Cunha e Silva Filho


        Só quem já sofreu injustiça sabe o quanto ela machuca, decepciona, acabrunha, causa indignação e é deletéria. Entre os males humanos, a injustiça é a que provoca mais censura em qualquer parte, em qualquer circunstância da vida.
       A ação injusta penetra todos os ângulos da vida social, coletiva, comunitária, nacional e internacional. Veja-se um exemplo típico: a injustiça da fome mundial ainda neste quinze anos iniciais do século. Em regiões da África, das Américas (incluindo o nosso Brasil) grassa como um câncer, ceifando sobretudo crianças, animais, o homem. Este quadro de desumanidade se torna mais reprovável, para dizer o mínimo, quando sabemos que a riqueza do planeta Terra está nas mãos de 1% dos chamados milionários!
        Temos organismos internacional para cuidarem da diminuição da pobreza, ou melhor, dos que se situam abaixo do nível desta? Sim temos, e, por mais que façam, o mal da fome resiste. A razão primaria para esse permanente estado de miséria não é fácil de localizar: encontra-se no fator econômico, ou seja, nas desigualdades criadas pelos sistemas de governo das nações, pelo descaso global contra a educação mundialmente considerada pelos organismos internacionais, pelos desvios de dinheiro através da corrupção generalizada, sobretudo em países de baixo nível de escolaridade.
     Outros fatores pelos quais a fome não foi ainda extirpada em tempos de progresso e tecnologia tão complexos e avançados - contradição extrema! - podem ser identificados na questão do individualismo dos países, nos gastos com armamentos de ponta que só servem a um fim : a destruição da Terra. Falta, a meu ver, um gigantesco projeto supra-nacional que se encarregaria de estudar com profundidade sem condicionamentos políticos, ideológicos e religiosos. É factível isso? É, sim.
     O tratamento que agora se deveria dar aos problemas gravíssimos mundiais tem que passar por questões envolvendo o meio-ambiente, a climatologia, o espírito desideologizado e uma mente global insubmissa às contingências fortemente nacionalistas. É claro que não estou advogando a ideia de que o planeta seja conduzido por um órgão que determinasse e se imiscuísse na soberania dos povos, mas um organismo supra-nacional que fosse presidido apenas pelo espírito de natureza humanitária, sem populismos, sem laivos de imperialismo ou de grande potência dominadora como no século passado tivemos e mesmo de formas diferentes, em séculos da História dos povos.
    Eliminar ou amenizar suficientemente a injustiça, creio, teria que passar por essas mudanças de cunho humanístico na condução dos destinos do homem no mundo.
    Esquecer a gravidade do problema da fome, da pobreza, da injustiça, enfim, considerada em todas as suas manifestações – e são inúmeras - infra-estrutura do Estado, saúde, educação, a questão da violência, a impunidade, a infância abandonada, a desagregação familiar, a corrupção, a politicagem, a incompetência de governantes, a desídia em lidar com a coisa pública, a malversação do dinheiro público, o individualismo exacerbado das pessoas de alto padrão de vida, o consumismo excessivo, a falta de uma dimensão espiritual ("the missing dimension") de que falou um passtor  ameericano, Herbert W. Armstrong (1) que oriente os indivíduos a serem, desde a infância, pessoas dignas e honestas e solidárias, estaria na contramão de toda um comportamento das sociedades e dos governos fundamental à batalha contra as injustiças que podem se incrustar no emprego, na fábrica, no hospital, na escola, na universidade, nos tribunais, de justiça, nos esportes, nos estádios, quer dizer, a injustiça é um mal ubíquo instalado para destruir inocentes e humilhados em tempos de terror e espanto universais.

(1)ARMSTRNG, Herbert W. Autobiography of  Herbert W. Armstrong. v. 1 World  Church of God, 1986, USA, p. 646.