[Rogel Samuel]

 

Belmiro Ferreira Braga nasceu a 7 de janeiro de 1872, na Fazenda da Reserva, em Vargem Grande, depois Ibitiguaia (hoje, Belmiro Braga) e morreu no dia 31 de março de 1937. Escreveu  “Cantos e Contos”, em 1906; “Rosas”, em 1911; “Contas do Meu Rosário”, em 1918; “Tarde Florida”, em 1925; e finalmente, “Redondilhas”, em 1934. Diz J. G. de Araujo Jorge que, com a divulgação de seus poemas, Belmiro Braga ficou famoso em pouco tempo. Tinha grande popularidade.

J. G. de Araujo Jorge  escreveu um poema sobre a rua Clarice Indio do Brasil (avó da nossa colunista Clarisse de Oliveira) que diz:

 

Me lembro da minha rua
velha Rua da Piedade,
mudou pra Clarisse índio
Clarisse índio do Brasil,
o nome de alguma dama
muito importante, quem sabe?
muito importante, quem viu?

O primeiro livro de Belmiro Braga se deve ao editor português Antonio Figueirinhas que viajava pelo Brasil e o conheceu, lançando o seu  “Montesinas”, em 1902.

O livro teve prefácio de “Batista Martins, um amigo de Carangola, e Martins, estudante de Direito e jornalista” (J.G).

Mas a grande parte de sua obra deve estar inédita, como por exemplo o poema que escreveu sobre a morte de Clarice Índio do Brasil, em janeiro de 1920.

Dona Clarisse Indio do Brasil se apaixonou por um mestiço, o Almirante Indio do Brasil. Ela era uma Condessa Laje, como escreveu sua neta, a escritora Clarisse de Oliveira: «Clarisse Lage nasceu em 4 de abril, talvez no ano de l869. Casou-se contra a vontade da família com Arthur Índio Do Brazil e Silva, em 23 de Janeiro de l893».

Arthur foi Chefe de Segurança no Pará, Presidente do Conselho de Intendência de Belém, Deputado Constituinte Federal, Almirante e Senador, e em 23 de dezembro de 1925, feito Marquês pelo Papa.

D. Clarisse teve morte trágica. Quando se rompeu seu colar de pérolas e, recolhidas, nenhuma faltava, ela disse: "Nem mais um dia de vida — a morte está próxima". Foi morta por um viciado em cocaína e alcoólatra, no dia 6 de outubro, às l8:30 horas, no centro da cidade, esquina da Rua do Ouvidor com a Ourives. Talvez fosse um crime político, de um louco terrorista da época: Ela era rica e aristocrática, e o assassino tinha passado pela Escola militar, reduto republicano.

O Senador tinha um escritório na Rua da Alfandega, 94. Clarisse costumava buscar o marido no trabalho todas as tardes. Quando o "Landaulet" estacionou, ouviu-se um tiro, e apareceu o "toillett" azul da senhora Indio do Brazil. Ela estava com a mão esquerda sobre o peito e a direita agarrada ao trinco da portinhola. Morreu dias depois.

Nas suas últimas palavras, pede perdão ao assassino. Diz ao marido: "Perdoa, Coração!" E morre.

Dona Clarice era famosa por sua caridade, seu coração bondoso. O poeta Belmiro Braga a descreve como uma santa, o que não está muito longe. Contam-se muitos casos famosos. Ela protegia os pobres. Tinha 19 empregados. Durante a gripe espanhola, vários dos seus empregados adoeceram e ela os tratou em casa. Um dia um dos doentes vomitou em cima dela. Nenhum morreu. Ela tratava dos animais. Colocava os cachorros da rua para dentro de casa. Tinha amor às plantas. Até o diretor do Jardim Botânico estava no seu velório.

Dona Clarice foi uma das primeiras feministas do Rio de Janeiro. “As mulheres só conquistaram o espaço público no início do século XX. Entre mais de 400 estátuas em toda a cidade do Rio de Janeiro, apenas dez são de personalidades femininas reais, que mudaram seu tempo.” E a primeira foi de Dona Clarice.

 

Escreveram sobre ela: “Clarisse era vista como uma figura "de inigualável sobranceria, ressaltava na turba com a aristocrática beleza de uma fidalga dama de outras eras. Tinha a formosura, a graça, a inteligência, a fortuna e possuía, acima de tudo, esse raro condão de simpatia que é o supremo apanágio das grandes almas: a bondade." Era também famosa por suas doações às instituições de caridade, principalmente de Botafogo, bairro em que morava. No busto, onde estava inscrito em letras de bronze - "A Clarisse Indio do Brazil, os pobres de Botafogo - 1923"; esta imagem foi cristalizada”.

Isto está em:

http://www.bolsademulher.com/estilo/mulheres-de-bronze-227-2.html

 

O poema de Belmiro Braga diz:

 

Senhora Indio do Brazil

Vi-a uma vez apenas. Foi na igreja
mais humilde e mais pobre da cidade;
e, entre os pobres, ao ve-la, a Caridade
vi formosa, risonha e bemfaseja.

Todos se acercam d`Ella. Este deseja
ouvir-lhe a doce voz de suavidade,
este os braços lhe estende na anciedade,
aquelle outro, a sorrir, as mãos lhe beija...

E Ella, nos olhos um sorriso infindo,
abrindo a bolsa e o coração abrindo,
em bençãos se desfaz, ingenua e bella...

E ao ve-la, dos altares resplendentes,
mostram-se os Santos muito mais contentes
que aquelles pobres socorridos d`Ella!...

 

A velha Rua da Piedade mudou de nome por causa dela, que abria seu coração aos pobres.