Autores Piauienses Sangram na Paraíba

[Rogério Newton]

Quatro autores piauienses foram selecionados para a antologia Imagens Literárias: a realidade e o sonho, editada pela União Brasileira de Escritores, Secção Paraíba (UBE-PB). O lançamento será no dia 03 de outubro, em João Pessoa.

O livro conta com participações de escritores e poetas de boa parte dos estados brasileiros e de outros países de língua portuguesa, como Portugal, Angola e Moçambique. A escolha deu-se a partir das inscrições dos que atenderam ao edital lançado em maio deste ano pela UBE-PB para as categorias poesia, conto, crônica e artigo.

Os autores piauienses são Paula Nunes Alves, William Feitosa, Rogério Newton (poesia) e Chagas Botelho (conto). Eles já são autores de livros individuais e com participações em revistas e coletâneas.

Paula Nunes Alves lançou em abril deste ano seu livro de estreia, Explosão das chananas, apresentado por Laís Romero, que no prefácio afirma: “A menina Paula é professora da mulher”. De fato, há uma delicadeza em sua poesia, mas ela está pronta para a luta:

sangro nesse terreiro

lembro do negro olhar no quilombo de minha alma

e meu grito encontra tua língua

porque a paz essa branca paz nunca foi meu lugar

acordada ainda estarei sangrando

não serão balas mas mordaça

William Feitosa é outro poeta, cuja cuidadosa escritura está presente em seu livro Enquanto as roupas secam, tributário da poesia concisa, inspirada em certa lírica brasileira moderna e na tradição japonesa do haicai:

(escanção do haicai)

conte todas as sílabas

e alguns pirilampos

Por sua vez, Chagas Botelho, conhecido como cronista com pelo menos dois livros publicados nesse gênero, Delito Intencional e Olhar de casca de banana, participa da antologia com o conto Sofá pardo. Não conheço esse texto de ficção do Chagas, por isso transcrevo um fragmento de sua crônica Elas e as sombrinhas, que faz parte das minicrônicas de Olhar de casca de banana:

“Ainda que sob o calor sufocante de Teresina, como são singelas as moças que caminham de sombrinhas. Ali, pelo passeio da Avenida Frei Serafim, debaixo de uma sombrinha (sininho) ou (palito), elas lembram as damas machadianas. (...) Ó escassas sombras teresinenses, por favor, abriguem mais as filhas do sol do Equador”.

O último dos quatro autores é Rogério Newton. Ele enviou crônicas e poemas. As crônicas foram rejeitadas, mas os poemas, aceitos. Um deles segue página abaixo, e aqui me despido:

Não acredito em palavra da minha boca

Dita ou silenciada

Não acredito em mim mesmo

Nos atos das minhas mãos

Na correria dos pés

No galope do coração

A partir de hoje sou tambor

De alguém que corra seus dedos sobre mim

Ou bata com força até escorrer vinho e sangue

E derramar estrelas

Com o coro cru que me envolve

A partir de hoje sou pele

De acordar quem dorme