Atravessar florestas
Por Rogel Samuel Em: 03/11/2008, às 06H11
Diz Baudelaire que a natureza faz o homem através de vivos pilares das árvores e é lá que ouvimos aquelas vozes da unidade, os rumores que cantam os perfumes do nosso destino, através de nossos símbolos, dos nossos sentidos, das nossas estradas que têm a mesma extensão da expansão do universo. Baudelaire é, aqui, o poeta da grandeza, da mais vasta escuridão e larga claridade.
Correspondências
A Natureza é um templo onde vivos pilares
Podem deixar ouvir confusas vozes: e estas
Fazem o homem passar através de florestas
De símbolos que o vêem com olhos familhares.
Como os ecos além confundem seus rumores
Na mais profunda e mais tenebrosa unidade,
Tão vasta como a noite e como a claridade,
Harmonizam-se os sons, os perfumes e as cores.
Perfumes frescos há como carnes de criança
Ou oboés de doçura ou verdejantes ermos
E outros ricos, triunfais e podres na fragrância
Que possuem a expansão do universo sem termos
Como o sândalo, o almíscar, o benjoim e o incenso
Que cantam dos sentidos o transporte imenso.
BAUDELAIRE, Charles. As Flores do Mal. São Paulo: Círculo do Livro, 1995. Tradução, posfácios e notas de Jamil Almansur Haddad.