[Maria do Rosário Pedreira]

No Mindelo, aonde fui há dias para o lançamento do romance O Novíssimo Testamento, de Mário Lúcio Sousa (na capital tivemos o Primeiro-Ministro e tudo!), apareceu no hotel para ver o escritor uma rapariga muito simpática com uma menina ensonada pela mão. Tratava-se de uma jovem actriz que tinha entrado dois anos antes numa peça da autoria do romancista, intitulada Sozinha no Palco. Quando quisemos saber sobre o que versava esse texto, Mário Lúcio contou-nos que era a história de uma empregada doméstica; e explicou a seguir que, em Cabo Verde, absolutamente toda a gente tem empregada doméstica, mesmo... pois, as empregadas domésticas! A que trabalha, por exemplo, na Embaixada de Portugal na Cidade da Praia tem de ter alguém que lhe limpe a casa enquanto está fora de casa, certo? Enfim... um esquema que me fez pensar em bonecas russas. Bem, mas o que importa agora referir é que, na dita peça, a protagonista é uma empregada doméstica analfabeta que tem um patrão duro e agressivo. Um dia, quando a deixam finalmente entrar na sala principal da casa para limpar as grandes estantes cheias de livros, tira logo a seguinte conclusão: «Poxa, por isso é que eu nunca aprendi a ler, patrão é tão bruto!»