Cunha e Silva Filho

 

                             Um ano se passou ou fui eu que passei, diria eu tentando parodiar uma célebre frase de Machado de Assis (1839-1908)? De qualquer forma, passei incólume e, por isso, devo agradecer como o fazia uma ex-professora minha judia, que não conseguiu, ainda moça, escapar de um câncer. 
                            Fazendo o balanço do que consegui e do que não consegui, o saldo foi algo positivo, sem querer dar a este último termo uma acepção de um enunciado do jargão militar. Positivo porque, nesta minha coluna, postei 173 textos no ano que terminou ontem, ou seja, textos, pequenos ou grandes, que, se publicados dia a dia, corresponderiam a uma metade dos dias de 2009

                          Foi uma colaboração quantitativamente favorável. Mas, foi uma colaboração. Nela pude desenvolver matérias que poderia dividir em resenhas, crônicas, tentativas de ficção, de poesia, de publicação de velhos textos inéditos, de pequenos ensaios, de médios ensaios e de exercícios de traduções, além de  duas versões para o inglês dos poemas “Poema para Izabel” e “Os sinos”, respectivamente, de Jurandir Bezerra, poeta festejado do Pará, e de Adailton Medeiros, estimado poeta maranhense que fez. parte dos poetas do movimento de vanguarda brasileiro denominado “poesia-práxis”, cuja figura central foi a do poeta e ensaísta Mário Chamie, movimento dissidente do Concretismo (1956) que teve o apoio do veterano poeta Cassiano Ricardo (1895-1974), através do seu ensaio “22 e a poesia de hoje” (1961).Esse movimento teve como porta-voz inicial de seus princípios estéticos a revista Práxis. Revista de instauração crítica e criativa, São Paulo, 1962 
                        Com o tempo vamos descobrindo alguns prazeres no domínio literário. Um deles para mim tem sido, nos últimos tempos, o prazer de traduzir, inicialmente, de forma não profissional Não devo esconder o fato de que traduzir dá trabalho, nos envolve por completo e, por vezes, nos deixa insatisfeito por não conseguir alcançar aquele ponto ideal de quem se dá ao labor dessa arte. Mas, a tradução de poemas, como qualquer atividade literária, é passível de revisões, de melhorias, de correções. Semelha àquela ânsia do escritor que está sempre modificando um pouco o seu texto a fim de torná-lo, na sua opinião, melhor e mais aproximado do desejável.Voltaire compara o trabalho da tradução ao da preparação de uma jóia. 
                       Quero crer que meu leitor, a esta altura, da minha produção nesta Coluna, no meu blog, As idéias no tempo, e por vezes, no Diário do Povo, de Teresina, este último repetindo  meus artigos de menor extensão, já pode ter formado algum julgamento do que defendo nos meus artigo sobre assuntos vários. A minha atividade de escritor uma coisa não pode perder de vista: a de expor meu pensamento com independência sobre questões que me estimulam ao debate e, na defesa do meu pensamento, não dou trégua aos inimigos da justiça social, da paz, da integridade física do meu país, da democracia.
                      Os meus textos ainda se estendem grandemente à luta contra a corrupção das nossas instituições públicas e privadas, contra os desníveis sociais e contra o chamado capitalismo selvagem, que, no fundo, equivale a uma globalização sem controle do neoliberalismo, tentacular, com suas cruéis implicações no seio da vida social brasileira, como a violência, a fome, a máquina do Estado desviada dos seus princípios éticos, a corrupção política, os erros da nossa educação pública e privada. Minhas reflexões ainda se estendem a uma crítica responsável a quaisquer atos e fatos no mundo que atentem contra a liberdade dos povos, contra as liberdades individuais, os oprimidos, ao preconceitos de toda espécie e, finalmente, contra as grandes nações que ainda persistem na tentativa de subordinar as nações mais fracas ao seu poder discricionário, hegemônico sob o forte amparo das forças econômicas. 
                     Penso que o escritor, poeta, romancista, dramaturgo, contista, ou de qualquer outra atividade que use da comunicação escrita e oral, não pode deixar de lado a dimensão política, a coragem de se expor ainda que sujeito às críticas dos adversários no campo das idéias e no domínio teórico.