ELMAR CARVALHO

 

Tarde após tarde, a idosa, com muita dificuldade, arrastava a cadeira em que costumava sentar-se à porta do abrigo para idosos. Vendo quanto era penoso o esforço da anciã, um vizinho se dispôs a ajudá-la na condução da cadeira, mas ela recusou o auxílio:

– Não, por favor, não me ajude não. Eu quero que os meus filhos vejam que eu ainda posso puxar a minha cadeira.

 

A velhinha ali ficava, às vezes com o olhar perdido, mergulhado nas profundas sombras de uma tristeza infinita; às vezes, a perscrutar determinado ponto, de onde supunha surgiriam seus filhos. Ficava nessa ocupação solitária e paciente até o encerramento melancólico do espetáculo do crepúsculo, quando se recolhia a arrastar sofridamente a cadeira. Era sempre assim. E tarde após tarde, crepúsculo após crepúsculo, os filhos nunca apareciam.

 

Como estivesse há várias semanas sem ver a anciã, o vizinho estranhou essa ausência prolongada, e foi perguntar a um dos moradores da casa o que acontecera. Soube então que a velhinha falecera. Contaram-lhe que ela fora deixada no abrigo por dois filhos, que lhe prometeram vir visitá-la, sempre que possível, mas que nunca cumpriram a promessa. Era por isso que ela, ao entardecer, ansiava pela visita deles, e os esperava em vão, porém sem nunca perder a esperança de reencontrá-los, para lhes abraçar, e matar a saudade que estava lhe matando.

 

A pessoa que recebeu o visitante, conduziu-o até o quintal, e lhe mostrou uma roseira, em plena floração. As rosas se abriam em todo o seu esplendor, e delas recendia um perfume suave e maravilhoso. O morador do abrigo esclareceu:

– Foi ela quem plantou a roseira, para dar aos filhos uma coroa de rosas, quando eles lhe viessem visitar. Plantou a roseira para que eles sentissem que ela sempre os amara, e jamais os esquecera. Jamais se queixou dos filhos. Nunca disse que eles foram ruins ou ingratos.

 

Todavia, os filhos nunca vieram, e portanto nunca as flores lhes foram dadas. Aquelas rosas vermelhas pareciam o símbolo vivo e ardente do amor da velha mãe, e ficaram a denunciar a ingratidão filial. Esse caso me foi contado por minha mulher, que o ouviu em uma palestra religiosa. O pregador foi a testemunha que presenciara a dedicação inglória da anciã, na frustada espera dos filhos ingratos, que a internaram e abandonaram naquela casa de caridade, em que estranhos, como bons samaritanos, cuidaram dela.