Brasília: a farra dos salários e o Natal dos neo-marajás
Por Cunha e Silva Filho Em: 19/12/2014, às 10H59
Cunha e Silva Filho
Quem me disser que o Brasil é uma democracia, está definindo uma meia-verdade, ou um verdade no plano do realismo mágico.
Antes das eleições para presidente e governadores, senadores e deputados, o discurso dos candidatos a presidente da República eram meramente marqueteiros, sobretudo do PT, pois não se reportaram ao que, depois do resultado das eleições, já sabiam antecipadamente: o que se reservava ao povo que elegeu a D. Dilma a um segundo mandato, embora com vitória apertada, o que quer dizer com a reprovação de praticamente a metade do número de eleitores que votam.Tira-se daí uma conclusão: o eleitor brasileiro é secularmente esbulhado pelos discurso politqueiro, de aparência, só para inglês ver.
Ora, nos discurso de D. Dilma o país semelhava a um quase paraíso, um “ilha da fantasia”, onde não havia inflação, não havia pobreza, sem-teto; hospitais, escolas, segurança pública, sucateados, enfim, todo o lodo ou lixo ou o que o valha foi posto debaixo do tapete do cinismo e da empulhação deslavada. Além disso, o chamado déficit público, i.e., a dívida pública foi também escamoteada das discurseiras estéreis e enganosas de palanques mambembes. Tripudiaram sobre os eleitores cordeirinhos da classe média ou "mérdea" e da “patuleia”, conforme costumava definir o contista João Antônio (1937-1996) ao aludir à massa ignara de “humilhados e ofendidos.”
Passadas as eleições, retomando os antigos assentos para mais um mandato, aí incluindo da presidente aos deputados, o país “mostrou outra cara.” Os indicadores econômicos começaram a falar em inflação em alta, em dívida interna cavalar, em falta de dinheiro, desvalorização do real, enfim, em tantas outras revelações que a mágica da Presidência não queria tirar do colete. Em outras palavras, o Brasil agora ficou, num piscar de olhos, transparente ao seu povo, antes anestesiado e ludibriado pelas arengas solertes e midiáticos de D. Dilma e de sua entourage, contumazes bajuladores palacianos, cuja única sinceridade é o bifrontismo até para a própria Presidente Dilma.
Paralelamente a esse Brasil real e envergonhado, explodiram as sucessivas denúncias das falcatruas de altos funcionários da Petrobrás em negociatas com empreiteiras, mancomunados com alguns políticos, inclusive, do PT, dentro e fora do país, com objetivo bem planejado e de caso pensado de vampirizar o sangue – digo melhor - o dinheiro da Petrobrás – a maior estatal brasileira. O quadro ficou dantesco ou, para outros, mefistofélico nas suas tramas e no enredo da tragicomédia nacional. A Polícia Federal, dando exemplo de alto sentido público, não economizou nas investigações aos tubarões e predadores do Erário Público. Foram fundo, descobriram cobras e lagartos do bas-fond da estrutura administrativa do país . Mandados foram expedidos para prender falsários e dilapidadores do povo brasileiro. A máfia e seus componentes, pouco a pouco, vão sendo desvendados.
O instrumento legal da delação premiada, se ajudou um pouco, não é o bastante para se avaliar o quanto ainda está submerso no lodaçal da impunidade da máquina estatal do país.
Dadas tantas danças e contra-danças no rodamoinho da politicagem nacional, percebo que as CPIs, de parte em parte, ou seja, do governo e da oposição, procuram fazer o seu papel de co-adjuvante da Polícia Federal e do Ministério Público, porém não desejam tocar na ferida, ou seja, evitar ao máximo que os escândalos da Petrobrás apontem figuras políticas de alguns partidos, o que sinaliza para um certo cuidado de preservar a declinação de nomes de políticos que sabemos estar envolvidos até os dentes com as maracutaias petrolíferas...
Todavia, toda essa digressão se imbrica num outro fato digno da indignação brasileira, sempre cordeirinha, bem-comportada, bem classemediana ou mesmo aburguesada, amiga inseparável dos bares, e das comidas apetitosas temperadas dos fins de semana nacional. Bares cheios, todo mundo comedo à farta, bebendo cervejinha ou mesmo whisky, com seus carros atravancando as cidades, as ruas, os estacionamentos que não mais comportam tantos veículos dos adeptos do epicurismo sem peias e dos shoppings refrigerados, com seus usuários fugindo do calor do verão. Todos desfrutando da dolce vita. “Que importam os famintos, os pobres, os baixa renda ?” “Eu quero é viver a vida na plenitude dos valores hedonísticos, do viver ao máximo todas os prazeres físicos e gastronômicos. Viva o prazer!”
Tudo isso, leitor, pensado e refletido para reclamar contra a farra dos aumentos aprovados para os donos do poder: ministros, políticos, área da Justiça, numa reação em cadeia que seguramente passa para o setor público estadual e municipal. D. Dilma, da sua governança provisória no Mercosul, com seu novo salário polpudo e seu cartão corporativo que as más línguas dizem superar os gastos pessoais da rainha da Inglaterra, a tudo isso assiste soberana e bem avaliada pelo IBOPE, ou seja, em ascensão no gosto brasílico. País doçs contrasnstes!
Enquanto isso, os funcionários públicos federais, da ativa e inativos, tais como professores, burocratas, médicos, enfermeiras, engenheiros e de outras categorias permanecem sem aumentos salarial há pelo menos três anos! D. Dilma, existe maior desfaçatez e descaso do governo federal para com esses servidores da União com os salários praticamente congelados, os quais estão sendo corroídos pela inflação que a Sra. negou nas campanhas quando afirmava estar sob controle?
O país, quanto aos direitos de cidadania, está assim, clivado no que concerne aos vencimentos de seu funcionalismo: os altos cargos da República autoproclamando seus aumentos anuais com índices de porcentagem de neo-marajás. O resto da Nação, que se dane! Os parlamentares e os outros altos escalões calados ficam, antegozando as delícias do poder reinol. Vou usar um chavão histórico: De Gaulle tinha razão.