Barras do Marathaoan

[Carlos Said - jornalista e professor]

O conceituado Dílson Lages Monteiro (Barras, Piauí, 1973), exemplo característico de cidadão que não esquece o lugar de onde nasceu, tem declarado que o passado da cidade, que os poetas cantam como Marathaoan, é a história de liberdade preservadora da dignidade humana.

Quanta alegria remontada pelo Dílson ao rememorar os episódios que marcaram a religiosidade dos habitantes da querida cidade, evidência pela qual os mais velhos do Marathaoan continuam cantando as saudades do tempo antanho.

Na verdade, tornou-se obrigatório escrever sobre episódios outros, principalmente aqueles que assinalaram a construção da religiosidade e a permanência de fé em Nossa Senhora da Conceição. Até hoje, o 8 de dezembro iniciado quase no final do século XVIII, é dedicado à Padroeira da cidade. Mesmo com a descaracterização na estrutura da Igreja arquitetada em louvor à “Mãe Generosa”, o templo outrora construído com cuidados especiais, tem acolhido as tradições populares a fim de que cada uma delas permaneça intacta. O compromisso que não é d’agora, reforça o amor de cada “barrense” pela elevação dos valores cultuados em torno do civilizar-se no Piauí.

A vassalagem do Dílson Lages Monteiro é a manifestação social do realismo que vem conservando os símbolos da grandeza cultural de Barras do Marathaoan, desde que os ancestrais deram formas à vida cotidiana tão esclarecida por Fenelon Ferreira Castelo Branco (nascido na querida terra “barrense”, 1874. A morte do poeta ocorreu em União, Piauí, 1925): “Em espírito vejo-te a beleza/ E os encantos de todos os matizes.../ Serão sempre garbosos e felizes/ Os que aí nascem, mesmo na pobreza”.

Quando o lançamento do “Dicionário de Expressões do Piauí” (2 de agosto de 2013), doutro conterrâneo: Antenor de Castro Rêgo Filho (nascido em 1939), Dílson discorreu com singeleza e afeto extraordinários: “É o resgate da memória oral de Barras”.

Sabemos que Dílson Lages Monteiro, poeta e romancista, honra o panteão das letras piauienses. Confirmamos ser o porta-voz da nossa genuína literatura; consequentemente, agasalhado nos braços da modéstia que adorna a sua genialidade acadêmica. E como não exageramos  no discurso, eis Dílson contracenando com Ângela Rêgo (artista plástica e ilustradora), nas páginas do conto infantil  “O Rato da Roupa de Ouro”.

Por fim e a favor do incansável poeta-professor-pesquisador e editor, juízo nosso, explicamos: a mais nobre das ocupações humanas é escrever atrelado às aflições exequíveis da crítica literária subordinada ao julgamento das nossas faculdades intelectuais.

Publicado originalmente no Meio Norte, Teresina-PI, 14.08.2013