BRASIL E ÍNDIA: 17 MIL ANOS DE AMIZADE 

Antonio Carlos Rocha

            Outro dia, eu estava arrumando os meus papéis e, de repente, vejo um antigo recorte do Jornal do Brasil, de 30 de agosto de 1989. Informava que uma professora russa descobriu graus de parentesco entre o idioma sânscrito e a língua Jê, falada por várias tribos de índios brasileiros.

            A lingüista esclarece que o sânscrito estava extinto já há 15 mil anos antes de Cristo. Acrescentando dois mil anos atuais temos então, tranquilamente 17 mil anos de uma longa e proveitosa amizade. Nesse longínquo tempo era uma só língua comum que por uma série de fatores foi se dividindo, subdividindo e ajudando a formar outras, por isso que em português, algumas palavras tem origem no sânscrito.

            A matéria me fez lembrar do grande escritor modernista, o paulista de Mário de Andrade (1893-1945) que certa feita, declarou: “Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil já havia descoberto a felicidade”. Inteligente e versado como era, é bem possível que, em suas pesquisas, o consagrado autor tenha compreendido que nessa remota antiguidade, os dois países e suas populações autóctones já sabiam um da existência do outro.

            E para comemorar essa amizade tão antiga e tão atual, nada como um bom pagode. Falando nisso, a palavra “pagode” vem do idioma dravídico, que era uma vertente do antigo sânscrito, falado pelos drávidas que habitavam as regiões entre os rios Indus e Ganges. Com a chegada dos ingleses, na Índia, como eles não conseguiam pronunciar Indus, colocaram um “H” na frente e virou Hindus, daí Hinduísmo.

            Mas o que é pagode? Pagode é um templo budista. Pagode é local de alegria, de celebrar a amizade. Sim porque, aprender a cultivar amigos é muito bom e é isso o que, entre outras coisas, praticamos na meditação.

            Há uma história nos sutras budistas que exemplifica bem a importância da amizade.

            Uma vez, após terminar um ensinamento sobre amizade e espiritualidade, o Buda estava caminhando com o seu discípulo Ananda. E este, dirigindo-se ao Mestre, pergunta:

            - Então, senhor, quer dizer que cultivar a amizade é a metade do caminho espiritual rumo ao nirvana?

            - Não Ananda – enfatizou o Buda – amizade é o caminho todo !

            Ou seja: semear, cultivar, fazer crescer, desenvolver amizades faz parte de nossa caminhada espiritual, de nossa prática meditativa.

            Que possamos todos nós, tal e qual o Brasil e a Índia, de longa data, fortalecermos, ainda mais, os nossos vínculos de amizade.

            Namastê !