[Maria do Rosário Pedreira]

Quando em Portugal começou a crescer visivelmente o número de leitores de romances ditos comerciais, tantas vezes sem sumo, fiz – confesso – uma pequena aldrabice. Tínhamos comprado um romance inglês literário – mas sem espinhas e cheio de humor – e cobrimo-lo com uma capa com rosas, bonita mas representativa de um género que não era exactamente o seu. A primeira edição voou num abrir e fechar de olhos e fiquei a pensar que, provavelmente, quem o comprara lera uma coisa de qualidade, ainda que leve e acessível, fazendo qualquer coisa por si próprio. É, de qualquer modo, matéria para reflexão se, com aquela capa, os potenciais leitores desse romance também o adquiriram, pois podem simplesmente ter-lhe passado ao lado, assustados com os ornatos florais e os tons pastel. Aqui no blogue, quando falei do romance vencedor do Prémio LeYa, um dos comentários exprimia alguma preocupação por o seu autor estar, infelizmente, a ser descrito pela comunicação social como um desempregado que conseguiu uma proeza, e não como o excelente escritor que é. É parcialmente verdade, claro, e se o livro vai em terceira edição e mal saiu há um mês, temos de admitir que esse episódio muito mediatizado pode ter influenciado as vendas. Mas não será, apesar de tudo, um bom pretexto para levar a certos leitores um livro melhor, mais interessante, que as faça pensar e contribua para uma mudança dos seus hábitos de leitura? Sei que uma percentagem acabará por achar a obra um pouco complexa, mas não haverá muitos outros que, sem encontrarem dificuldades de maior, deram um passo em frente com este O Teu Rosto Será o Último, de João Ricardo Pedro?