João Borges Caminha (**)

 

Li o livro histórico-romântico-poético sobre o mestre-de-campo BERNARDO DE CARVALHO E AGUIAR, povoador e pacificador de civilizações e acerca de aspectos de nossa inesquecível Campo Maior, de autoria do já renomado escritor, José Elmar de Melo Carvalho.

É de estilo atraente, fluente, escorreito, preciso e objetivo. Por isso, não foram numerosas as páginas dedicadas ao inexcedível biografado, oportunamente, nomeado para o lugar-tenente de Antônio da Cunha Souto Maior, por morte deste em 1708. Mas foi o bastante para coligir fontes bibliográficas suficientes à demonstração cabal dos fatos e feitos gloriosos atribuídos ao citado marechal-de-campo nestas longínquas e ermas plagas piauienses com relação à Coroa Portuguesa, na época de seu povoamento e independência.

Completo ao concluir que o famoso biografado foi um inexcedível libertador e protagonista das liberdades indígenas ou miscigenadas de todas as raças das terras de “Mafrense” e dos “Timbiras”. Por isso não lhe faria nenhum favor, a concessão em lápide, da comenda de libertador dos povos indígenas dessas paragens.

No trabalho, como em outros, de sua lavra, não olvidou em enaltecer, com sua verve, as belezas naturais e artificiais de nossa antiga BITOROCARA. Seja sobre o “Açude Grande”, porém “pequeno na paisagem...”. A Serra Grande de Campo Maior, da cor da terra, mas o autor pensava que de “longe era azul”, que, como o açude, também, não é tão grande assim. “A Catedral de Santo Antônio do Surubim”, como “uma escada em demanda do céu”. “O Rio Surubim, o Monumento aos Heróis da Batalha do Jenipapo, símbolo da coragem dos filhos da Terra dos Carnaubais. Elegia a Campo Maior” e outros escritos induzem o leitor a uma útil e agradável leitura.

Afinal, alegrei-me em saber que, profissionalmente, o insigne campomaiorense não é somente escritor, ex-servidor, magistrado prudente e competente, mas também, um grande jogador de futebol, na categoria de goleiro, conforme narrou o Professor José Francisco Marques em seu artigo cognominado “QUEM TE ENSINOU A VOAR?”, de ps. 47/48. Cujas proezas em defesa do time de casa deram-lhe fama e respeitabilidade.

Em I.B.G.E, ENCICLOPÉDIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS, XV VOLUME, edição de 31.01.1959, contendo 660 páginas, dedicadas a municípios maranhenses e piauienses, planejada e organizada por JURANDYR PIRES FERREIRA, presidente à época do I.B.G.E, sendo supervisor da edição DYRNO PIRES FERREIRA, superintendente do Serviço Gráfico, em minha rápida pesquisa, encontrei o registro de pouquíssimos feitos do mestre-de-campo, Bernardo de Carvalho e Aguiar.

Em Barras (PI), por exemplo, além de muitos outros dados históricos e geográficos, a Enciclopédia registra que seu principal fundador é o Coronel Miguel de Carvalho de Aguiar, filho de Bernardo, “natural do Estado da Bahia, quando deu início à construção da primeira capela, dedicada a N. S. da Conceição”, sendo o seu maior benfeitor o cidadão “José Carvalho de Almeida”.

No espaço de doze páginas consignado à cidade de Campo Maior, se não me equivoquei, infelizmente, nenhuma delas foi destinada ao fundador de Bitorocara. Contudo informa de sua ereção em fazendas do fidalgo português, D. Francisco da Cunha Castelo Branco (página 447).

São Miguel do Tapuio, com uma população de 18.867 habitantes e área de 5.220,513 km2, é hoje o mais extenso município dentre todos os que integram as Mesorregiões Norte, Centro-Norte, Sudeste e Sudoeste do Piauí. Com superfícies superiores à sua somente os municípios de Uruçuí, Baixa Grande do Ribeiro, Bom Jesus e Santa Filomena, todos situados no sul do Estado. Consta que primitivamente era a mesma fazenda DELICIOSA pertencente a Dona Rosaura Muniz Barreto, proprietária da sesmaria denominada Cabeço do Tapuia, da qual fazia parte, também, aquela fazenda, que por insistência de um genro seu, doou-a ao Arcanjo São Miguel, para constituição não só do patrimônio do seu orago, como para o de um núcleo comercial, cujo topônimo por força dos nomes do Santo devoto e da antiga tribo indígena foi mudado para São Miguel do Tapuio (p. 608).

Quanto ao município de São Bernardo (MA), a Enciclopédia deixa inteiramente in albis a contribuição prestada pelo Biografado à fundação daquele aglomerado humano. A contrario sensu, consigna que sua fundação se deveu aos jesuítas, auxiliados pelos índios Canelas da tribo Tupinambá, sendo São Bernardo o seu padroeiro e o padre Manoel de Almeida Brandão, seu primeiro vigário paroquial (p.328).

Finalmente, agradeço o notável escritor pela não expressa, mas subentendida menção do meu nome no rol dos intelectuais, Membros da Academia Campomaiorense de Artes e Letras, ainda que, apenas, cidadão bitorocarense. No mais siga em frente, para trás, nenhum milímetro.

 

(*) O vertente trabalho, da lavra do eminente historiador João Borges Caminha, demonstra o quanto Bernardo de Carvalho (“uma das mais gloriosas figuras de nossa História e o verdadeiro criador da unidade piauiense”, no dizer do Pe. Cláudio Melo) foi importante na História do Piauí e o quanto tem sido um grande injustiçado da historiografia piauiense (com honrosas exceções), inclusive pelas omissões da obra I.B.G.E, ENCICLOPÉDIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS, XV VOLUME, edição de 31.01.1959. Com a obra biográfica do padre Cláudio Melo (publicada em 1988), os seus feitos e o seu estofo moral começaram a emergir do esquecimento. (Nota de Elmar Carvalho)


(**) João Borges Caminha é historiador, escritor, advogado e professor aposentado da UFPI. Foi chefe da Assessoria Jurídica do Banco do Brasil no Piauí por muitos anos. (Nota de EC)