Bruna Franchetto, do Museu Nacional da UFRJ, escreve sobre elas.
Savuru era um espírito que possuía duas esposas. A pedido dos irmãos Sol e Lua, que as cobiçavam, as ariranhas o mataram, ficando sua esposa mais velha com o sol e a outra com a lua. Seguiram então os casais em direção à aldeia de Kanutsipei. Durante o caminho, os irmãos encontraram dificuldades e necessitaram da ajuda de outros espíritos: Iumulumulu lhes curou a impotência, Ierêp fez com que neles nascesse o ciúme das esposas e, uma vez cansados, pediram a Uiaó algo que os fizessem adormecer. No dia seguinte, dispostos, retomaram a caminhada. Chegando ao local pretendido, estavam sedentos e pediram água a Kanutsipei.
A água, porém, estava suja. O irmão Lua, tomando a forma de um beija-flor, voou rapidamente à procura de boa água. Ao voltar contou-lhes que o espírito os enganara, mantendo escondidos muitos potes com a mais pura água. Contrariados, os casais retornaram a sua aldeia, contando a todos o que ocorrera. O Sol e a Lua uniram-se a vários espíritos, Vanivani, Iananá, Kanaratê, os zunidores Hori-hori, invocando também os espíritos das águas que habitavam a copa do Jatobá. Chamaram ainda as máscaras Jakui-katu, Mearatsim, Ivat, Jakuiaép e Tauari. Reunidos, dançaram e resolveram voltar à aldeia de Kanutsipei para tomarem posse de sua água, quebrando todos os potes, conduzindo-a a outras regiões. Mearatsim, o primeiro a chegar, cantou para espantar o dono do local.
Chegaram então os outros espíritos, à medida que os potes foram quebrados, formou-se ali uma grande lagoa, de onde cada um dos espíritos criou um rio. Assim, o Sol criou o Rio Ronuro; Vani-vani formou o Rio Maritsauá; Kanaratê, o Paranajuva; Tracajá, o Kuluene e Iananá, um afluente do Ronuro. A formação dos rios não agradou ao Sol, pois todos corriam para o Morena, a região sagrada dos espíritos. Iniciou-se ali uma grande confusão, em meio à qual a Lua foi engolida por um grande peixe. O Sol, desesperado, saiu à procura do irmão, no ventre dos peixes que encontrava. Chegou a capturar o Tucunaré, o Matrinxã, o Pirarara e a Piranha. Mas havia sido o Jacunaum que a engolira, informou o Acará. E ambos, unidos, partiram à caça do peixe.
Pediram a Tapera (andorinha do campo) que lhes conseguisse um grande anzol, ocultando-o num charuto. O Acará nadou à procura de Jacunaum, oferecendo-lhe fumo. Desta maneira, o Sol conseguiu fisgá-lo. Entretanto, dentro do peixe, restavam apenas os ossos de seu irmão. Desejando ardentemente que a Lua revivesse, o Sol arrumou no chão seu esqueleto, cobrindo-o com as folhas perfumadas do Enemeóp. Aos poucos, como por encanto, a carne foi surgindo, revestindo os ossos até formar um novo corpo. Faltava-lhe ainda a vida. O Sol então introduziu um mosquitinho em sua narina, provocando-lhe um espirro, que a fez finalmente despertar. Assim foram criados os rios e, a partir daí, iniciou-se a prática da pajelança, tendo sido o Sol o primeiro pajé".
(http://contosdocovil.wordpress.com/2008/11/06/iamulumulu-a-formacao-dos-rios/)
AS LÍNGUAS INDÍGENAS
O desenvolvimento das pesquisas de ciências como a antropologia, a etnologia e a linguística permite que tenhamos hoje informações e conhecimentos profundados a respeito das populações indígenas que vivem no Brasil. Infelizmente, é raro que essas informações e esses conhecimentos circulem fora dos ambientes académicos, onde trabalham os pesquisadores especializados.
É frequente encontrarmos perguntas e afirmações contendo erros e equívocos,
expressando preconceitos ou imagens estereotipadas, que nada têm a ver com a realidade indígena. Fala-se de ‘índio’, uma palavra geral e genérica, no singular, como se existisse somente uma sociedade ou um tipo de população indígena. Frases como ‘o índio mora em ocas’, ‘o índio come mandioca’ etc, pretendem afirmar que todos os índios são iguais e vivem da mesma maneira.
Esse ‘índio genérico’ é contraposto aos civilizados, aos membros de nossa sociedade, moderna e complexa.
A humanidade é formada por homens iguais entre si, na medida em que pertencem à espécie humana e, ao mesmo tempo, diferentes, na medida em que são muitos os povos e que suas culturas são bem distintas.
Todo ser humano tem a capacidade de falar uma língua. Cada língua tem suas características gramaticais e de vocabulário e cada sociedade tem uma própria maneira de usar sua língua. E cada sociedade, por sua vez, tem suas próprias características culturais, sua visão de mundo, ou seja uma maneira especial de ver, por meio do conhecimento, as coisas do mundo humano e natural. Ao pensar na humanidade, precisamos sempre pensar na sua unidade e, ao mesmo tempo,
na sua diversidade. A antropologia é uma ciência que estuda exatamente isso: os homens, as sociedades e as culturas, as raízes das semelhanças e das diferenças.
Não podemos, então, falar de ‘índio’, no singular, mas sim de ‘povos, sociedades ou culturas indígenas’, povos que vivem neste Brasil há muito tempo, muito antes de os europeus chegarem; são eles os donos originais da terra à qual os europeus deram o nome de ‘Brasil’.
diversidade étnica
A diversidade cultural e social dos indígenas brasileiros é extraordinária. Cada etnia tem suas características linguísticas, um modo próprio de se organizar em sociedade, de pensar e de conhecer o mundo natural e sobrenatural ou espiritual.
Atualmente, há apenas dois estados brasileiros nos quais não vivem populações indígenas:
Piauí e Rio Grande do Norte.
A maior parte das etnias habita na Amazónia Legal, região que inclui nove estados (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Pará, Tocantins e Mato Grosso).
Algumas etnias possuem uma população numerosa. Por exemplo, no noroeste do estado de Amazonas temos 23 mil índios tikuna (ou ticuna), dos quais outros 10 mil vivem na Colômbia e no Peru; e quase 3 mil tukano, dos quais também há mais de 6 mil vivendo na Colômbia. Os terena, no Mato
Grosso do Sul, são mais de 15 mil; cerca de 15 mil makuxi (ou macuxi) vivem em Roraima, e mais de 8 mil habitam a Guiana Inglesa. São 4 mil os kayapó dos estados de Mato Grosso e Pará.
No extremo oposto, há etnias muito pequenas, que sobrevivem com os poucos remanescentes de povos outrora numerosos: por exemplo, seis arikapu em Rondônia, 43 apiaká em Mato Grosso, 15 kwazá em Rondônia. Muitas vezes, pequenas etnias se juntam a outras maiores, para conseguir sobreviver e crescer.
Em várias aldeias vivem pessoas pertencentes a mais de uma etnia nas quais se fala em consequência, mais de uma língua. Por exemplo, nas aldeias dos waiwai, no Amazonas, vivem também os xereu, os katuena e os mawayana, todos falantes de línguas karib; e os warekena, de língua aruák.
Há ainda situações em que povos distintos formam um sistema social multiétnico (muitas etnias) e multilíngue (muitas línguas), com várias aldeias. Um exemplo conhecido ocorre no Alto Xingu, no Mato Grosso. Ali, ao longo de pelo menos cinco séculos, povos de língua aruák (como os mehinaku, os waurá e os yawalapíti), outros de língua karib (como os kuikúro, os kalapálo, os matipú e os nahukwá), e outros ainda de língua tupi (como os kamayurá e os awetí) passaram a ter relações amistosas, de paz, fazendo alianças, trocando artefatos, casando-se entre si e celebrando rituais em conjunto.
Os povos do Alto Xingu passaram a compartilhar histórias (que nós chamamos de mitos), formas de parentesco e de organização familiar, festas, crenças, hábitos alimentares, técnicas agrícolas, artes e artesanato,desenvolvendo assim uma história em comum. Não obstante, cada povo do Alto Xingu continua mantendo sua própria identidade, sua língua, seu território e suas especialidades na fabricação dos objetos que usam como meio de troca e que circulam por todas as aldeias. Sistemas sociais como o do Alto Xingu, que inclui grupos parecidos, mas não iguais, existem em outras partes do Brasil e constituem verdadeiras redes de comunicação entre etnias distintas.
A grafia dos nomes indígenas que utilizamos aqui obedece aos critérios da Associação Brasileira de Antropologia; o princípio básico consiste em transcrever na escrita alfabética os sons das línguas originais.
A maioria dos nomes que usamos não corresponde às denominações que os próprios povos indígenas utilizam para se referir a si mesmos; foi dada pelos conquistadores, ou pelas populações não indígenas que moram na região. Muitas vezes são nomes que os brancos ouviram de outros povos (como txukarramãe, nome pelo qual são conhecidos os metuktire, povo kayapó); ou inventaram a partir de alguma característica (como cinta-larga, beiço-de-pau); ou são nomes de aldeias (como kuikúro, uma aldeia antiga que foi habitada no século passado pelos lahatuá ótomo, no Alto Xingu).
A maioria dos brancos – com exceção de pesquisadores antropólogos, ou linguistas – não sabe as línguas indígenas e nem se interessa em investigar a maneira pela qual o povo se autodenomina. Como diz o antropólogo Beto Ricardo, “nem sabemos o nome deles”.
A diversidade linguística
Outra informação errada que encontramos com frequência é que “o índio brasileiro é tupi”, ou que “os índiosfalam tupi (ou tupi-guarani)”. Também ouvimos dizer que os índios falam dialetos, e não línguas. Ou se usa o termo ‘idioma’ para se referir a uma língua indígena.
Aqui, mais uma vez, transparecem consequências da ignorância e do preconceito. Assim como não há um índio genérico, mas muitas etnias indígenas distintas, também não há apenas uma língua indígena.
Todo ser humano nasce com capacidade de falar uma língua. Não existe sociedade humana sem língua e não existe indivíduo que não possa adquirir e chegar a falar plenamente a língua de seu povo – a menos que tenha problemas físicos.
Uma vez exposto a seu meio linguístico, qualquer ser humano adquire uma língua; e pode aprender outras, ao longo da vida. E toda língua é uma estrutura complexa que compreende:
•um sistema que organiza os sons (os linguistaschamam de sistema fonológico);
•um sistema que permite a construção de palavras (que os linguistas chamam de sistema morfológico);
•regras e princípios que permitem construir frases e discursos (que os linguistas chamam de sistema sintático).
O ser humano sabe usar sua própria língua para expressar pensamentos, emoções e sentimentos, desejos e intenções; sabe usá-la com sucesso para se comunicar satisfatoriamente com os outros, e até para persuadir, enganar e mentir; sabe usá-la para construir discursos políticos, criar, fazer poesia, narrativas, cantos, rezas, descrições e relatos.
As línguas indígenas são línguas no sentido pleno do termo, como qualquer outra língua falada no mundo.
Nao existem línguas mais pobres ou mais ricas; línguas com poucas palavras ou com vocabulário extenso; línguas sem gramática, ou com gramática simples, em oposição a línguas com gramática complexa; ou línguas com sons esquisitos e outras com sons normais.
Não existe língua primitiva. Toda língua é completa e rica, servindo plenamente para todos os usos que dela se possa fazer.
As línguas naturais humanas mudam no tempo, e cada uma tem sua história. Elas incorporam palavras emprestadas (empréstimos linguísticos) de outras; além disso, com o tempo, seus sistemas gramaticais se modificam. O tempo da mudança linguística é longo, trata-se de um processo que ocorre
muito lentamente.
Uma língua apenas desaparece se desaparecerem seus falantes: ou fisicamente, em consequência de genocídio (como aconteceu com muitas etnias indígenas a partir da conquista por parte dos europeus), ou culturalmente, quando seus falantes são assimilados à força por outro povo mais forte, dominador e colonizador. Na história brasileira da colonização, muitos povos indígenas foram submetidos a esses processos de assimilação, sendo com frequência proibidos de falar suas línguas nas missões ou nas escolas. Não obstante, o Brasil indígena continua a ser um país multilíngue.
Etnias e línguas
Existem no Brasil cerca de 210 etnias e 170 línguas indígenas ainda faladas, sendo que a grande maioria se concentra na Amazónia Legal. A diferença entre número de etnias e número de línguas se deve a dois fatores. O primeiro é que há etnias que falam varian-tes dialetais de uma mesma língua. Cabe aqui a pergunta: qual a diferença entre língua e dialeto?
Quando dois indivíduos declaram que estão falando diferente (o que é perceptível tanto por quem não conhece a língua, quanto pelos linguistas que querem estudá-la), mas podem se comunicar e se entender com facilidade, ou seja, há entre eles inteligibilidade mútua, temos dois dia-letos, ou duas variantes dialetais da mesma língua.
Quando não há inteligibilidade mútua, estamos diante de línguas distintas, mesmo se os falantes (ou nós que estamos ouvindo, ou o linguista que estuda) percebem semelhanças entre ambas.
Por exemplo: no Alto Xingu, *os kuikúro, os kalapálo, os matipú e os nahukwá falam variantes dialetais de uma mesma língua, que é da família karib. Essas variantes se distinguem pelas denominações diferentes de um mesmo objeto: cesto é atáu em kalapálo e nahukwá, e tatohongo em kuikúro {as letras ng são pronunciadas com o mesmo som de nossa letra ‘n’ antes de ‘gT na palavra ‘manga’).
Outra diferença se nota ao prestar atenção ao ritmo das falas. É o que ocorre com os ritmos diferentes (sotaques) que caracterizam as variantes do português falado por nordestinos e por gaúchos, por exemplo.
Mais um fator faz o número de etnias ser maior que o de línguas: alguns povos indígenas deixaram de falar suas línguas de origem, ao sofrer uma história muito violenta de colonização.
Contudo, o fato de não falarem mais suas línguas originais não significa que tenham deixado de ser índios; eles se reconhecem e são reconhecidos como índios, com organizações sociais e culturas distintas entre si e diferentes, ao mesmo tempo, da sociedade não-indígena envolvente.
É o caso de alguns povos que habitam o Nordeste brasileiro, remanescentes dos que ocupavam a costa atlântica e foram os primeiros a sofrer os efeitos da coIonização, como os kariri de Alagoas e Ceará, os pan-kararu de Pernambuco, ou os pataxó da Bahia. Atual-mente, vários desses povos estão querendo reaprender sua língua, ou aprender outra de algum povo vizinho. Os pataxó, por exemplo, procuram saber o que ainda existe de documentação de sua própria língua, pertencente ao tronco jê, ou visitam os maxakali em Minas Gerais, que também falam uma língua jê.
Classificação das línguas indígenas
Falamos de línguas karib, jê, tupi. O que quer dizer isso? Com base em semelhanças de vocabulário e, às Fvezes, até de gramática, as línguas indígenas faladas no Brasil se agrupam em famílias e as famílias se agrupam por sua vez em troncos linguísticos. Há também línguas que os linguistas chamam de ‘isoladas’, que não pertencem a uma das famílias linguísticas conhecidas.
A linguística dedicou, e continua dedicando, muito estudo ao que chama de classificação genética das línguas indígenas. O linguista compara listas de palavras de línguas diferentes para ver se pertencem a uma mesma família. Compara também línguas de uma mesma família com outras de outra família, para ver se há semelhanças suficientes para considerar que tais famílias pertencem a um mesmo tronco.
Supôe-se que, assim como diferentes dialetos se formaram pelo fato de os falantes de uma mesma língua se dividirem em grupos que foram se distanciando para habitar regiões diferentes, o mesmo deve ter acontecido com línguas pertencentes a uma mesma família ou a um mesmo tronco.
Quando fala em família linguística, o linguista está dizendo que as línguas dessa família têm uma origem comum; houve uma língua-mãe que, em tempos anigos, pertencia a uma etnia só. Depois, ao longo de centenas de anos, foi se dividindo em povos que migraram para outras regiões e, na maioria dos casos, deixaram de ter relações entre si, ou mantiveram relações esporádicas.
A história das línguas e de suas mudanças no tempo é um assunto fascinante. Supõe-se que a língua-mãe de um tronco linguístico, composto de famílias, tenha existido, com o povo que a falava, em um passado bem longínquo, talvez na pré-história. Os povos foram crescendo, se dividindo, migrando e povoando territórios;
uas línguas foram mudando e se diversificando.
O tronco tupi, o maior e o mais conhecido, inclui dez famílias, e cada uma agrupa várias línguas; em algumas delas há diferentes dialetos (veja o diagrama da página 13).
A língua que os missionários jesuítas estudaram nos séculos 17 e 18 era o tupinambá, também conhecido como tupi antigo; pertencia à família tupi-guarani, do tronco tupi. A família tupi-guarani, a mais famosa, inclui umas vinte línguas e a língua guarani, por exemplo, possui vários dialetos. Encontramos línguas tupi em quase todo o território brasileiro, de norte a sul e de leste a oeste.
O tronco macro-jê é também grande e importante, com nove famílias (diagrama à esquerda).A família das línguas jê é a maior, com cerca de 25 línguas. Elas são faladas no Centro-Oeste, no sul (o kaingang e o xokléng), no Pará e na Amazónia meridional. O kayapó, uma língua jê falada no sul do Pará e no norte de Mato Grosso, possui muitos dialetos.
As famílias karib e aruák não constituem troncos; a cada uma delas pertencem várias línguas.
As línguas karib {diagrama abaixo) são faladas no norte da Amazónia e ao sul do rio Amazonas, ao longo do rio Xingu.
As línguas aruák (diagrama abaixo) estão no norte e noroeste da Amazónia e também no sul da Amazónia, em Mato Grosso e até no Mato Grosso do Sul -como a língua terena, que tem muitos falantes.
Existem diversas famílias pequenas (diagramas à direita). A família pano se encontra no Acre e no sudoeste da Amazónia. A família arawá, bem próxima da aruák, é falada sobretudo no oeste amazônico (Rondônia).
O mesmo acontece com as línguas da família txapakúra, faladas também na zona fronteiriça entre Brasil e Bolívia. As línguas da família tukano são faladas no noroeste da Amazónia. A família yanomami tem quatro línguas faladas nas regiões de fronteira entre Brasil e Venezuela. A família katukina está na Amazónia.
Há famílias como a guaikuru, que tem um único representante no Brasil – o kadiwéu, no Mato Grosso do Sul -, mas é falada também na região do Chaco paraguaio e argentino.
Existem três línguas da família nambikwara no norte de Mato Grosso e no sul de Rondônia.
Da família mura só restam os falantes da língua pirahã, na Amazónia. Há também línguas isoladas que, como dissemos, parecem não ter parentesco com outras
línguas ou famílias:
•Aikaná (RO)
•Arikapú RO)
•Irántxe (ou Mynky, MT)
•Jaboti (RO)
•Kanoê (RO)
•Koazá (RO)
•Máku (RR)
•Trumái (MT)
•Tikúna (AM)
A língua geral, ou nheengatú Em algumas regiões da Amazónia, como no baixo Tocantins, no baixo Tapajós, nos vales dos rios Negro e Solimões, Uaupés e Içana, a população indígena e a ribeirinha em geral falam o nheengatú, também conhecido como ‘língua geral’, que tem sua base em línguas da família tupi-guarani.
0 nheengatú tem uma história interessante, pois descende do tupinambá, a língua tupi-guarani mais falada na costa do Brasil na época da conquista, e foi a língua da colónia, utilizada pelas populações indígenas remanescentes submetidas ao jugo colonial por missionários e militares.
A preservação
Como todas as línguas minoritárias, as línguas indígenas sofrem ameaças de extinção, pois seus próprios falantes correm o risco de desaparecimento físico ou cultural. Toda vez que uma língua deixa de existir, o mundo fica mais pobre, em sua diversidade.
Atualmente vem se buscando praticar no Brasil uma política de preservação e de defesa das línguas indígenas, combatendo o preconceito, incentivando a pesquisa e o estudo, fazendo com que a alfabetização seja na língua materna das crianças, nas escolas indígenas. Nessas escoIas, as línguas indígenas começam a entrar no currículo de disciplinas básicas e são utilizadas para o ensino.
A mudança da política oficial fez com que se criasse, no Ministério da Educação, uma assessoria especial para as escolas indígenas. Além disso, há diretrizes para a adoção do ensino bilíngue e da interculturalidade, uma maneira de concretizar o respeito à diversidade linguística e cultural que os povos indígenas representam.
A mudança na política educacional oficial aconteceu sobretudo graças às reivindicações de povos indígenas que já têm escola, ou que querem frequentar escolas, e ao trabalho de algumas instituições não-governamentais.
Nas escolas indígenas bilíngues se usa tanto o português como a língua do povo que habita a região. Se a mesma escola for frequentada por falantes de várias línguas diferentes, haverá aulas em todas elas.
Hoje, muitos povos indígenas são bilíngues (falam duas línguas) ou até multilíngues (falam mais de duas línguas). A maioria dos bilíngues fala em sua própria língua e em português. Existem povos que só falam sua língua e outros ainda que estão aprendendo na escola a língua de seu povo, que estava deixando de ser utilizada, sobretudo pelos mais jovens.
Para saber mais sobre línguas indígenas
RODRIGUES, Aryon DalHgna. Línguas Brasileiras. Para o conhecimento das línguas indígenas. Loyola, São Paulo, 1986.
—- . “Línguas indígenas: 500 anos de descobertas e perdas”,
Ciência Hoje, 16: 95, novembro de 1993 (pp. 20-26).
URBAN, Greg. “A história da cultura brasileira segundo as línguas nativas”, in Carneiro da
Cunha (org.), História dos índios no Brasil. São Paulo, Fapesp/ SMC/Cia, das Letras, pp.
87-102, 1992.
Lugares em que são feitas pesquisas sobre as línguas indígenas no Brasil
Museu Nacional, Setor de Linguística, Universidade Federal do Rio de Janeiro
instituto de Estudos da Linguagem (IEL), Universidade de Campinas {São Paulo)
Museu Paraense Emílio Goeldi, Setor de Linguística, Departamento de Ciências Humanas, Belém (Pará)
Universidade de Brasília, Departamento de Línguas Vernáculas
Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal do Pará
Bruna Franchetto Museu Nacional/UFRJ-CNPq".
(http://www.indiosonline.org.br/novo/as_linguas_indigenas_1/)