Bashar al-Assad: num beco sem saída
Por Cunha e Silva Filho Em: 20/07/2012, às 09H57
Cunha e Silva Filho
O ditador sírio, genocida, está com a vida por um triz. Do cargo que ocupa nem se fala. Vai ter que deixá-lo, seja pela deposição, seja por meios até violentos, ou seja, com os meios que sempre usou contra os seus compatriotas.
Ministros dele, oficiais de alta patente, diplomatas já o abandonaram e vários militares desertores se passaram para o lado dos opositores, o que cada vez mais fragilizando o regime de terror implantando contra a Síria desde o período em que seu pai, Hafez al--Assad Assad, havia assumido o poder pelo partido Ba’ath, de orientação socialista (é o cúmulo!)) e se tornara também ditador. Tal pai, tal filho, diz bem o brocardo. Creio, porém, que Bashar al-Assad foi mais longe em sua carnificina e em sua violência contra os sírios, com exceção do grupo que lhe deu sustentação, constituído pelos aulitas, adversários dos sunitas.Em resumo, a ditadura síria, desde o pai de Bashar, tem sido palco de enriquecimento ilícito, de riquezas faraônicas conseguidas fraudulentamente por Bashar, um homem riquíssimo, com muito dinheiro em vários paraísos fiscais, inclusive na Rússia. É esse o tal socialismo do partido Ba’ath. Que barafunda!
A História realmente se repete em alguns aspectos em relação a ditadores: todos quase sempre terminam seus governos tragicamente. Os grandes monstros da Humanidade estão aí para confirmarem a assertiva.
Não consigo nunca atinar com a posição que truculentos ditadores tomam quando assumem, seja por eleição fraudulenta, seja por golpe militar, seja por quaisquer meios discricionários. Os ditadores são iguais na sua essência e nas suas maldades. Há algo de loucura que nele vislumbro, mas uma espécie de loucura difícil de classificar porque são homens que gostam do poder e do dinheiro com ambição desmedida e que se julgam donos de uma nação como os antigos monarcas , ou seja, por direito divino, quando, na realidade, não passam de tiranos com pés de barro, sujeitos ao trágico destino dos covardes e sanguinários inimigos da Humanidade. Se têm carisma, espírito de liderança isso tudo só é canalizado para o mal, pra a prepotência que, nos seus palácios se instalam. São sempre cercados de áulicos, de uma elite política e econômica, de exércitos bem treinados para fins que se dirigem aos fracos, i.e., a população despojadados direitos mais inalienáveis da pessoa humana. Assim, se impuseram todos os ditadores da esquerda ou da direita e assim tragicamente irão, um a um a, caindo do seu pedestal também feito de barro.
Não foi por falta de avisos, advertências e tentativas de negociação para um cessar-fogo por parte da ONU e da Liga Árabe que o tirano Al-Assad não se conscientizou de seus erros e de seus atos de terror e horror. Um país destroçado, em chamas, até na capital , Damasco, as fumaças de edifícios incendiados e explodidos são sinais da da dimensão de ruínas em que se transformou o país, sem contar o pior de tudo isso: a matança indiscriminada de inocentes de todas as idades.
Quase me é possível crer que, a esta altura da século XXI, ainda se possam assistir , perplexo , a todo esse quadro macabro, guernequiano, assombroso.Como é possível, me pergunto atônito que o ser humano seja capaz de causar tanta miséria aos outros, tantos prejuízos, tantos gastos com armas dispendiosas que custaram a infelicidade de uma nação cujo desejo era ter paz e liberdade, viver a sua existência normal no planeta Terra, a salvo de desnecessárias calamidades produzidas pelas mãos de ambiciosos do poder a todo custo e o seu fausto às expensas da ausência da liberdade, dos direitos de cidadania, de escolha de seus governantes e da prática da democracia autêntica e sempre pronta na defesa dos mais fracos e desprotegidos.
Mal consigo entender a contumácia de países como a China e a Rússia que, pelo direito ao veto, não aderiram à maioria dos países-membros que aprovaram sanções mais rígidas contra o ditador sírio. Será que esses dois países não têm a mínima consciência de humanidade para com os mortos aos milhares na Síria? Será que para eles valem mais as bases militares ( e interesses econômicos, por que não?) que mantêm em territórios da Síria e do Irã sob o argumento de que elas os protegem contra as grandes potências mundiais em caso de conflagrações internacionais do que as perdas de inocentes sírios massacrados covardemente e sem justificativa para tais atos de selvageria ? Somos ou não seres civilizados ?
Seria difícil para mim responder a esta pergunta de maneira otimista.Não são suficientes os crimes do passado contra os seres humanos para agora pensarmos em encontrar caminhos que nos conduzam à paz na Terra? Isso não é impossível nem tampouco um desejo utópico de uma sonhador num mundo de lobos ferozes e de degenerados.A lógica mais fria e calculista jamais, creio, seria capaz de compactuar com os novos holocaustos do mundo contemporâneo.
Esforço-me por ser otimista e por isso espero que o que aguarda o ditador sírio seja o exílio e o julgamento pela Tribunal Internacional de Haia já que , de acordo com representantes da Cruz Vermelha, o estado de violência na Síria já se transformou em guerra civil. As leis e sanções agora já passam ao âmbito dos crimes de guerra e não mais de combates pontuais em território sírio. Que os sobreviventes da paz agora tenham um pouco de paciência. Torço pela vitória do Bem, dos inocentes e humilhados e daqui expresso o meu pesar imenso pelos seus mortos.
.