Benjamim Santos, o Jardim dos Poetas e O Bembém

DIÁRIO

[Benjamim Santos, o Jardim dos Poetas e O Bembém]

Elmar Carvalho

18/12/20

Em mais de uma matéria, já tive oportunidade de tecer considerações elogiosas ao escritor e dramaturgo Benjamim Santos. Falei de sua carreira vitoriosa no Recife e no Rio de Janeiro, de suas glórias e conquistas, e de seu retorno a Parnaíba, sua terra natal, onde exerceu o cargo de secretário de Cultura, na gestão do prefeito Paulo Eudes, em que realizou eventos culturais, instalou o Museu do Trem e construiu o Jardim dos Poetas, no entorno do mercado público central de Parnaíba.

No Jardim havia um monumento, caramanchão, suportes e placas com os poemas, além de outros equipamentos. Os vândalos e o descaso da administração pública deixaram que o logradouro em homenagem aos poetas parnaibanos fosse depredado e ficasse em situação de abandono, sem serventia alguma, ao menos para o fim a que se destinava.

Fui convidado a discursar numa das solenidades de sua inauguração. Aproveitei para lançar o meu opúsculo Aspectos da Literatura Parnaibana, em que se encontrava um pequeno ensaio sobre a literatura de Parnaíba, feito especialmente para a ocasião, no qual louvei essa iniciativa por ele idealizada, e o meu depoimento sobre o jornal Inovação.

Recentemente fui indagado pelos poetas Claucio Ciarlini e Carvalho Filho sobre se pretendia publicar-lhe a segunda edição, tendo eu respondido que não. Depois, pensei melhor, e resolvi promover uma edição virtual, bastante aumentada, cujo e-book se encontra disponível na loja Amazon.

Essa nova edição me ensejou sugerir ao Dr. Valdeci Cavalcante a construção de um novo Jardim dos Poetas, na Praça Mandu Ladino, no entorno do Castelo de Eventos, por ele restaurado, tendo ele, na condição de presidente do sistema Fecomércio/SESC/SENAC, respondido que o construiria. Há poucos dias ele me reafirmou o seu desejo de prestar essa homenagem aos poetas parnaibanos.   

Retomando o fio inicial deste registro, informo que recebi ontem, através dos Correios, uma carta circular de Benjamim Santos, titulada MISSÃO CUMPRIDA – Tarefa Finalizada, na qual ele comunica que se tornou impossível “continuar a edição mensal do jornal O Bembém por motivos que, naturalmente, cada um dos leitores” poderia imaginar, mas com certeza problemas decorrentes da pandemia, que nos aflige a todos. Julgo oportuno transcrever o trecho abaixo:

“Tendo há oito meses toda a equipe de redação e de comercial em completo isolamento, para manter a saúde, tornou-se mais difícil ainda darmos continuidade a uma tarefa tão complexa para uma cidade do porte da nossa. E agradecemos intensamente a todos os assinantes que sempre tanto fizeram para que o jornal se mantivesse vivo e com o mesmo padrão gráfico e de conteúdo com 146 edições ininterruptas.”

O comunicado circular se encontra datado do dia 16 de novembro deste ano, mas só ontem, como disse, o recebi. Acrescenta que “Passados estes tempos de terror, em caso de possível retorno, sua assinatura terá continuidade. // Muito emocionados, todos da equipe, em meu nome, agradecem.”

O jornal cultural O Bembém circulou durante dez anos, e teve 146 números, como visto. Nele foram publicadas importantes matérias, belas entrevistas, poemas, crônicas, pequenos ensaios, perfis biográficos e artigos historiográficos, abordando os mais diferentes assuntos. Está claro que lamento essa interrupção, e espero ele volte a circular. Por isso mesmo, enviei o seguinte e-mail para o seu editor Benjamim Santos, com que encerro esta anotação deste Diário em tempos de pandemia:

“Caro Benjamim,

Recebi hoje sua carta.

Você fez o que devia e podia  diante das circunstâncias adversas, que nos atingem a todos.

Todos fazemos o que é possível, embora miremos às vezes o impossível; cada um de nós temos a nossa ilha da Utopia, que é a nossa meta maior, a nossa Ítaca encantada de Kaváfis. Não importa que não a atinjamos.

O importante é que a busquemos, conquanto jamais venhamos a encontrá-la, perdida em mares brumosos, cheios de perigos, monstros e arrecifes. Essa ilha é o nosso ideal, talvez a razão maior de nossa existência.

Você fez o que lhe foi possível fazer. E nas mesmas condições ninguém o faria melhor.

Tenho Fé e sei que as coisas voltarão à normalidade, ainda que não seja na velocidade que muitos de nós desejamos.

Não cessa a Esperança quando entramos no Inferno, como disse Dante. O Inferno é que é a própria falta de Esperança.

Desculpe-me por estas improvisadas e, talvez, despropositadas linhas.

Paz e bem.

Um forte abraço.”