[Maria do Rosário Pedreira]

Há muita gente que gosta de ter a assinatura do autor no seu exemplar do livro e espera, se for preciso, tempos infindos numa fila para o conseguir. Basta ir à Feira do Livro de Lisboa e observar a multidão que se reúne para um autógrafo do consagrado António Lobo Antunes ou do mais jovem José Luís Peixoto, que consegue a proeza de assinar por vezes duzentos livros numa tarde. Houve, porém, um autor que era avesso a tal prática. Chamava-se Miguel Torga e simplesmente recusava escrever dedicatórias nos seus livros. Contaram-me durante as últimas Correntes d’Escritas que, um dia, Mário Soares lhe levou um livro para autografar e Torga lhe terá dito que não assinava livros para ninguém, pelo que não abriria a excepção. Anos mais tarde, contudo, o mesmo Mário Soares terá encontrado por acaso num alfarrabista uma primeira edição de uma das obras do escritor-médico autografada para a jornalista e escritora Maria Archer. Comprou-a e, assim que pôde, confrontou Torga com aquela realidade. Ao que este lhe terá dito que as pernas de Maria Archer não se podiam comparar com as suas...