DE REPENTE
Encontro-me sem me avisar
Entre a ida e a volta
Da espera que esqueci.
às vezes creio
mas não me tenho notícias
sou novidade nesta dor de não sofrer.
O sonho torna egoísta a noite
E o sono é o muro dos quintais.
A noite de certeza e traição
Na confluência do solitário pensamento.
Pensar numa meia – volta
Talvez seja um olhar demente
Quero e não quero,
Mas quero sempre.
Depois compreender apenas com o sentimento.
(Geovane a 20-10-2006)
 
 
OS SENTIDOS
Os olhos fogem
Para se entregar
E as mãos tateiam o escuro.
Amarga a voz
Da liberdade
Na fuga
Do perfume absorvido.
(Geovane, julho de 2006)
 
 
 
 
A NOITE
 
Quando a noite me vem
Ja não a espero tão madura.
As sombras das luzes
Projetam o convite do silêncio
Quando um gesto meu se faz segredo
Pelo esquecimento
A abrir caminhos.
Senão a convicção,
Ainda que a unânime noite
Confunda minhas orações.
Mas à noite, se e noite,
Há que haver o que se desfaz
Em penumbra e fluido.
Mesmo o mistério que a si condena
Não menos ladrão: A noite.
(julho de2006)
 
CONTEMPLAÇÃO
 
Chega a hora
Com jeito de sono
Nas mãos de uma criança.
 
Chega a hora
A intacta indiferença 
Os sentidos em círculos
Tramam uma povoação de abrigos
Na seriedade da vez.
 
Chega a hora
O brinquedo consente em vincos
A solidão do assombro.
 
 
[Epitáfio]
Teus olhos envaidecem
O espelho sujo
De minhas mãos vazias
Tocam a ferida mais viva
Do meu instante quase perfeito.
Teus olhos emudecem
O silêncio áspero
Que junta os pedaços de mim.
 


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