BIOGRAFIA

UM OEIRENSE ILUSTRE: BUGYJA BRITTO

 


                        Miridan Bugyja Britto Falci
                            Rio, 08/05/2007

 


SUMÁRIO:
1ª Parte: Sua vida e sua família, sua casa
Acompanham esta parte:
Fotos  -
-a casa onde nasceu: na Praça da Matriz, em Oeiras, hoje do Sr. Natu Reis.
-a casa onde casou: R.Barão de Mesquita 574- Andaraí – Rio de Janeiro.
-a casa onde morou entre 1954  e 1992 - r. Sambaíba n. 555, Leblon – Rio de Janeiro e onde possuía um grande escritório com seus livros.
2ª Parte :  Sua vida de intelectual; suas obras literárias.
Descrição das obras.

1ª Parte:
Nasceu em 21 de maio de 1907 em Oeiras, a linda primeira capital do estado do Piauí.  Seu pai era o farmaceutico local, Raimundo de Souza Britto, filho do coronel da Guarda-Nacional, Benedito de Souza Britto, advogado (provisionado) e farmacêutico (prático), deputado provincial e estadual. Segundo Bugyja Britto em suas Narrativas Autobiográficas, seu avô paterno foi um intelectual infatigável pois militou na imprensa e no magistério.  O túmulo do avô,  Benedito de Souza Britto, que morreu em 1913, está no cemitério do Sacramento em Oeiras.
Benedito de Souza Britto, (o avô paterno de Bugyja Britto), Raimundo de Souza Britto e Antonio de Souza Britto eram três irmãos importantes fazendeiros que tinham terras em Oeiras, Picos, Bocaina, Riachão. Descendiam de Gonçalo Borges Leal Marinho de Souza Britto que chegara no Piauí em 1780.

 A farmácia Minerva, de Benedito de Souza Britto  e que passou para o filho Raimundo,  ficava na casa grande na Praça da Matriz. Essa casa hoje é do Sr. Natu Reis. O quarto onde nasceu Bugyja, chamado de Catônio, era o da frente.
Assim ele a descreve:

“A Casa-Grande era espaçosa, cheia de quartos, corredores, salas, saguão, quintal; nunca menos de uns 20 metros de testada, tinha 9 janelas e 3 portas que davam para a frente, isto é, para a Praça N.S.da Vitória. A casa ficava de esquina e alcançava duas ruas: a rua lateral chamava-se Das Pataratas ( hoje Isaac Servio)”.
P.80 de Narrativas Autobiográficas.

Sua mãe, Anna Cavalcanti Monteiro Bugyja de Souza Britto, apelidada de Yayazinha, era filha do comerciante de maniçoba, músico e maestro, João Hermes Monteiro, apelidado de Bugyja, dono de Banda de Música, em Oeiras, no século passado.  Yayazinha , cearense, nascida no Icó,  em 1886, chegou em Oeiras no final do século passado (1896) com o pai. Ela foi a primeira pianista do Piauí. Ensinou piano às filhas do major Selemérico e morou, quando solteira,  na casa do mesmo major, no prédio conhecido como Palácio dos Governadores e sede do Instituto Histórico e Geográfico de Oeiras.  O maestro Bugyja fez uma valsa, a ela dedicada, de nome Yayazinha., ainda hoje conhecida e tocada em Oeiras. O maestro Bugyja foi assassinado em Oeiras. Seu assassino foi preso e morreu na cadeia, em Teresina,  após 25 anos de cumprir prisão.
O Catônio brincou  muito na Praça, tomou banho no riacho Mocha e foi várias vezes para a fazenda Carcará (da família Souza Britto) como ele conta no livro Narrativas Autobiográficas.
Quando Bugyja Britto tinha 8 anos o pai se desfez da farmácia Minerva e, juntando toda a família mudou-se para Teresina. Eram vários os filhos:  Antonio, Júlio, Orisvaldo, (hoje mortos)  Ana’Asther (professora e funcionária pública aposentada, ainda viva em Teresina), João (veterinário e ex-combatente da FEB na Itália, já morto). Em Teresina nasceria depois Yolanda,  hoje freira em Mariana, Minas Gerais ( irmã de caridade).

Viveu em Teresina entre 1915 e 1930. Ajudava sua mãe no cuidado dos irmãos menores quando a mãe saía para dar aulas de piano. Estudou no grupo escolar em Teresina e já com 14 anos trabalhou no comércio local à noite ( no bar de nome Coriolano, para ajudar à família). Fez o ginásio  em forma  de preparatórios -  aos poucos, cada ano preparava algumas matérias e prestava exame. Era como hoje se dá com o chamado supletivo.

Fez o primeiro concurso público para carteiro dos Correios e Telégrafos e trabalhou nessa profissão entregando a correspondência na cidade de Teresina enquanto seu pai continuava com a farmácia. Fazendo concurso para a Faculdade de Direito em São Luis ( Maranhão) já que em Teresina não existia nenhuma instituição de nível superior,  para lá se dirigiu em 1928. Depois fez concurso para o Banco do Brasil e Ministério da Fazenda ( Alfândega), optando por este último emprego e foi lotado no Recife para onde se dirigiu em 1930. Dois anos depois veio transferido, pelo governo federal para a Alfândega do Rio de Janeiro e fez sua transferência também da Faculdade de Direito do Recife para a Universidade do Rio de Janeiro, berço da antiga Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Seus familiares no Piauí.
Sua família mais próxima (mãe, irmãos, e primos, como Pedro Britto, por exemplo,  permaneceram em Teresina, onde ainda moram muitos sobrinhos e sobrinhos-netos.
 Em Oeiras há ainda muitas famílias cujas raízes estavam ligadas aos Souza Britto.
Como seu avô se casou três vezes deixou descendentes em várias famílias. Da família Moraes Rego com quem seu avô Benedito foi casado a primeira vez descendem Cincinato e Maria Augusta Moraes Rego; da segunda esposa do seu avô há a descendente Julia que se casou-se com José Bem-Soido.

Bugyja Britto descende da união do seu avô com a terceira esposa – Umbelina Pereira da Silva. Umbelina  e Benedito tiveram  6 filhos todos nascidos em Oeiras: Pedro d’Alcantara Britto (conhecido como Pedro Britto), Raimundo, (que é o pai de Bugyja Britto), Benedito, Antonia Esther Leal de Souza Brito Campos e duas moças que ficaram inuptas, Maria das Mercês e Maria Stella.
A família Campos - Tapety é ligada, também,  à família de Bugyja Britto. .Joel Britto Campos, já falecido,  pai da profa. Rita Campos e avô do advogado Carlos Rubens,   era neto de Raimundo de Souza Britto Filho, irmão do avô Benedito. Assim, Bugyja Britto e Joel Campos eram primos.
A família Soares, do Dr.Antonio Reinaldo Soares Filho é também  ligada aos Souza Britto. Antonio de Souza Britto,  cuja filha Antonia casou-se na família Soares, era irmão de Benedito, o avô de Bugyja Britto, como dissemos acima.
 
BUGYJA BRITTO NO RIO DE JANEIRO
No Rio de Janeiro conheceu Olivia Vasques de Queiroz, na casa do Dr. Clóvis Bevilaqua, a rua Barão de Mesquita 572, onde ia, como os jovens estudantes de direito, conversar aos domingos. Olivia era vizinha (casa de número 574) e sempre ia também para lá aos domingos.  Ele tinha 27 anos e ela 21 quando se casaram a rua Barão de Mesquita 574, no Rio de Janeiro, em 1934.  Olívia era filha de Laurinda Vasques de Queiroz e José Rito de Queiroz. Ela,  de origem espanhola e ele português. ( FOTO DO CASAMENTO).
Morou primeiramente com os sogros portugueses,  depois no bairro do Grajaú  entre 1946 e 1954)  e em 1954 veio para a casa do Leblon .


Hoje o bairro do Leblon está sendo imortalizado pelas novelas Laços de Família, Páginas da Vida, etc.  É um dos bairros mais procurados para se morar. Mas na década de 1950 o bairro mais chic era Copacabana, símbolo da modernidade, dos passeios pelas calçadas de pedras portuguesas, dos cinemas Metro, Rian, Palácio e Roxy, todos hoje desaparecidos.
 Leblon era um distante e sossegado bairro onde as casas ainda tinham quintais, árvores frutíferas e muita paz. Existiam várias quintas. O comércio era limitado e os pescadores chegavam à praia com suas redes repletas de peixes. Quando se aposentou, em 1978, passava cerca de quatro meses por ano no Piauí, ora na Fazenda Riacho Fundo no município de São Pedro do Piauí, ora na fazenda Lagoa do Tabuleiro em Oeiras, ora em Teresina com sua mãe Yayazinha ou seus irmãos Orisvaldo e Ana Asther. Escreveu muitos livros  na fazenda Riacho Fundo.

 Na casa rosa do Leblon ele viveu até morrer aos 85 anos de idade no dia 4 de dezembro de 1992. Com uma pneumonia dupla, foi internado numa Casa de Saúde em Copacabana e morreu após 15 dias de internação.

Teve duas filhas: Miridan Bugyja Britto Falci (1936) e Teresina Bugyja Britto Lopes (1937). ( Fotos)
Miridan teve 3 filhas: Monique, Mildred e Winnifred, do primeiro casamento com o inglês Michael Knox. Do segundo casamento com o médico obstetra Dr. Edgard Falci não possui filhos. (Fotos das tres filhas e de Miridan com Dr.Edgard Falci). Miridan é Doutora em História pela USP, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Oeiras, e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, professora aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Programa de Mestrado em História da Universidade Severino Sombra. Mora no Leblon, Rio.
Teresina é também professora e pintora casou-se com o professor Geraldo Lopes. Teve 2 filhos homens.(Antonio Julio e Geraldo). Mora em Brasília.
Quando morreu, Bugyja deixou dois bisnetos ( Uirá nascido em 1980 e Maíra nascido em 1982). Um mês após sua morte nascia a bisneta Agatha, filha de Wini com o professor da Ufederal do Rio Grande do Norte Markus Figueira. Hoje sua viúva tem a felicidade de conviver com sete bisnetos 

MODO DE VIDA
Não gostava de cinema nem de novela,  embora às vezes, a pedido nosso, acompanhasse trechos das novelas das 8 horas. Gostava muito de se reunir com os amigos e intelectuais de Oeiras e do Piauí, de modo geral, fosse em Brasília ou em Teresina ou no Rio.
No Rio, aos domingos, gostava de receber para almoçar, amigos piauienses, parentes e amigos dos amigos .  Dr. Ferrer visitou-o várias vezes, quando morou no Rio de Janeiro.
 Mas a disciplina de leitura e escrita eram sérias para ele, como veremos abaixo.

2ª Parte:
 Seus TRABALHOS COMO Intelectual
Bugyja Britto era muito disciplinado. Trabalhava na Alfândega do Rio de Janeiro onde exerceu várias funções de relevo como chefe de seção de pessoal e coordenador. Saindo de casa às 10 horas,   voltava às 8 da noite, muitas vezes ainda com processos a estudar e dar pareceres.

 Pela noite a dentro,  lia muito: poesia, romances, estudava gramática, além dos três jornais diários e das revistas que assinava. Anotava os livros enquanto os lia. Algumas vezes escrevia comentários nas páginas dos livros discordando do autor e dizendo as razões da discordância. Formou uma biblioteca de cerca de 5000 livros composta de literatura portuguesa, francesa, brasileira, direito, economia e sociologia. Como se dedicava ao estudo filológico das palavras e de suas funções dentro do texto, comprava muitos dicionários e gramáticas da língua portuguesa. Além disso, como manteve, com o Piauí, estreita ligação  intelectual, deixou a coleção completa do Almanaque da Parnaíba, da Revista do Instituto Histórico de Oeiras e do Instituto Histórico do Piauí.    Longe da terra natal a ela dedicou a sua vida literária e intelectual. Com exceção de uma tradução, História da Inglaterra do Pequeno Arthur) toda a sua produção intelectual  foi dedicada a personagens, fatos ou à história do Piauí.

Iniciou-se no jornalismo em Teresina escrevendo nos jornais locais. Em Teresina, ainda muito jovem, foi um dos fundadores do Cenáculo Piauiense de Letras. Naquela cidade escreveu suas primeiras poesias que constituíram seu primeiro livro MURALHAS publicado no Rio em 1934.
No Rio colaborou no Jornal do Commercio na seção Várias a chamado de Félix Pacheco, piauiense ilustre que foi dono deste importante jornal. Escreveu também na Revista O Cruzeiro.
O segundo livro foi MIRIDAN ( lendas indígenas), 1960;
O terceiro ZABELÊ, 1962;
O quarto ITAINS ,1967;
O quinto O PIAUÍ E A UNIDADE NACIONAL , 1976;
O sexto, NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS, 1977,
O sétimo, QUATRO ESCORÇOS BIOGRÁFICOS, 1978;
O oitavo,  A ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS NA CADEIRA N.12 , Teresina, 1981;
O nono DESAJUSTES E DESAJUSTADOS, vol I  1984 e 1985;
O décimo DESAJUSTES E DESAJUSTADOS, vol II  1986;
O décimo-primeiro,  TRAÇOS EM 5 BIOGRAFIAS,1987;
O décimo-segundo, A HISTORIA DA INGLATERRA DO PEQUENO ARTHUR (tradução), 1989;
O décimo-terceiro, TRES ARTIFICES DO VERSO, 1991;
O décimo-quarto, AS HISTORIETAS DO MENINO CATÔNIO, 1992.

Deixou artigos em Revistas: Revista do Instituto Histórico de Oeiras, Revista do Instituto Histórico do Rio de Janeiro, Revista do Instituto Histórico do Piauí, Revista da Academia Piauiense de Letras, Almanaque da Parnaíba, Revista Presença, Revista Cadernos de Teresina, Revista da Federação das Academias de Letras, etc. 
Deixou prefácios em várias obras como: prefácio à obra O PIAUÍ NO FOLCLORE ( edição da Comepi, Teresina), prefácio à obra SIBILOS, SIGILOS E SUSSURROS de Monique Britto Knox, etc.

Deixou cerca de 10 artigos sobre Direito em revistas Archivo Judiciario, Direito, etc. Foi  o presidente da Comissão de Organização das TARIFAS ADUANEIRAS, designado pelo governo federal..
Pertenceu a várias instituições culturais, as quais honrava com sua presença constante e com trabalhos para suas Revistas ou Anuários, a saber:
Academia Piauiense de Letras, cadeira n. 12;
Instituto Histórico e Geográfico de Oeiras
Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, cadeira 44;
Instituto Histórico e Geográfico do Piauí,
Federação das Academias de Letras;
Academia Carioca de Letras.
 Em algumas dessas academias teve funções de bibliotecário ou secretário e em outras organizou, como advogado, os regimentos internos e auxiliou –as nas comissões.
Foi agraciado com o prêmio MÉRITO CULTURAL Da  COSTA E SILVA, pelo governo piauiense.
 Dirigiu o CENTRO PIAUIENSE, entidade representativa do governo estadual, criado no governo do Dr.Leônidas Mello  na capital federal – Rio de Janeiro. Sediado no Largo da Carioca, ali  passava todas as tardes, entre 17 e 19 da noite e os sábados inteiros, recebendo a correspondência do Piauí, os jovens estudantes, os amigos e correligionários. Por ali passavam ao final da tarde para saber notícias do estado distante os então estudantes piauienses no Rio de Janeiro:  Lucidio Freitas, Romão da Silva, Petrônio Portella e muitos outros.
Candidatou-se a deputado federal pelo partido PSD, pelo estado do Piauí na campanha de 1945 após a queda de Getúlio Vargas mas não tinha habilidades para a política. Não vencendo as eleições, jamais se interessou em tentar novamente essa carreira.
 
ASPECTOS HUMANOS
Bugyja Britto auxiliava financeiramente a muitas e muitas pessoas amigas, parentes  ou conterrâneos. Empenhava-se em questões junto a órgãos governamentais para solucionar problemas financeiros de pessoas quando verificava a injustiça com que estavam vivendo. Nessa situação, por exemplo, empenhou-se em conseguir melhorar a pensão que a família do Dr.Clóvis Beviláqua recebia, em 1970, pensão dada pelo Getúlio Vargas, e que estava, à época, totalmente defasada. Depoimentos de Romão da Silva  e Arimathéa Tito Filho nos informaram sobre vários outras situações em que manifestou a sua grandeza.
Sempre pautou a sua vida pelos princípios da dignidade, da moral elevada e da vida equilibrada e familiar. Não bebia  embora fumasse meia carteira de cigarro quando jovem, afastando-se desse hábito por vontade própria, por considerá-lo nocivo à saúde. Dotado de muito bom estado de saúde, lia, aos 85 anos de idade, sem óculos. No entanto, desde os 60 anos apresentou, como sua mãe,  uma oto-esclerose que o deixou progressivamente surdo em um dos ouvidos.

SUA MAIOR HERANÇA
Seu companheirismo, seu amor pelo ser humano e principalmente o SEU AMOR PELO PIAUÍ e POR OEIRAS.

Publicado originalmente no Portal da Fundação Nogueira Tapety - http://www.fnt.org.br

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