Felizmente, é assim: o dia de hoje, adicionado ao de ontem e somado com o de amanhã, e a quantos mais deles houver, é que nos permitem ir mais longe. Para longe de nossa infância que, em tendo sido sofrida, não nos deixou saudades, mas dores, que, no entanto, talvez, nem doam mais; se feliz, em nossa memória, ainda latentes, dela restam doces lembranças. Longe de nossa juventude, fase essa que, independentemente dos fatos que possam ter contribuído para fazê-la, senão como a queríamos, como se realizou, provavelmente, seja a mais interessante de nossas vidas.
     Esse mesmo somatório de dias, horas, minutos e segundos, tem, inversamente, igual poder de nos aproximar de outras etapas de nossa existência: como a maturidade, época em que, pesado, ponderado e avaliado tudo que fizemos anteriormente, apresenta-nos como balanço contábil existencial, de um lado, as realizações ou tentativas que acumulamos ou desperdiçamos; do outro, o que ainda resta por fazer e que, nesse caso, haja vista a impossibilidade de voltarmos para buscar refazer o que ficou para trás, coincide com o montante de lucros ou prejuízos e com o realizável. Muitos de nós produziram tanto nos períodos anteriores que, parece, quase nada mais deixaram para exercícios futuros, a não ser recursos disponíveis; outros, ao contrário, fizeram tão pouco, talvez porque gastaram muito do tempo de que dispuseram com picuinhas, lamentações, coisas de somenos importância que, então, quando olham para o prato do saldo, veem um ínfima reserva, pouco diante do ainda teriam por objetivo realizar.
     A terceira e última etapa de nossas vidas físicas ou materiais é a velhice. Não apareceu um ser humano - desconsiderando-se aqueles que de forma humorosa, demagógica ou, hipocritamente, tenham-na considerado como a da idade ideal – que não desejasse que ela mais se distanciasse dos dias que está vivendo. Esse período pode ser uma incógnita aos que não se prepararam adequadamente para vivê-la; já para quem se preocupou em gastar, moderada e sabiamente, à medida de suas disponibilidades e possibilidades humanas, além de esse vir a ser uma época de aproveitamento, de sacar da conta de sua existência, valores que lhe propiciem prazeres é, também, um período de reinvestimento em momentos felizes.
     Se você é daqueles que não acumularam na infância nem na juventude tesouros materiais para utilizá-los na maturidade, não haverá nenhum problema se, em vez disso, houver conseguido amealhar riqueza espiritual, amizade, respeito, admiração, por conseguinte, tesouros imateriais mais importantes do que as banalidades econômicas ou financeiras, eis que de fácil conversão em valores que, de fato, interessam; pois essas fortunas é que lhe permitirão atravessar o caminho que resta a percorrer, com maior tranquilidade, porque estará ao lado de companhias prontas para soerguê-lo, acaso tropece ou caia durante o percurso.
     Esses haveres intangíveis, apesar de miscíveis, representam frutos que não são colhidos de plantações comuns, mas daquelas que tanto mais os produzem quanto mais são os mesmos utilizados. Eles lhe garantirão alimentação abundante e de boa qualidade para o restante da caminhada. Portanto, esteja tranqüilo: é certo que você transporá sua existência sem maiores atribulações. Certamente, que, no porvir, lembrando com muita alegria e renovada felicidade dos sonhos que conseguiu realizar, e vendo cada vez mais embaçados e desfigurados da memória os instantes tristes ou infelizes do passado.
                                                                              Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal
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