[Maria do Rosário Pedreira]

Em Portugal, ainda não é significativo o número de autores que se autopublicam e, sobretudo, ainda não é de modo nenhum mensurável o sucesso que alcançam com os respectivos livros. Às vezes, há textos que se destacam em blogues e as editoras tradicionais contactam os seus autores com vista à publicação de um livro em papel, mas, na generalidade, nenhum editor (e faço aqui o meu mea culpa) está suficientemente atento aos livros autopublicados digitalmente e anda à procura de autores nesse espaço infindo que é a Internet (falta de hábito e falta de tempo, diria eu). Noutros países, porém, essa prática é comum (nos países anglo-saxónicos, sobretudo) e as fatídicas 50 Sombras de Grey são apenas um de muitos exemplos de obras autopublicadas, e posteriormente descobertas por grandes editoras, que atingiram níveis de sucesso incalculáveis. Pensava que todos os escritores que se autopublicam queriam, no fundo, chegar um dia a ser publicados por uma chancela de renome. Leio, porém, num site de notícias sobre edição digital que nem todos procuram o reconhecimento que uma editora consolidada lhes pode oferecer, uma vez que se sentem confortáveis por controlar em tempo real as vendas dos seus livros e receber, se for o caso diariamente, os proveitos delas decorrentes. Têm igualmente a ideia de que, sendo os únicos proprietários dos direitos, estão livres de baixar o preço quando bem o entenderem se, por exemplo, verificarem que a obra não está a ser comprada – o que, de modo nenhum, poderiam fazer se a editora tivesse fixado ela própria um preço (menos ainda se nesse país houvesse a lei do preço fixo). Julguei que era importante para os escritores o reconhecimento do interesse e da qualidade dos seus livros por alguém reputado; mas, pelos vistos, neste mundo de números em que vivemos, o dinheiro conta mais...