma aposentadoria pequena, e, por último, o fotógrafo lambe-lambe Varceli Freitas Filho – explicou o secretário.
Goulart afirma que a sugestão foi acolhida pelo prefeito, mas interrompida antes de chegar à Assembleia Legislativa. Ele explica que propostas como essa precisam partir do Executivo.
– Sugeri para o prefeito sabendo que ele (Luiz de Miranda) se dedica em tempo integral à poesia. Seria apenas um salário mínimo, mas daria para poder se alimentar.
Entre 1968 e 1978, Miranda trabalhou por períodos curtos em diversos veículos de comunicação. Envolveu-se com política e de 1990 à 1994 foi coodernador de Projetos Especiais do governo estadual. Hoje recebe, como aposentadoria, um salário mínimo.
– Não dá nem para comprar remédios. Tomo três para pressão alta, mais três para diabetes e ainda um para insônia crônica – explica.
Com 68 anos e natural de Uruguaiana, o poeta é extremamente produtivo: publicou 34 livros e, ao longo da carreira, recebeu diversos prêmios. Desde 1987, é membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Neste ano, Miranda está na lista de indicados ao Prêmio Nobel de Literatura. Seu nome foi aceito pela Academia Sueca a partir de uma indicação da PUCRS, intermediada pelo professor Eduardo Jablonski, autor de Luiz de Miranda: O Senhor da Palavra (EdiPUCRS, 2010). O gaúcho compete com 194 indicados por um prêmio que ultrapassa US$ 2 milhões.
A notícia repercutiu no âmbito cultural. Procurados por ZH, alguns escritores se manifestaram:
– Deveriam se juntar para ajudá-lo. Não é justo que alguém que se dedicou tanto à poesia e à literatura esteja nesse estado. – comentou a escritora Cinthia Moscovich.
O secretário de Cultura, Luiz Antônio de Assis Brasil, lembrou do caráter do poeta:
– Lamento que um ser humano, um artista, esteja nessa situação adversa. Por várias vezes, os amigos o ajudaram. Por outro lado, a idade o impede de seguir trabalhando. Entendo que a campanha, ora desencadeada pelo Paulo Sant’Ana, terá pleno êxito junto ao público leitor de Luiz de Miranda.
Fabrício Carpinejar entende a situação por outro viés:
– O Miranda sempre viveu nesse sobressalto financeiro, dependendo dos outros. Acho que ele está se aproveitando da questão do poeta sem condições, essa sombra do Quintana. O poeta não é semideus. O Estado não tem obrigação de sustentá-lo.