ELMAR CARVALHO

 

 

Não faz muito tempo, um amigo enviou-me por e-mail um artigo em que defendia a tese pela qual Barras já teria sido desbancada de seu título de Terra dos Governadores. Fiz rápida pesquisa, na qual consultei as obras de Cláudio Bastos, de Antenor Rêgo Filho e de meu amigo Wilson Carvalho Gonçalves. Este último, além de ser barrense, assim como o segundo, publicou vários livros sobre a história de seu torrão. Logo confirmei o que já tinha como certo: a velha urbe continua firme em sua honra de ter dado mais filhos ao governo do Piauí.

 

Sendo meu pai natural de Barras e sendo vários de meus ancestrais paternos filhos desse município, e tendo ainda passado vários períodos de férias escolares, tanto na infância quanto na adolescência, nesse rincão querido, tratei de telefonar ao meu amigo para lhe dizer, com a necessária cordialidade, que ele laborara em equívoco. Ele encarou o fato com naturalidade, sem aborrecimento; disse que iria fazer novas pesquisas, refazendo o que teria de refazer, para depois publicar o seu trabalho.

 

Acrescentei-lhe que Barras não só dera vários governadores ao nosso Piauí como a outros estados do Brasil. Expliquei-lhe que esse honroso aposto se devia não só ao fato de ela ter tido vários de seus filhos na governança de nosso estado, mas também na chefia do Executivo de Pernambuco e Amazonas, em diferentes oportunidades. Para que não pairasse nenhuma dúvida, citei-lhe o nome desses governantes.

 

Em conversa com o amigo Antenor Rêgo Filho, barrense de ilustre estirpe, autor do importante livro Barras – histórias e saudades, sobre o qual emiti comentário quando de sua publicação, revelou-me ele que proeminente político de Valença do Piauí, alguns anos atrás, andou questionando sobre se esse município já não seria a nova Terra dos Governadores, tendo tido a imediata reprovação do velho Tena, tenaz defensor das glórias de sua terra natal.

 

De maneira sucinta, com uma ou outra pequena informação, passo a citar os nomes dos barrenses que exerceram a chefia do Poder Executivo do Piauí: Gregório Taumaturgo de Azevedo (26/12/1889 a 04/06/1890), primeiro governador republicano do nosso estado; Coriolano de Carvalho e Silva (11/12/1892 a 04/07/1896); Raimundo Artur de Vasconcelos (01/07/1896 a 1900); Matias Olímpio de Melo (1924 a 1928) e Leônidas de Castro Melo, que governou o Piauí por mais de dez anos (03/05/1935 a 09/11/1945). João de Deus Moreira de Carvalho, major do Exército Brasileiro, fez parte da junta que exerceu o Poder Executivo durante o breve período de 16 de novembro a 26 de dezembro de 1889; era irmão de Gregório Taumaturgo de Azevedo, ambos filhos de Manoel de Azevedo Moreira de Carvalho e Angélica Florinda Moreira de Carvalho.

 

Os barrenses Gregório Taumaturgo de Azevedo e Fileto Pires Ferreira governaram o Estado do Amazonas, enquanto Segismundo Antônio Gonçalves governou o Estado de Pernambuco. No livro Chão de Estrelas da História de Barras do Marataoan, da autoria de Wilson Carvalho Gonçalves, que tive a elevada honra de prefaciar, encontro a seguinte informação: “Segismundo Gonçalves foi uma das figuras mais expressivas no cenário político de Pernambuco, no período de 1880 – 1915. Governou o Estado em três oportunidades: 1889, 1900, 1904 – 1908”. Acrescento que esse estadista exerceu vários outros cargos importantes, entre os quais o de senador e o de desembargador.

 

Além de ser a Terra dos Governadores, Barras é também torrão natal de marechais, senadores e de poetas e intelectuais. Marechais foram Firmino Pires Ferreira, que lutou na Guerra do Paraguai, e Gregório Taumaturgo de Azevedo, que chefiou a comissão de limites entre o Brasil e a Bolívia, fundou a cidade de Cruzeiro do Sul (Acre) e a Cruz Vermelha Brasileira. Foram senadores Firmino Pires Ferreira, Raimundo Artur de Vasconcelos, Joaquim Pires Ferreira, Matias Olímpio de Melo e Leônidas de Castro Melo. Todos estes foram também deputados federais.

 

Entre os intelectuais, poetas e escritores, podem ser citados os seguintes filhos ilustres de Barras: David Moreira Caldas, que passou à história com o epíteto de “profeta da República”, Celso Pinheiro, talvez o mais importante poeta simbolista do estado, José de Arimathéa Tito Filho, que presidiu a Academia Piauiense de Letras durante 23 anos, João Pinheiro, autor da mais notável obra sobre a história literária do Piauí, em cuja seara parece ter sido pioneiro, Matias Olímpio de Melo, presidente da APL em dois mandatos, Breno Pinheiro, Fenelon Castelo Branco, José Pires Lima Rebelo e Wilson Carvalho Gonçalves, autor de uma das mais notáveis obras de divulgação da História do Piauí.

 

São considerados barrenses os poetas Leonardo de Carvalho Castelo Branco, Hermínio de Carvalho Castelo Branco e Teodoro de Carvalho Castelo Branco, cognominado o poeta caçador, em virtude de que as localidades em que nasceram fizeram parte do território de Barras (hoje integram o município de Esperantina). O primeiro foi um dos mais notáveis patriotas, tendo lutado pela Independência do Brasil no Piauí, bem como fez parte da Confederação do Equador. Os dois últimos foram heróis da Guerra do Paraguai.

 

 

Segundo Antenor Rêgo Filho, em sua obra citada, “Barras, depois de Teresina foi a cidade que mais tem filhos fazendo parte dos quadros da Academia Piauiense de Letras, quer como patronos, quer como ocupantes de cadeiras”. Nasceu nesse município Lucílio de Albuquerque (09/05/1877), que foi um dos mais importantes pintores do Brasil. Estudou na Escola Nacional de Belas-Artes, da qual veio a se tornar diretor, e na Universidade de Sorbonne, em Paris. Foi considerado em sua época o mais importante paisagista brasileiro. Expôs em Nova Iorque e em Paris.

 

Na atualidade, podemos citar, entre outros, como expressivos representantes da cultura e da literatura barrenses, o jornalista e intelectual Reinaldo Torres, o contista Constâncio Furtado do Rêgo, o historiador Antenor do Rêgo Filho e o poeta e romancista Dílson Lages Monteiro, professor de literatura e proprietário do Laboratório de Redação que leva o seu nome e do importante portal literário Entretextos. Na música, como cantor, compositor e instrumentista, pontifica Francy Monte.

 

Assim, sem detrimento de nenhum outro município, podemos dizer que Barras não é somente a Terra dos Governadores, mas também de marechais, artistas, poetas e intelectuais.