A Operação Satiagraha, da Polícia Federal, indiciou o banqueiro Daniel Dantas, do banco Opportunity, como envolvido em numerosos episódios de enriquecimento ilícito.  Agora, autoridades da República e parte da imprensa desencadearam uma operação “Salta e Agarra” destinada a pressionar, desacreditar e intimidar o delegado Protógenes, da PF, e o juiz De Sanctis, que decretou a prisão de Dantas.  Na impossibilidade de provar a inocência do acusado, a tática da defesa é encontrar culpas nos acusadores.


Parece que todo mundo no Brasil (menos esse delegado e esse juiz) tem medo de Daniel Dantas.  Por que?  Que dossiês comprometedores terá esse cidadão a respeito de cada membro do Executivo, do Legislativo e do Judiciário?  Que quantidade enorme de informações secretas?  Que caixa-forte repleta de discos rígidos?  Que bunker blindado, atulhado de fotos, gravações grampeadas, documentos cabeludos com as assinaturas mais prestigiosas da República?  Que medo terrível é este que faz as autoridades pressionarem dessa forma os indivíduos que ameaçam o figurão?  Olhe, se eu fosse um corretor de seguros era mais fácil eu aceitar um seguro de vida para Osama Bin Laden do que para esse delegado e esse juiz.  


 O Brasil (sejamos honestos: o Mundo) é uma espécie de jogo de Banco Imobiliário onde um grupo de crianças gananciosas faz o que pode para destruir os imperiozinhos das outras e engoli-los com o seu imperiozão.  É um jogo de Banco Imobilionário disputado por crianças cruéis e sem escrúpulos.  Me lembra o terrível conto fantástico de Jerome L. Bixby, “It’s a Good Life”, em que num vilarejo norte-americano nasce uma criança com o poder de manipular o mundo à sua vontade.  Basta ela desejar uma coisa e essa coisa acontece.  É uma parábola freudiana de terror, sobre a perversão e a onipotência do desejo.  Uma das primeiras coisas que o garoto faz é arrancar o vilarejo inteiro do mundo real: as pessoas que tentam fugir dali vêem-se perdidas numa zona crepuscular, num Nada que não pode ser transposto.  Qualquer adulto que desagrade ao menino é imediatamente destruído.  Pessoas que o repreendem ficam sem a boca.  Todos compreendem o terrível poder do pirralho e passam a bajulá-lo o tempo inteiro, para continuarem vivos.  


Assim é o mundo de hoje em relação a figurões como Daniel Dantas e outros por aí.  Eles varrem do seu caminho os adultos que querem interromper sua diversão.  Seu objetivo não é enriquecer, não é multiplicar a própria riqueza, não é desfrutar a própria riqueza.  São vítimas de uma compulsão de poder, são prisioneiros da própria onipotência, à qual não podem deixar de obedecer um instante sequer, porque ela se transformou em sinônimo de sua própria vida.  No dia em que Daniel Dantas pronunciar (ou apenas pensar) a frase “Não posso fazer isto” ou “Não devo fazer isto” sua onipotência será estilhaçada como uma bolha de sabão, e ele desmoronará, transformado num pequeno monte de cinza inorgânica.