Alguns leitores do Língua Brasil têm perguntado se é correto o uso concomitante de auto e se, como em autobiografar-se, autossugestionar-se e autodesmamar-se (ver Mural de Consultas nº 389). Afinal, não têm aqueles dois termos o mesmo sentido?


O prefixo auto significa “si mesmo, (de) si mesmo, (por) si próprio”. No entanto, autobiografar não funciona sem pronome reflexivo. É inviável, é ingramatical dizer: *Fulano autobiografou, porque autobiografar necessita de complementação, de um objeto direto que represente a mesma pessoa do sujeito. E esse complemento não pode ser auto, que é uma forma presa ao verbo – sendo elemento mórfico, é inapto a exercer função sintática. Necessita-se, portanto, do pronome para tomar o posto de objeto reflexivo.


Já estão dicionarizados muitos outros verbos em que se observa um processo de redundância necessário, como autoanalisar-se, autoafirmar-se, autossugestionar-se, autopunir-se, autorretratar-se. O simples analisar-se ou afirmar-se, por exemplo, não traz o ingrediente científico especializado do termo autoanálise ou autoafirmação da Psicologia e Psicanálise. Da mesma forma, pode-se contrapor sugestionar-se a autossugestionar-se, percebendo-se em cada verbo uma carga semântica diferente.


--- É verdade que não posso dizer "a somatória das parcelas é tanto"... que somente posso dizer "o somatório das parcelas é tanto"? Não existe somatória (feminino)? E. A., São Paulo/SP 


É verdade, sim. Embora soma seja palavra feminina, o que devemos usar é um somatório, o somatório, que podemos relacionar a "o conjunto", mais do que a "a soma".


--- Gostaria de saber por que o nome Luiz não é acentuado e Luís é acentuado. Gema Ester Fagundes, Novo Hamburgo/RS


As palavras oxítonas terminadas em iz ou oz, como Luiz e Queiroz, não precisam do acento para informar a tonicidade na última sílaba, diferentemente de quando se escreve com s: Luís e Queirós. Confira a regra em outros exemplos: albatroz (mas: retrós), matriz, juiz, raiz (distinto de país).


--- Gostaria de saber a pronúncia correta das palavras hindi e urdu e a regra gramatical que serve de base. Inês, São Paulo/SP


A grafia constante no Vocabulário da Academia Brasileira de Letras (VOLP 2009) e seguida pelo dicionário Aurélio é hindi – não havendo acento gráfico, é palavra oxítona, portanto com a sílaba forte no “di”. Já o dicionário Houaiss acentua híndi, que assim tem a primeira sílaba forte, e traz a variante índi, já que em português não se pronuncia o h. E urdu, assim como chuchu, tatu, peru, é oxítona terminada em u, motivo pelo qual não é acentuada.